quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Proms 2009 e o "momento Brasil"

José Roberto Prazeres me enviou um link importante do YouTube. É a transmissão do último concerto do festival BBCC Proms 2009, em Londres. No programa, o "Choros 10", de Villa-Lobos, pela orquestra e coro da BBC, regência de David Robertson.



Que o Brasil está na berlinda mundial, ninguém questiona. A marola que Lula conseguiu emplacar, a escolha do Rio para as Olimpíadas 2016, o pré-sal, todas as expectativas em torno do crescimento do país nos próximos anos. Sem contar os de sempre: futebol, havaianas, MPB.

E a música clássica, como se beneficia desse "momento Brasil"?

Acho que esse "Choros 10" no famoso e lendário concerto da última noite do Proms é emblemático de um interesse renovado pelo Brasil, também nos clássicos.

Mais uma vez, claro que a Osesp e John Neschling têm dedo nisso. Graças ao CD que gravaram para o selo sueco BIS uns anos atrás, os gringos tiveram a chance de ouvir esta pepita musical.

domingo, 20 de setembro de 2009

concertos: gravar ou não gravar?

hoje fui assistir à orquestra sinfônica brasileira, com pianista ivo pogorelich e maestro roberto minczuk, na sala cecília meireles, no rio de janeiro.

antes do concerto começar, a gravação pedia que se desligassem os celulares.

pedido mais do que pertinente, ainda que nem sempre acatado.

também foi avisado não serem permitidas fotografias ou gravações sem autorização prévia.

pedido igualmente pertinente....mas anacrônico.

basta uma rodada rápida pelo youtube e fica óbvio que celulares (mesmo mudos) e câmaras digitais são usados no mundo inteiro para gravar trechos de concertos.

gravar pode implicar em infração dos direitos de autor e intérprete. mas, em um mundo descentralizado como o atual, momentos como o abaixo, com a cantora italiana cecilia bartoli encarnando uma cenerentola, vão parar no youtube com a velocidade da luz.



legalmente, não está certo. mas os fãs fazemos a festa.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

met: cinema como chamariz para palco

o metropolitan opera house de nova york enviou hoje mensagem para cadastrados com uma promoção.

o email lembra que membros da associação de amigos do met têm prioridade de compras para ingressos.

até aí, morreu neves.

marquei em amarelo o título da mensagem, que me chamou atenção.



"priority ticketing for 'live hd' and met performances" ("prioridade de compra para sessões ao vivo em hd e também no palco").

americano não dá ponto sem nó, em especial na comunicação comercial por email.

o fato das sessões de cinema virem em primeiro lugar no assunto da mensagem deve ter uma grande, enorme razão de ser.

vindo primeiro, elas são lidas antes e, por isso, funcionam como um chamariz melhor.

as sessões de cinema são infinitamente mais baratas do que os salgados ingressos para assistir no palco e devem esgotar com facilidade.

será que isso é bom ou é ruim para o negócio da ópera?

aniversários matematicamente clássicos

os próximos dias são muito importantes para a música clássica do brasil.

dia 9, celebram-se os dez anos de funcionamento da estupenda sala são paulo, na capital paulista.

dia 14, é o centenário do theatro municipal do rio de janeiro.

por um lado, impossível resumir em um post a importância das duas datas.

mas, sendo espaços musicais de tamanha relevância, comportam-se como fractais da matemática: uma mínima parte é semelhante ao objeto original.

ou seja, talvez uma palavra consiga expressar a dimensão do todo. vou me arriscar.

dez anos da sala são paulo: avanço

cem anos do theatro municipal do rio: manutenção

quinta-feira, 18 de junho de 2009

hoje, amanhã e depois

hoje foi dia de fechamento editorial da revista agenda vivamúsica! de julho e também dia de fazer rádio cbn ao vivo. ontem, além da produção editorial da revista, foi dia de produção-gravação do programa da tam, que irá ao ar em setembro e outubro.

trabalhar com comunicação às vezes tem dessas coisas, lida-se com o hoje, o amanhã e o depois de amanhã ao mesmo tempo.

por conta da revista, o mês que ainda leva 12 dias para chegar já é dado como findo. agosto está na mira.

por conta da cbn, onde procuro linkar o tema que comento com o noticiário, o que interessa é o impacto do agora ou do ainda há pouco. hoje mostrei uma orquestra do irã.

por conta da tam, já comecei a pensar na próxima seleção musical, que vai embalar os passageiros que voarão próximos às festas de fim de ano.

imediatista do jeito que o meio musical brasileiro é - em especial o carioca -, com suas pendências de informação e mudanças, trabalhar com antecedência torna-se desafio cotidiano.

paulínia 1 x 0 rio de janeiro

a partir de julho, começa em paulínia (sp) um circuito de música clássica pra lá de animado.

até novembro, serão oito concertos internacionais no novíssimo theatro municipal da cidade, além de recitais semanais de música de câmara. zubin mehta vai reger sua filarmônica de israel em dois concertos lá.

há a série "o theatro vai à escola", de concertos didáticos na rede municipal de ensino.

algo me diz que o placar do título não vai ficar só nisso.

terça-feira, 16 de junho de 2009

a rica holanda e o pobre rio de janeiro

a fala da diretora artística do contergebouw de amsterdam no congresso da ispa em são paulo, semana passada, tocou em um ponto de extrema relevância, lá, cá e em qualquer lugar.

ela comentava sobre o aumento da oferta de assentos de música clássica na holanda. em determinado período de tempo, a oferta aumentou em cerca de 10.000 assentos, devido à construção de novas salas e halls de concerto.

isso gerou uma concorrência para a qual o concertgebouw não havia se planejado. a população holandesa que se interessa por concertos agora tem que se dividir entre uma opção maior de clássicos do que há uma década.

o concertgebouw começou a enfrentar a questão de cadeiras vazias no teatro e precisou se movimentar.

fiquei pensando sobre a realidade em são paulo e no rio de janeiro, nos últimos dez anos, com relação a equipamentos culturais disponíveis para receber música clássica e como eles mudam a biosfera musical.

sem contar espaços menores, são paulo viu, nos últimos dez ou quinze anos, a construção da sala são paulo, do teatro alfa, do auditório ibirapuera e reforma do theatro são pedro.

isso estimulou a entrada de novos players no mercado, aumentou a oferta de programação clássica e, consequente, aumentou o patamar de cachês e remunerações pagos.

no pobre rio de janeiro, o que ocorreu de novo no mesmo período?

algum local para concertos foi construído? negativo. muitos foram remodelados? hum, não exatamanente. houve os que fecharam ou diminuiram sua oferta de programação clássica? sim, sim!

uma sala de concertos reestrutura o cenário cultural da cidade onde se localiza. não à toa o projeto da osesp sempre esteve atavicamente associado ao hall sinfônico que a abriga desde 1999.

enquanto isso, a cidade da música apodrece na maresia da barra da tijuca.

o que a diretora do concertbegouw teria a dizer a este respeito?

domingo, 14 de junho de 2009

cai reserva clássica em campos do jordão

o jornal "estado de s. paulo" publicou anteontem notícia sobre a volta de shows populares na temporada de inverno na cidade de campos do jordão, especialmente em julho.

nos últimos quatro anos, a gestão de joão paulo ismael (pmdb) na prefeitura preservou a cidade de shows de grande apelo popular. axé, sertanejo, forró e mesmo mpb ficavam de fora da pauta cultural de campos do jordão, somente no inverno.

o veto objetivava minorar os já tradicionais congestionamentos de trânsito nos dias mais frios do ano e também previnir problemas de segurança na cidade.

convenhamos: grandes shows populares atraem grandes massas de gente. o inverno fica a um peteleco de virar inferno.

e também, claro, havia a questão de deixar a música clássica brilhar sozinha, já que, há quatro décadas, campos do jordão abriga em julho o mais importante festival clássico do brasil, atraindo professores e estudantes de todo mundo.

a foto abaixo registra um ensaio da orquestra acadêmica formada por alunos e professores em campos do jordão, em 2005. o emperdigado maestro é roberto minczuk, claro.



pois a nova prefeita, ana cristina machado cesar (pps), reviu a proibição de seu antecessor.

no feriado de corpus christi, já houve show de ivete sangalo. "tem espaço em campos do jordão para agradar todos os gostos", disse a mandatária ao "estadão".

esta reserva de mercado para a música clássica em campos de jordão tinha lá sua razão de ser, mercadologica e socialmente falando.

já pensou se, durante o carnaval de parintins, o prefeito decide contratar zezé de camargo e luciano ou claudia leite para shows gratuitos? o que aconteceria com a festa carnavalesca do amazonense? esvaziaria, claro.

por que esvaziar o impacto da música clássica na cidade que, graças a tanto esforço, talento e dinheiro (não necessariamente nesta ordem), se transformou em sinônimo de clássicos? quem ganha com isso? quem perde com isso? êta assunto que rende.

sábado, 13 de junho de 2009

garrett dialoga com o rock



pouco convencional a pose acima, em se tratando de um violinista clássico.

mas, sendo o bonitão david garrett, com seu jeito rock star de ser, eis que o look faz todo sentido. trata-se de material de divulgação do novo disco "encore", totalmente rock'n'roll, no corpo e na alma.

veja a capa do dito cujo.



a fumaça de fundo e o tênis cuidadosamente desamarrado entregam o objetivo de garrett: dialogar com sua geração, usando a atitude rock'n'roll que ela tão bem conhece.

o alemão fez um disco em que o violino assume seu lado guitarra. não à toa o album foi gravado no estúdio electric lady, de jimi hendrix - que gostava mais de um fogo do que de fumaça, mas também se ajoelhava em tributo a instrumento (elétrico) de cordas.




no repertório, músicas das bandas metallica e queen, de michael jackson, outras compostas por ele mesmo, e uma leve pitada de música clássica, como as "quatro estações", de vivaldi.

aos 27 anos, david garrett guarda evidente semelhança física com kurt cobain, lider do nirvana morto com a idade que o violinista tem agora.







garrett esteve duas vezes no rio de janeiro, em 2005 (quando foi capa da revista agenda vivamúsica!) e em 2007. da primeira vez, eu o entrevistei rapidamente por telefone. e, claro, nas duas ocasiões ele foi parar nas páginas de moda dos jornais. o passado como modelo deixou o porte longilíneo e um certo charme canastrão. as groupies devem adorar.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

kuat, chevrolet e os clássicos

quando dois comerciais com mensagens iguais estão no mesmo break comercial em horário nobre da tv globo, é bom parar de zapear e prestar atenção à mensagem. o inconsciente coletivo está gritando algo.

primeiro foi "chevrolet: reiventar é preciso".

uns 30 ou 45 segundos depois, veio "kuat: é natural se renovar".

reinvenção e renovação são mesmo palavras de ordem destes tempos, sem dúvida frutos da barackiana "change we need" e da barata-voa provocada pela crise econômica.

até que ponto a música clássica entende como natural se renovar? será que os clássicos compreendem a reinvenção tão assertivamente como os executivos da chevrolet?

a crise mundial que atinge o setor de música clássica nos últimos anos tem sido tão devastadora quanto a retração de economias tidas até então firmes como o pão de açúcar.

hoje, no congresso da ispa em são paulo, achei curioso a diretora artistica do concertgebouw de amsterdam dizer que programas educativos e de participação são uma novidadade por lá. historicamente a casa sempre esteve cheia e os lugares vazios só começaram a aparecer recentemente. a necessidade de renovação entrou sem tocar a campainha.

acho que vou passar a servir kuat no qg da vivamúsica!. é o inconsciente coletivo gritando.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

o caminho é a organização

hoje foi o primeiro dia do congresso da ispa em são paulo.

em tempo: ispa (international society for the performing arts) é uma sociedade internacional voltada para as artes do espetáculo - música, dança e teatro - ativa há muitas décadas nos estados unidos e internacionalmente. são realizados dois congressos anuais. o principal acontece em nova york. no meio do ano, há outro menor que roda pelo mundo.

é a primeira vez que um congresso de meio de ano acontece na américa do sul.

em dezembro de 2000, quando 11 de setembro ainda era apenas uma data qualquer no calendário, participei do congresso anual de nova york.

naquela época e agora, os pensamentos que um congresso destes desperta guardam semelhança.

em 2000, lembro de ter voltado ao brasil certa que o caminho para o aperfeiçoamento do mercado de música clássica no nosso país passava pelo que os gringos, há muito, já vivenciam, que é a organização do setor com vistas a interesses comuns.

em 2009, a certeza só faz aumentar.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

silvio barbato, adeus

os músicos cariocas, os cariocas, o brasil e o mundo estamos estarrecidos com a tragédia aérea de 31 de maio que ceifou tantas vidas.

uma delas foi a do regente silvio barbato.

em meados dos anos 1990, quando vivamúsica! começava, conheci silvio. ele fazia uma especialização em chicago e, volta e meia, trocávamos email.

em 1996, ele foi capa da revista vivamúsica! ao lado de john neschling, que, na época, nem sonhava em assumir a osesp.



os anos se passaram, silvio voltou para o rio, assumiu o posto de regente-titular da orquestra sinfônica do theatro municipal. depois, assumiu a direção da orquestra sinfônica do teatro nacional em brasília.

ele era um homem movido a grandes ambições. lembro de um dia, quando voltávamos de um almoço na cinelândia, recém-indicado para o posto no municipal, ele apontou para a águia de ferro que abre as asas no teto do teatro e disse: "me sinto maior que ela".

em abril 2006, foi capa da revista "agenda vivamúsica!" com o diretor andré heller-lopes, quando fizeram a ópera "idomeneo".



após desligar-se das orquestras do rio e de brasília, ele esteve envolvido com
projetos especiais, como a ópera "o cientista", baseada na vida de oswaldo cruz; programas para o sesc e o ccbb em brasília; concertos na embaixada do brasil em roma; e, recentemente, um projeto chamado "trampa sinfônica", com banda de rock do distrito federal.

meses atrás, quando eu compilava dados para publicar os aniversário musicais do brasil em 2009 no anúário vivamúsica!, vi que silvio completaria 50 anos este ano. tentei algumas vezes falar com ele com vistas a checar a data para publicação. não consegui e publiquei a informação sem indicar o dia de nascimento. o do desaparecimento, nenhum de nós esquecerá.

domingo, 31 de maio de 2009

Dudamel 100 caracóis



O bonitão com ar de poderoso é o efetivamente poderoso regente venezuelano Gustavo Dudamel, de 28 anos.

Vi este anúncio na quarta capa da revista de programação mensal de uma casa de ópera européia.

Dudamel, famoso pelos caracóis de seus indomáveis cabelos, virou garoto propaganda do relógio Rolex usando gumex.

O venezuelano, discípulo do maestro José Abreu, foi indicado recentemente pela revista "Time" como uma das 100 personalidades mais influentes de todo o mundo.

No início desta década que finda, em 2002, Gustavo, então com 21 e ainda sem qualquer notoriedade, esteve de passagem pela Sala São Paulo, participando da etapa sul-americana do Maazel Vilar Conductors' Competition. Outros dois venezuelanos participaram daquela etapa, assim como os brasileiros Mateus Araújo, Rodrigo de Carvalho e Marcelo Ramos, e mais quatro candidatos. Todos regeram a Orquestra Experimental de Repertório. Dudamel emplacou uma vaga na final, mas não venceu o concurso.

Faz alguns anos que Gustavo Dudamel colhe louros de seu impressionante talento. Mas certamente só entrou na lista da "Time", desbancando muitos outros peixes grandes da cultura mundial, porque assume no segundo semestre a direção da Filarmônica de Los Angeles. Americanos privilegiam a prata da casa, todos sabemos.

A jornalista Renata Izaal, que trabalhou comigo em VivaMúsica!, viu recentemente o garoto Rolex em ação em Londres, com sua Orquestra Jovem Simon Bolivar, em dois concertos.

Assim ela resumiu a experiência: "Eles são pra lá de incríveis. Aliás, incrível nem é a melhor palavra. Mas, não sei dizer qual é - talvez não exista. Você não tem noção da transformação que eles realizam no espírito da platéia. Parecia que eu tinha mudado de cidade, de repente Londres ficou "caliente". Imagina uma orquestra tocando no Theatro Municipal com a platéia reagindo como se a Mangueira estivesse passando na avenida. É mais ou menos assim. Enfim, acho que eu poderia ir a um concerto deles todos os dias."

Eis o look do poderoso em uma daquelas inesquecíveis noites londrinas. Com caracóis e 100 Rolex. Cabelo liso na foto, só mesmo um naco do da Renata, contrastando com os cachos calientes.


quarta-feira, 25 de março de 2009

sala são paulo e as quatro consoantes

recebi email do leitor amaury borges sobre o fechamento da cidade da música determinado pelo prefeito do rio eduardo paes.

lá pelas tantas, o leitor vaticina:

Nós, nesta cidade, nos próximos 2 anos, se quisermos ouvir música de boa qualidade, teremos que visitar frequentemente a Sala São Paulo, onde a Música é levada a sério.

verdade seja dita, Música (maiúscula proposital) é mesmo levada a sério nos headquarters da osesp.

quem pisa na sala são paulo tem a certeza que, ali, o mundo sinfônico é respeitado, reverenciado e, principalmente, inserido à rotina da cidade. você nem precisa assistir a um concerto, basta acessar o hall de entrada. está no ar.

mas isso não foi obra e graça de mobilização social paulistana.

foi, sim, investimento político pesado, sintetizável em uma sigla de quatro consoantes: psdb.

desde 1995, com o governo covas, o psdb determina as prioridades de investimento em são paulo, via sucessiva eleição de seus governadores. são quinze anos de continuidade política, inclusive cultural.

antes de covas, o pmdb de fleury e orestes quercia permitiu que a osesp se esfacelasse.

longe de mim defender o tucanato ou o pmdb ou o pt. o sistema partidário político brasileiro é falido, todos sabemos.

a relação tucanato-politica musical séria em são paulo é evidente constatação. não à toa fernando henrique cardoso é presidente da fundação osesp.

o passo seguinte é a constatação da vulnerabilidade.

muito se comenta sobre a continuidade do projeto osesp sem john neschling. pouco se comenta sobre a continuidade do projeto osesp sem o psdb.

se outro partido assumir o governo de são paulo em 2011, como ficam os R$ 40 milhöes anuais destinados à osesp, sem contar todas as demais ações musicais do governo estadual, como festival de campos do jordão, conservatório de tatuí, projeto guri, ulm, banda sinfônica, jazz sinfônica etc?

o que faria o peemedebista eduardo paes (que já foi do psdb, lembra?) com sua mentalidade "cidade-da-música-é-dispensável" se fosse governador de são paulo e herdasse de seu sucessor uma política cultural que privilegia a música de concerto?

essas malditas letras dos partidos políticos regem nossa vida cultural porque o povo brasileiro ainda não despertou plenamente para um papel ativo nas decisões da sociedade. transferimos completamente o bastão para os políticos que elegemos.

mobilização social aqui ainda carece de muito feijão com arroz.

segunda-feira, 23 de março de 2009

cidade da música em silêncio até 2010

foi anunciado hoje que a prefeitura do rio de janeiro manterá a cidade da música fechada até 2010. o site vivamúsica! publicou notícia a respeito.

do jeito que o prefeito eduardo paes vinha tratando o assunto desde sua eleição ano passado, com doses absurdas de silêncio, a atitude não pega ninguém de surpresa.

a minha surpresa fica por conta da falta de mobilização da população interessada e da classe musical em torno de uma atitude. alguma atitude. qualquer atitude.

senti isso em 9 de novembro de 2008, quando visitei as obras do complexo cultural e tirei a foto abaixo, que mostra a vista do que será (seria?) uma das salas da orquestra sinfônica brasileira. a osb tem (tinha?) área equivalente a um pequeno prédio de seis andares.



na época, impactada com a primeira visita à obra realmente monumental - de fato, monumental demais para cidade repleta de chagas como o rio de janeiro - fiquei com a impressão que faltava mobilização, empoderamento, sei lá o que. atitude.

aqueles 90 mil metros quadrados foram erguidos e estão lá, fincados na barra da tijuca. são patrimônio da cidade e de seus contribuintes. em especial, dos contribuintes que reconhecem equipamentos culturais enquanto ferramenta de construção de identidade social.

uma obra com recursos 100% públicos na ordem de R$ 500 milhões pode simplesmente ser creditada como loucura de governante em final de governo... e arquivada, sem qualquer discussão com a sociedade? seu único destino é permanecer abandonada, semi-concluída, ao relento?

e nada de atitude?

domingo, 22 de março de 2009

mendelssohn ferve na lapa

a foto abaixo, enviada pelo jornalista marcus veras, diz muito sobre o lugar da música clássica hoje.

o lugar que ela ocupa e o que gostaria de ocupar.



um lambe-lambe (grande cartaz colado em muros da cidade, para divulgação de shows e eventos) de música clásica já indica muita coisa.

mostra que os organizadores do concerto querem se posicionar como alternativa de entretenimento de final de semana. no caso, a orquestra petrobras sinfônica, que abriu sua temporada 2009 no rio de janeiro homenageando mendelssohn, cujo bicentenário de nascimento comemora-se este ano.

ok, música clássica é arte - e das mais altas -, mas também é entretenimento - e dos mais instigantes.

é ousado e inteligente um promotor de concertos sinfônicos posicionar sua comunicação lado a lado de shows de rock e música pop, se seu objetivo é conquistar novas platéias jovens.

e o que dizer da coincidência do local onde fica a sala cecília meireles?

lambe-lambe pode resultar em multas, daí nunca ser dito o local do evento, mas sempre o bairro ou a localidade. um show no canecão, por exemplo, vira "em botafogo". no citibank hall, passa a ser "na barra". no circo voador e na fundição progresso, é sempre "na lapa".

daí a frase "mendelssohn na lapa" causar certa estranheza. seria um concerto no circo voador? na fundição progresso? claro que náo.

a sala cecília meireles fica no mesmo bairro dos vizinhos citados, o point mais quente da noite carioca.

ou seja, na lapa, o rio ferve, com samba, rock, chorinho e também concertos.

terça-feira, 17 de março de 2009

sem ópera ou "e a tela absorve o palco"

enquanto os palcos líricos do rio de janeiro e de são paulo seguem calados (os dois teatros municipais fechados para obras até o final do ano e, em sp, teatro são pedro ainda sem anunciar programação), pessoal do cinema vai comendo pelas beiradas.

a divulgação de imprensa da moviemobz, empresa que desde fevereiro exibe óperas do metropolitan de nova york em cinemas brasileiros, diz tudo.

separei um trecho do release que recebi esta semana:


"No Brasil, apresentados pela MovieMobz e Ford, os espetáculos em alta definição e som 5.1 vêm obtendo números excelentes, provocando a ampliação do circuito de salas a cada evento realizado. A primeira ópera da programação, “La Rondine”, lotou o Cine Odeon em sessão única no Rio; a segunda, “Orfeu e Eurídice”, foi exibida em 22 sessões em sete cidades e fez 2.179 espectadores; a terceira, “Lúcia de Lammermoor”, com 23 exibições em nove cidades, somou público de 2.979 pessoas. Já “Madame Butterfly”, a quarta da temporada, será exibida em mais de cem sessões, em cerca de 30 cinemas, nas salas digitais conectadas à Rain."


primeiro 1, depois 22, depois 23, depois 30. salas de exibição.

primeiro 584, depois 2.179, depois 2.979. pessoas. quantas serão nas sessões desta semana de "madama butterfly"?

o time da movieboz definitivamente tem um case de marketing em mãos. um sucesso mais do que previsível.

"desatendidos da ópera correm para salas de cinema" seria uma boa manchete para o artigo sobre o case.

quarta-feira, 11 de março de 2009

metáforas sinfônicas

orquestras organizam suas temporadas de concertos em séries, geralmente vendidas por assinatura. isso é praxe na música clássica e não traz novidade.

chama a atenção uma particularidade recente do ambiente sinfônico brasileiro: os nomes escolhidos para batizar as séries das orquestras.

em são paulo, árvores. no rio, pedras preciosas e uma pintora. em belo horizonte, andamentos musicais.

será que a escolha da nomenclatura traz embutida alguma mensagem?


osesp, pulmão do brasil sinfônico

jacarandá, pequiá, ipê, cedro, araucária, mogno, carnaúba, paineira, imbuia, pau-brasil, sapucaia e jequitibá.

faz todo sentido a escolha das árvores brasileiras para as séries da orquestra sinfônica do estado de são paulo, a principal do país. alguém duvida que a osesp oxigena a biodiversidade musical brasileira?


osb, arte da ourivesaria

ametista, turmalina, ônix, topázio e safira.

pedras preciosas brasileiras foram boa escolha para nomear as séries da orquestra sinfônica brasileira. o momento atual da osb é mesmo de lapidação de uma jóia musical.


opes, brasileira como djanira

até ano passado, a orquestra petrobras sinfônica usava "ouro negro" para classificar sua principal série de assinaturas - referência evidente à matéria-prima de seu patrocinador.

em 2009, a opes optou por homenagear a pintora paulista djanira, com as séries djanira 1, djanira 2, djanira 3, djanira 4 e djanira 5. a brasilidade e simplicidade características da artista aplicam-se também à orquestra?


ofmg, molto vivace

allegro e vivace são as duas principais séries de concerto da filarmônica de minas gerais.

escolha bastante pertinente, já estes andamentos musicais alertam para os resultados cada vez mais velozes do grupo criado há pouco mais de um ano.

segunda-feira, 9 de março de 2009

teatros municipais rio-sp em foco

no rio, o objetivo de transformar o theatro municipal em uma organização social (os) da cultura gera grita entre a classe musical.

amanhã, haverá audiência pública na assembléia legislativa - convocada pelo deputado alessandro molon, presidente da comissão de cultura daquela casa - para discutir a proposta do governo de criar a tal os.

uma os é instrumento jurídico importante, mas não é tudo. o repasse de verbas estaduais estará garantido? ou o governo espera transferir a responsabilidade de viabilização do balé, coro e orquestra para a iniciativa privada? no caso da osesp, por exemplo, dos r$ 60 milhões anuais de orçamento, r$ 43 milhões são verbas públicas.

enquanto isso, o municipal carioca permanece fechado para obras. há quem diga que não estarão concluídas até julho.

em são paulo, orquestra sinfônica municipal sem regente titular (josé maria florêncio voltou para a polônia), theatro municipal em obras até dezembro, verbas exíguas dificultam contratação de solistas e regentes convidados e de assessoria de imprensa para divulgar os concertos. a orquestra está tocando na sala olido, um antigo cinema.

domingo, 8 de março de 2009

a areia movediça do elitismo

tenho um amigo que trabalhou diretamente como assessor do presidente de uma das principais empresas públicas do brasil.

certo dia, ele me respondeu, a propósito da proposta de apoio à edição do anuário vivamúsica! que eu havia enviado: "heloisa, meu presidente acha música clássica elitista e não gosta de apoiar iniciativas no setor".

impaciente e irritada, mas tentando manter a postura pedagógica, retruquei: "esse seu presidente burro já ouviu falar do sistema das orquestras da venezuela ou da sinfônica de heliópolis? de uma próxima vez dele em são paulo, agenda uma visita ao instituto bacarelli, na favela de heliópolis."

deus é grande e o tal presidente não esquentou lugar na cadeira.

para os que ainda estão presos à falsa areia movediça do elitismo, recomendo assistir a este incrível e curto vídeo sobre a orquestra sinfônica de kinshasa, na periferia da capital da república democrática do congo.

as falas são em francês e as legendas, em inglês. mesmo que você não entenda estes idiomas, veja, pois imagens e música falam por si.

sábado, 7 de março de 2009

queda de energia e mignone à meia luz



o compositor paulista francisco mignone (no alto, em foto do arquivo da revista life), um dos grandes do século 20, foi executado na noite desta sexta-feira, na sala cecília meireles, no rio de janeiro, à meia luz.

sua belíssima "festa das igrejas" estava na abertura da temporada 2009 da sala, com orquestra sinfônica brasileira regida por roberto duarte.

a noite começou com o "concerto para piano", de john corigliano. sergio monteiro foi solista. depois, "suite l'arlesiene", de bizet, e, finalmente, mignone.

antes de executar a "festa", o maestro dirigiu algumas palavras ao público.

lembrou sua estreita relação com o compositor, de quem foi assistente e sob a influência de quem decidiu optar pela carreira de regente. ao terminar a breve colocação, duarte olhou para cima, mãos em oração, e disse: "obrigado, mignone". foi um momento bonito.

iniciada a peça, ainda no primeiro movimento, a iluminação falha. e falha novamente. e acaba. sala cecília meireles às escuras. não há gerador no local.

o diretor da sala informa problemas com fornecimento de energia no bairro da lapa. a rioluz, órgão de iluminação pública, já estaria em ação.

músicos e regente no palco, público na platéia, certa tensão no ar. em menos de cinco minutos, cessa o escuro. a luz volta, tênue, devido à queda de duas fases. mas parece suficiente para leitura de partituras. roberto duarte recomeça.

e assim, ouviu-se mignone à meia luz na lapa.

a queda de energia literal me fez pensar na queda de energia metafórica no circuito de concertos do rio de janeiro.

com theatro municipal fechado para obras e cidade da música transformada em ponto de interrogação, a baixa energética do rio clássico é evidente. e, por aqui, gerador não é costume.

o único palco sinfônico fica sendo a sala cecília meireles, local ideal para....música de câmara.

mas não há alternativa. o segundo município mais populoso do país, com população superior a 6 milhões de habitantes, tem hoje apenas um espaço apto a receber orquestras.

será que nisso a rioluz também dá jeito?

quinta-feira, 5 de março de 2009

villa-lobos na colombo

para comemorar o primeiro dia nacional da música clássica (decretado semanas atrás pelo presidente lula e inserido no calendário oficial brasileiro), vivamúsica! organizou hoje, na hora do almoço, um hapenning musical na centenária confeitaria colombo, no rio de janeiro.

como o dia da música clássica celebra o nascimento de villa-lobos e o compositor ganhou a vida tocando violoncelo para clientes da colombo, tive a idéia de convidar o duo milêmio - ricardo santoro, violoncelo, e paulo maurício, violão - para reproduzir o villa músico da confeitaria.

eles tocaram por 40 minutos para os clientes da colombo. foi um sucesso, como mostra a foto de alexandre cassiano.



a idéia de um dia para os clássicos foi do meu sócio, luiz alfredo moraes. essa história com final feliz começou em 2005, quando luiz alfredo sugeriu fazermos uma consulta nacional entre profissionais da música clássica para a escolha de uma data comemorativa.

fizemos a enquete pela internet e tivemos o apoio da rádio mec fm do rio, que perguntou aos ouvintes. ganhou villa-lobos, claro.

desde 2006, a data vem sendo "oficializada" em camadas: primeiro no municipio do rio, depois no estado do rio e agora em âmbito federal.

hoje é o meu quarto dia da música clássica. é sempre emocionante, mas acho que este ano, com a canetada do lula tornando a coisa nacional, a emoção é especial.

a você, que ama os clássicos, trabalha com os clássicos ou ambos, parabéns!

terça-feira, 3 de março de 2009

minczuk na arena do bradesco

já viu o comercial do bradesco, de que o maestro roberto minczuk participa?

em uma arena, entram as mais diversas iniciativas culturais patrocinadas pelo bradesco - da festa da uva à orquestra sinfônica brasileira, passando pelos blocos carnavalescos de olinda.



o pessoal da agência neogama e o marketing do bradesco devem ter achado incrível o uso da arena, mas o que dizer da mensagem de confronto e guerra que uma arena passa?

ok, realizar ações culturais e artísticas é uma luta, não só no brasil, mas também em países ricos - vide o que ocorre hoje nos estados unidos, as associações artísticas brigando para conseguir um lugar digno nas novas diretrizes de investimento de barack obama.

mas será que precisava explicitar a guerra pelos patrocínios culturais? quem transita na área da produção cultural sabe que, para cada iniciativa patrocinada por um grande cliente como o bradesco, outras mil são recusadas.

mesmo com esta mensagem nada subliminar e a famigerada câmera lenta (doença infantil da propaganda?), adorei ver a orquestra sinfônica brasileira e roberto minczuk em horário nobre da tv. ainda por cima com a nona de beethoven em ritmo de batucada.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

brasileiros na youtube symphony







os três jovens músicos acima são os brasileiros classificados para as finais da youtube symphony orchestra: flavio gabriel, trompete; joarez filho, trompa; e larissa mattos, violoncelo.

eles estão entre os 200 selecionados em todo o mundo para compor a primeira orquestra arregimentada pela internet.

também foi selecionado o excelente violoncelista gabriel penny, filho da pianista brasileira diana kacso, radicada há tempos nos estados unidos. não sei se gabriel tem cidadania brasileira, mas certamente em suas veias corre sangue genuinamente nacional.



a iniciativa tão pioneira quanto planetária une forças do youtube, london symphony orchestra e carnegie hall, além dos artistas lan lang (piano), michael tilson thomas (regente) e tan dun (compositor)

dos 200 selecionados, somente 80 comporão a youtube symphony orchestra, que realizará um concerto histório no carnegie hall, em nova york, em 15 de abril.

acessando o ambiente de votação, escolhe-se o instrumento, localiza-se o candidato - eles estão identificados conforme as imagens acima - e vota-se.

o período de votação é de 14 a 22 de fevereiro. o resultado sai em 2 de março.

é preciso certa paciência para votar, pois as páginas demoram demais a carregar, mesmo em conexão banda larga turbinada. a demanda deve estar sendo gigantesca.

a idéia da youtube symphony é simples e genial.

fico aqui pensando qual será o custo por milheiro desta incrível ação de marketing da música sinfônica entre o público jovem mundial. tomara que os números finais sejam divulgados. vai ser interessante dividir o custo total da operação pelo número de clicks da audiência.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

lindas, regendo a osesp


a bela estampa ao lado é a regente mexicana alondra de la parra, de 28 anos.









a sorridente moçoila abaixo é a maestrina portuguesa joana carneiro, de 32 anos.

além de serem jovens, bonitas e pra lá de competentes, ambas terão em seus passaportes um carimbo da polícia federal em são paulo.

elas regerão a osesp, em substituição a programas que seriam dirigidos por john neschling e victor hugo toro.

joana estará em são paulo dias 9, 10 e 11 de abril. alondra, dias 19, 20 e 21 de novembro.

não duvido nada que alondra vá parar no programa "superbonita" ou "gnt fashion". mas bom mesmo será vê-la regendo as "bachianas brasileiras n.7".

villa-lobos, que já gostava de um rabo de saia, vai acender um charuto no céu, feliz da vida.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

rádio, ponto final e ouvintes



(foto: villa-lobos em entrevista na rádio cbc, do canadá. acervo museu villa-lobos)

comecei a trabalhar em rádio em 1985, quando tinha 18 anos. fui radialista por quase uma década, até criar vivamúsica! e, finalmente, fazer valer o diploma de jornalismo.

estando no ar de segunda a sexta na mec fm do rio de janeiro e às terças e quintas na rede cbn, o rádio segue próximo.

é com certa dor no coração também radialista que tomo ciência da dispensa de colaboradores da cultura fm de são paulo, entre eles o violonista fábio zanon. lá, ele produziu 148 ótimos programas sobre violão brasileiro.

a dispensa de fábio gerou uma grita entre ouvintes e profissionais do meio musical.

a cultura alega corte orçamentário para esta e outras 18 dispensas realizadas desde o final de 2008.

publicamos em vivamúsica! uma reportagem a respeito, ouvindo tanto a rádio como o colaborador dispensado.

o fato me remete a duas ocasiões em que mudanças nos rumos de emissoras de FM colocaram um ponto final em meus então acalentados projetos de programação.

mas o coração radialista dói não por descordar de pontos finais em geral, e sim em solidariedade aos ouvintes.

a camaradagem tácita que se estabelece entre ouvinte e comunicador é das melhores, quiçá a melhor, características do rádio.

ouvintes sentem-se extremamente próximos de seus comunicadores preferidos. mas, ironia etimólogica, quase nunca são ouvidos quanto a mudanças de programação.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

neschling é manchete nos eua



a imagem acima vem a ser um detalhe da newsletter da publicação americana musicalamerica.com. trata-se do principal serviço de notícias sobre o mercado mundial de música clássica. o site publica noticiário todos os dias e o informativo por email é semanal.

o foco principal do musicalamerica.com é noticiário americano, mas as principais notícias internacionais emplacam posição de destaque na news.

desde o anúncio da demissão de john neschling da osesp, era pule de dez que o musical america repercutiria o fato.

a newsletter acima foi distribuída ontem.

neschling está entre as três primeiras chamadas e ganhou um box com foto.

a notícia diz que neschling foi demitido por email - o que fernando henrique cardoso nega (leia entrevista que fiz com fhc no site vivamúsica!).

o maestro e "pensador cultural", como ele se definiu em entrevista publicada hoje no jornal o globo, levou doze anos para construir seu projeto sinfônico. fico pensando quanto tempo será necessário para seu legado ser 100% compreendido e digerido.

a tradição diz que o mercado internacional percebe e reconhece talentos brasileiros de forma mais rápida e mais precisa que o mercado nacional. vide villa-lobos, tom jobim e egberto gismonti, para citar apenas três. seria neschling mais um a engrossar a fila?

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

passageiros clássicos e afetivos



desde 2007, faço e apresento os programas de música clássica a bordo das aeronaves da tam.

tenho recebido bom feedback por conta do programa atualmente no ar, uma seleção de clássicos usados em desenhos animados.

convido o ouvinte a mandar um email se quiser receber a lista com links para o youtube de todos os desenhos.

foi ótimo fazer a seleção, que toca fundo na memória afetiva de todos nós. quem não cresceu vendo tom e jerry, sem sequer desconfiar que ouvia a "grande valsa brilhante", de chopin?

mas melhor ainda tem sido receber os emails de ouvintes.

me foi dito, quando comecei, que passageiro manifesta-se pouco. não é o que vejo na prática.

mensagem especialmente bacana foi de piloto de airbus 330, que costuma ouvir o programa em seus horários de descanso. a seleção com desenhos animados o remeteu à infância com seu avô, que amava os clássicos.

um aspecto me chama a atenção.

99% das dezenas de passageiros que me enviaram email pedindo os links do youtube são homens. em quase 50 mensagens, apenas uma mulher.

talvez haja mais homens viajando de avião do que mulheres. mas tamanha predominância me faz pensar que os homens têm uma relação afetiva com os clássicos maior que as mulheres. ou talvez assistissem a mais desenhos animados, enquanto as meninas se entretinham com suas bonecas.

aproveito para postar a lista das músicas e seus desenhos.

CHOPIN
Grande Valsa Brilhante em Mi bemol Maior, Op. 18
Arthur Moreira Lima, piano.
DESENHO – TOM E JERRY
“The Flying Cat” (1952)

ROSSINI
Abertura “Guilherme Tell”
Royal Philharmonic Orchestra. Colin Davis, regente
DESENHO – MICKEY MOUSE
The Band Concert (1935)

ROSSINI
Ária “Largo al Factotum”, da ópera “O Barbeiro de Sevilha”
Hermann Prey, barítono. London Symphony Orchestra. Claudio Abbado, regente.
DESENHO – TOM E JERRY
The Cat above and the Mouse Below (1964)

LISZT
Rapsódia Húngara No. 2 (gravação ao vivo)
Vladimir Horowitz, piano.
DESENHO – TOM E JERRY
“The Cat Concerto” (1946)
PERNALONGA
“Rhapsody Rabbit”
PICAPAU
“Convict Concerto”

FRANZ VON SUPPE
Abertura manhã, tarde e noite em Viena
Orquestra Filarmônica de Viena. Zubin Mehta, regente
DESENHO – PERNALONGA
Baton Bunny(1959)

DUKAS
O aprendiz de Feiticeiro
Orquestra Filarmônica de Oslo. Mariss Jansons, regente
DESENHO – MICKEY MOUSE
Fantasia (1940)

BIZET
Carmen – Suíte N. 1 - Prelúdio
Orquestra da Filadélfia. Eugene Ormandy, regente.
DESENHO – TOM E JERRY
“Carmen – Get it!” (1962)

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

determinação novamente



ele tem um ar meio bobo, mas de bobo nada tem.

ainda que eu não conheça o moço acima, algo me diz que ele vai mexer com o mercado da música clássica mundial.

seu nome é bogdan roscic, tem 45 anos, nasceu na sérvia em uma família austríaca. foi radialista, jornalista musical (trabalhando com música pop) e, finalmente, diretor de gravadora.

ou seja, alguém que gosta de música, antes de gostar do negócio da música. alguém que vive inserido na cultura pop, mas se nutre de cultura austríaca desde o ventre.

roscic vai assumir o cargo de presidente mundial da sony music classical em 6 de abril.

tenho pra mim que o novo big shot do setor clássico da sony vai mexer importantes pauzinhos.

ele liderava a equipe artística da deustche grammophon na alemanha - o único selo que realmente entendeu a necessidade de falar com novas platéias e se adaptar às novas tecnologias - quando foi contratado para dirigir o selo decca, em londres, e, de lá, foi pescado pelo presidente mundial da sony.

importantíssimas as palavras do presidente da sony no anúncio da contratação, dias atrás.

"música clássica não só continua a ser uma parte vital do dna da nossa companhia, mas também é um negócio que estamos determinados a crescer e promover novamente", disse ceo da sony music entertainment, rolf schmidt-holtz.

adorei o uso do advérbio "novamente". e adorei ter saído da boca de um presidente de conglomerado multinacional.

isso quer dizer que a garra de roscic vai ter um orçamento que a suporte.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

espectadores repercutem "la rondine"

ao término da sessão do odeon, conversamos com alguns espectadores para saber suas opiniões.

wagner e maria tereza gutterres, ganhadores de convites pela promoção do site vivamúsica!, observaram que o belo dia de sol não foi concorrência. "ainda bem que as pessoas não foram para a praia e vieram assistir à ópera", avaliou maria teresa.

nancy correa martins emocionou-se durante a projeção. "chorei bastante. sou ex-cantora lirica e há muito tempo não tinha oportunidade de assistir a óperas. no cinema, vemos melhor e nos identificamos mais com os personagens"

fatima santana, outra leitora do site vivamúsica! que ganhou ingressos, já quer saber como ganhar novamente convites. "só senti falta de mais gente jovem", reclamou.

com a palavra final, josé andrade filho: "hoje ficou provado que cinema combina com ópera, mas não queremos pipoca!", diz, com humor.

a cobertura vivamúsica! foi feita por esta que vos tecla (textos), marcus veras (fotos) e natassja menezes (reportagem). que venham as próximas!

fim de sessão no odeon



acaba de terminar a sessão inaugural no brasil do projeto "the metropolitan opera - hd live". a projeção de estreia foi a ópera "la rondine", de puccini, no cine odeon petrobras, no rio de janeiro.

houve aplausos ao final da sessão que teve 2h15 de duração.

o único ponto problemático foi o ar condicionado do cinema, que não deu conta do calor. além dos termometros do rio de janeiro terem alcançado hoje 36 graus, houve mal funcionamento de duas das cinco máquinas de refrigeração do odeon.

"mas eu nem notei o calor", diz o compositor joão guilherme ripper, diretor da sala cecília meireles, que sorri na foto acima. "adorei o projeto, a projeção, o som - deu tudo certo", acrescentou. "só me dei conta da alta temperatura agora, quando levantei da cadeira".

o que viu-se na tela foi captado ao vivo algumas semanas atrás no palco do metropolitan.

agora, o brasil se insere em um circuito mundial de exibidores que, desde 2006, transite as óperas em imagem de alta definição.

trinca de peso na estreia da ópera



trio de pesos-pesados do cinema e da ópera na estreia do projeto "the metropolitan opera - hd live": marco aurélio marcondes, presidente da moviemobz; lucy barreto, da l.c. barreto produções; ator e diretor de teatro sérgio brito.

foto tirada minutos antes da sessão de "la rondine" começar no cine odeon.

sucesso atrasa início da sessão



fila para entrar, fila para retirar ingressos previamente comprados, fila para esperar alguma desistência.

o sucesso da afluência de público à sessão de estréia de "la rondine", no cinema odeon petrobras, provocou um atraso de 15 minutos no início da sessão.

fato compreensível em uma primeira ação no brasil. a própria promotora do projeto no brasil, a moviemobz, não esperava tamanha afluência de público. espera-se pontualidade no decorrer do projeto.

sérgio brito chega ao odeon



o ator e diretor de teatro sergio brito acaba de chegar para assistir à sessão de estréia do projeto das óperas do metropolitan em cinemas brasileiros.

brito é um dos mais famosos amantes da cena lírica do país.

"já assisti a 'la rondine' décadas atrás, com renata tebaldi no papel que hoje cantará angela gheorghiu.", relembra.

animado, ele resume sua expectativa: "onde tem puccini, tem coisa boa".

se esta será a primeira vez assistindo a um ópera na telona (desde 2006 as óperas do met são transmitidas em circuitos de cinema em diversos países), o ator acumula milhagem em termos de telinha. "desde a década de 1980, recebo de amigos tapes de transmissões de óperas feitas especialmente para a tv americana", conclui.

mais leitores de vivamúsica!



estes são afonso e terezinha guerreiro, leitores cadastrados no site vivamúsica! e felizes ganhadores de um par de ingressos para a sessão de estréia do projeto "the metropolitan opera - hd live".

eles estão entrando agora no cine odeon para garantir os melhores lugares e assistir à ópera "la rondine",de puccini, com os cantores angela gheorghiu e roberto alagna nos papéis principais.

aqui no cinema, há grande número de amantes da ópera de longa data.

um deles, talvez um dos maiores apreciadores da cena lírica na cidade, é tadeu moraes. ele contabiliza 85 óperas assistidas somente no ano passado. "estou hoje aqui pois recebi o telefonema de um amigo que trabalha no próprio metropolitan em nova york. ele me pediu para checar pessoalmente como será a receptividade do público brasileiro".

tadeu moraes gostaria que, no brasil, as transmissões ocorressem ao vivo, como é feito na europa.

a sessão de "la rondine", que começará a ser projetada em alguns minutos no cine odeon, foi gravada semanas atrás em nova york. a mesma produção será reapresentada nos estados unidos, no palco do met, entre 11 e 26 de fevereiro.

com fila e sem lugar marcado



é enorme a fila no cine odeon, a meia hora do início da sessão de "la rondine", de puccini, que marca a estréia das transmissões das óperas do met no brasil.

marluce ribeiro ocupa o invejável primeiro lugar da fila. ela chegou aqui às 15h45. "sou frequentadora da galeria do theatro municipal", diz a fã. mesmo sendo assídua do municipal, não conhece a ópera a que vai assistir hoje.

"la rondine" é dos títulos menos conhecidos de puccini. ainda assim, atraiu uma multidão ao odeon. imagine o que será quando for exibida "madama butterfly", em março.

"vamos aproveitar esta nova oportunidade de frequentar óperas", conclui marluce, animada.

os ingressos para a sessão de estréia do met no brasil foram vendidos sem lugares marcados.

os espectadores podem escolher onde sentar à medida em que entrarem.

leitores de vivamúsica! começam a chegar



wagner gutterres e sua esposa, maria tereza, foram os primeiros leitores de vivamúsica! a chegar no cine odeon para retirar os convites que ganharam na promoção do site vivamúsica!.

"fui o segundo leitor a acertar a pergunta da promoção e ganhar os convites", contou wagner, acrescentando estar sempre on-line, acompanhando as notícias por vivamúsica!.

ele recorreu ao google para encontrar a resposta para o nome da principal personagem feminina da ópera "la rondine".

na sessão de hoje, magda será vivida por angela gheorghiu.

aqui no cine odeon, é grande a fila de espectadores da ópera aguardando a abertura da sala. lá dentro, ainda está em curso a sessão do filme "se eu fosse você 2".

a ópera "la rondine" será exibida a partir das 17h.

lotação esgotada na estréia do met

escrevo diretamente do cine odeon petrobras, no rio de janeiro, dando início à primeira cobertura on-line de vivamúsica!.

os ingressos para a sessão de "la rondine", de puccini, já estão esgotados.

584 lugares completamente vendidos desde ontem.

ótima notícia para uns (os que torcem para que o projeto de exibição das óperas do metropolitan de nova york em cinemas brasileiros emplaque com todo sucesso e chegue logo a muitas e muitas outras cidades), péssima para outros (os cariocas que não compraram com antecedência seus bilhetes e confiaram na sorte).

ainda falta 1h15 para a sessão começar. a fila aqui será animada.

sábado, 31 de janeiro de 2009

osb e osesp abrem seu íntimo

anteontem, a orquestra sinfônica brasileira lançou sua temporada 2009. encontro com a imprensa no hotel copacabana palace, o mar quase entrava janelões adentro.

um (literal) círculo de conversa com o maestro roberto minczuk, luiz benedini e ricardo levisky - estes últimos diretores executivo e de marketing da osb -, além da administradora artística rosana martins.

ontem, a orquestra sinfônica do estado de são paulo reviu sua temporada 2009, a primeira sem neschling.

selecionou alguns jornalistas para entrevistas reservadas com o primeiro escalão da fundação que a administra - fernando henrique cardoso, pedro moreira salles, luiz schwarz e darin milling. o cenário? sala camargo guarnieri, no próprio edificio-sede, a imponente sala são paulo.

em 24 horas, as duas principais orquestras do país disponibilizaram-se para mostrar seu íntimo a poucos escolhidos. coincidência ou sincronicidade?

a hora é essa. façam-se as perguntas.

fiz as minhas e fiquei satisfeita com as respostas. publiquei quase todos os pontos que juntei da osb e da osesp .

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

o ás do baralho sinfônico


até que ponto, na atividade sinfônica, prepondera a decisão artística?

a gestão de uma orquestra - talvez, no brasil, possa se dizer da cultura como um todo - tangencia em inúmeros e profundos aspectos a esfera política.

a voz dos músicos costuma rondar a esfera decisória com menor proximidade do que o grupo desejaria.

outro ponto valorizado na tomada de decisões é o marketing.

e, claro, há que se considerar o cidadão a quem tudo aquilo se dirige, mas muitas vezes relegado a uma importância mirim.

se o circuito orquestral fosse uma mesa de carteado, quem seria o ás do baralho? arte, política, marketing ou público?

em um possível royal flush sinfônico, eu arriscaria a seguinte sequência: política (ás), arte (rei), marketing (valete), músicos (dama) e público (10).

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

cobertura do met em cinemas


neste domingo, 1 de fevereiro, estreia no brasil o projeto de levar óperas do metropolitan a salas de cinema.

o rio de janeiro terá o privilégio da sessão inaugural. será às 17h, no cine odeon petrobras.

encabeçando o elenco, a bonitona da foto acima, angela gheorghiu, e seu marido, roberto alagna. samuel ramey participa da montagem.

fui hoje de manhã assistir à projeção para a imprensa. é uma experiência realmente diferente. compreende-se o sucesso no mundo todo.

vivamúsica! fará uma cobertura on-line, no espaço deste blog.

a partir de 15h30, de 15 em 15 minutos, uma postagem contará o que acontece no cine odeon.

depoimento de espectadores, fotos e etc. você vai poder sentir o pulso da coisa. santa internet.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

cidadania musical via 0800



a charge acima, feita pelo cartunista laerte para a orquestra sinfônica do estado de são paulo (a famosa osesp), coloca um ponto importante nas relações da música clássica com a sociedade.

com humor, laerte abordou a qualidade da prestação de serviços artísticos e a importância do feedback dos consumidores.

mesmo em tom de brincadeira, a coisa é séria.

se os consumidores de transporte público, por exemplo, têm um telefone 0800 a disposição para criticar e sugerir melhorias, por que não os consumidores de música clássica? a consolidação de canais de expressão voltados para o público de clássicos é algo cada vez mais necessário.

o slogan da própria osesp frisa: "pode aplaudir que a orquestra é sua".

é mesmo sua, minha, nossa. a verba que viabiliza temporadas vem de recursos próprios do governo do estado de são paulo ou por renúncia fiscal via leis de incentivo cultural, que, em última análise, é dinheiro público.

o tal 0800, o telefone para sugestões da charge de laerte, o bom e velho SAC (serviço de atendimento ao consumidor) conhecido das embalagens de leite, conservas, congelados e afins...todos estes canais atualmente pouco utilizados pelo povo dos clássicos remetem ao melhor exercício de cidadania musical.

a recente demissão do maestro neschling tem provocado uma enxurrada de manifestações do público consumidor da osesp.

o caso, como era de se esperar, tomou grande dimensão e mexeu com os brios de diversos tipos de consumidores de clássicos em busca do exercício de sua cidadania musical.

do assinante da orquestra ao crítico do jornal francês "le monde", passando pelo paulistano que paga impostos e nem frequenta os concertos, mas aprecia a existência do projeto de excelência artística como expressão de força da cultura local. todos se manifestaram pela imprensa.

se a osesp já era o que os marqueteiros chamam de "case", pelo seu enorme sucesso e posicionamento referencial dentro da indústria cultural, o episódio da demissão de neschling comprova que o mundo orquestral tem algo a acrescentar em termos de feedback de consumidores.


domingo, 25 de janeiro de 2009

clássicos clubber


a sala são paulo, na capital paulista, já viu de tudo em seus quase dez anos de existência.

grandes maestros, solistas da vez, estréia de obras brasileiras, novatos e entendidos de música clássica, programas de televisão gravados ao vivo, premiações, festas de empresas.

no próximo 9 de maio, exatos dois meses antes de completar a primeira década, o principal hall sinfônico da américa do sul vai receber o dj anderson noise para tocar com a orquestra bachiana filarmônica do maestro joão carlos martins.

na primeira parte do programa, a quinta de mahler, comme il faut.

pós-intervalo, o dj entra no palco para interferir em obras de mozart, bach e brahms. a orquestra troca o traje formal por camiseta.

a tendência de trazer a cena clubber para a música clássica é isso, uma tendência mundial. está acontecendo em são paulo, rio de janeiro, finlândia, alemanha, londres - por sinal, os londrinos têm o dj gabriel prokofiev, neto do dito cujo.

ainda é cedo para auferir resultados concretos, mas a iniciativa é válida por si, independentemente de criar ou não uma nova platéia para os clássicos.

a simples aproximação destes dois mundos no mesmo espaço de convivência é excelente começo.

no rio de janeiro, desde novembro de 2008, a festa lounge c promove o encontro dos sons eletrônicos com um quarteto de cordas. tem dado bastante certo. faço parte da equipe do projeto e bem sei o tanto que se caminhou para chegar ao formato atual, que ainda não é o final. cada qual faz seu set, dj e músicos clássicos intercalam-se no bar 00, no planetário da gávea.

por falar em planetário, é justamento no planetário de hamburgo, na alemanha, que o dj raphael marionneau promove o evento "le voyage abstrait" toda primeira quarta-feira do mês. um show de planetário estilo multimídia, com trilha sonora que vai do clássico à ambient music e à música eletrônica. são dois sets de 70 minutos cada. é um sucesso desde 2002.

deve-se a marionneau, um francês radicado no país de beethoven, a primeira fusão conhecida e divulgada de música clássica com a cena clubber. em 1996, ele começou uma festa chamada "le cafe abstrait" no club mojo, em hamburgo, juntando chillout e clássicos. criou um conceito, que segue bemsucedido.

cinco anos depois, em fevereiro de 2001, foi dada a largada da festa yellow lounge, promovida pelo tradicional selo alemão deutsche grammophon. adivinha onde a festa da dg começou? em hamburgo. salve, marionneau!

tendo por trás uma grande gravadora, a maior do mundo em termos de música clássica, o yellow lounge se consolida ano a ano, em eventos ao vivo e em discos-mp3s. rufus wainwright foi um dos artistas que já abraçou o projeto de levar clássicos ao público dos clubes noturnos e lançou a sua coletânea de clássicos (que inclui duas faixas compostas por ele, executadas por quarteto).

o século 21, o do pulverizar das barreiras e do destruir dos preconceitos, é também o da aproximação de antigos extremos.

bendito ipod, que aumentou a fome de música. bendida música eletrônica, que acostumou milhões de ouvidos a temas instrumentais de longa duração e com variações.

se a garotada clubber vai ter empatida com mozart em uma sala de concertos, não sei. mas acho que quem experimentar levar música contemporânea para a balada eletrônica pode ter boas surpresas.


sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

neschling em 1997, síntese do sonho


o registro fotográfico acima faz parte do acervo de imagens de vivamúsica!.

a foto foi tirada em1997, no dia do concerto histórico da então "nova" osesp no canteiro de obras que viria a ser sua sede: a estação julio prestes.

suado, john neschling cumprimenta o governador mário covas, grande financiador do sonho de uma orquestra brasileira de nível internacional. o spalla claudio cruz observa. um batalhão de fotógrafos e cinegrafistas documenta.

aí temos alguns elementos que sintetizam o que viria ser a osesp sonhada por neschling.

suor, dinheiro, política, músicos, mídia, canteiro de obras.

ou melhor, muito suor, muito dinheiro, muita vontade política, muitos bons músicos, muito investimento em cobertura de mídia e muito investimento na obra que gerou o hall sinfônico perfeito.

em suma, foi isso que fez a osesp chegar onde chegou.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

neschling nas manchetes












para quem acompanha o mercado, não foi surpresa a demissão do maestro john neschling. a crônica de sua demissão estava anunciada há alguns meses.

com uma língua visivelmente inquieta, neschling morreu pela boca.

o regente foi várias vezes à imprensa paulista no ano passado para externar mágoas e raiva com a sucessão que ele mesmo precipitou na orquestra cuja história reescreveu.

"a manifestação pública de vossa senhoria deixa poucas dúvidas quanto à possibilidade (...) de uma convivência harmoniosa (...), evidenciando conduta indesejável e inconciliável com o desempenho de suas atribuições", diz a carta de demissão assinada por fhc, o ex do brasil e presidente da fundação osesp. a íntegra do texto está ém http://www.osesp.art.br/noticias/detalheNoticias.aspx?codConteudo=313

se neschling foi superlativo em idealizar um projeto sinfônico sem precedentes na america latina (“meu projeto é tão ambicioso em termos artísticos e estruturais que é preciso encontrar a fórmula legal e financeira para realizá-lo”, dizia-me ele em entrevista para a antiga revista vivamúsica!, em março de 1997, dois anos antes da sala são paulo ser inaugurada), superlativa foi a repercussão de sua demissão.

quando, nos últimos dez anos, uma demissão de maestro foi notícia de primeira página nos principais meios de comunicação brasileiros?

assinalei de amarelo nas imagens acima o destaque que o pai de pedro e marido de patricia teve no noticiário on-line desta noite de mudança.

um processo sucessório orquestral ocupar todas as manchetes de noticário nacional é indicativo que a sociedade brasileira quer e precisa acompanhar o setor de música clássica.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

um lopes para os clássicos


o senhor sorridente na foto arredondada é lopes, o homem do vinho.

talvez você já tenha assistido a alguns de seus programas na rede tv e tenha uma opinião sobre ele. eu também tenho a minha, mas não é isso que vem ao caso agora.

por mais que ele legisle em causa própria - promovendo os vinhos que vende em suas lojas -, por mais que seu programa seja pra lá de cru (não confundir com grand cru), lopes tem um papel importante no fortalecimento do mercado do vinho no brasil.

o da vulgarização, no melhor sentido do termo.

o papel de explicar com palavras que o espectador médio - o bart simpson para quem william bonner edita o jornal nacional- consiga compreender.

para vender vinho, ele fala mais da reunião familiar em torno da garrafa do que das varietais. ressalta a emoção de abrir uma garrafa, insiste no caráter congregador da bebida. a boa nota de robert parker, pela qual milhares de vinicultores cortam os pulsos, é o de menos aqui.

em resumo, lopes embrulha o mundo do vinho de um jeito aparentemente simples. por ser ele mesmo alguém tão simples a ponto de tropeçar no português, consegue aproximar aquele produto fruto de uma cultura secular e sofisticada do mais desavisado telespectador.

o mundo dos concertos se beneficiaria se existisse uma espécie de lopes, o homem dos clássicos, falando a linguagem do povo, com capacidade de investimento para comprar horário em tv aberta nacional e, claro, com um produto para vender.

o vinho e os clássicos têm lá suas similaridades. ambos vêm da europa, parecem (e são) extremamente complicados à primeira vista, usam muitos termos estrangeiros e precisam de explicação. correm o risco de fazer vítimas, a exemplo dos "fashion victims" da moda. quem aguenta um enochato na mesa ao lado, exercitando olfato e paladar? e aquele frequentador de concertos que desmerece o novato do aplauso na hora errada?

vinho e clássicos também estão ligados por dois aspectos incomuns: a capacidade invejável de fidelização de seu público e a transmissão de um raro sentimento de felicidade. só mesmo provando para sentir.


segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

haydn no manguebeat


2009 é ano em que haydn completaria 200 anos de morte. na música clássica, aniversários de morte são especialmente celebrados.


a lógica assemelha-se à da igreja católica, onde os santos são lembrados em seu dia de chegada ao céu. para quem dá suas cacetadas em teologia, a proposta faz realmente todo sentido. quem não é do metier acaba achando a coisa meio fantasmagórica. como assim....celebrar a morte? estaríamos no méxico?

fato é que os dois séculos de decomposição (sem trocadilhos) de haydn serão ampalmente comemorados em todo mundo.

achei ótimo saber que, aqui no brasil, as celebrações oficiais pelo genial compositor começarão em recife.

"no recife, a música é o combustível que move todas as celebrações. frevo, maracatu, caboclinho, manguebeat, coco, forró, ciranda, brega e clássico embalam a vida aqui", diz o produtor musical flávio domingues, cônsul-honorário da áustria em pernambuco e idealizador das comemorações.

"semelhante ao recife, mas na dimensão de uma nação de uma longa história, a áustria é reconhecida mundialmente como grande celeiro musical."

"por isso, a decisão da embaixada da áustria de iniciar as celebrações dos 200 anos da morte do compositor franz joseph haydn na capital multicultural do brasil é muito bem vinda e deve ser aproveitada como momento de ampliar uma relação econômica, turística e cultural que poderá proporcionar frutos para ambos os lados", segue o cônsul honorário.

pois inaugura hoje, e vai até 30 de janeiro, no tribunal de justiça de pernambuco, uma exposição dedicada a haydn, com partituras, painéis ilustrativos e gravuras. no dia 31 de março, a orquestra sinfônica do recife faz concerto especial no teatro santa isabel.

o mais interessante e ousado do discurso de flávio domingues é quando ele estabelece o link do pai da sinfonia com a cena manguebeat.

"o recife e pernambuco também têm seus gênios da música comparáveis aos artistas austríacos, guardadas a distância temporal e a experiência cultural de cada lugar", diz o produtor.

"marlos nobre, nelson ferreira e maestro duda, clovis pereira, josé menezes, spok e maestro forró, capiba, chico science, cordel do fogo encantado, alceu valença e luiz gonzaga, antonio nóbrega, lenine, nação zumbi também fizeram a música ficar muito mais rica", completa.

claro que domingues carregou nas tintas. e fez isso de propósito, pois a falas acima foram publicadas em jornal local de grande circulação (diário de pernambuco, 18/01/09).

haydn e chico science são farinhas de sacos diferentes, convenhamos.

mas também convenhamos que há instâncias onde estas farinhas de misturam, sem cerimônia nem parcimônia. a principal delas, e a mais recorrente, é no coração dos ouvintes.

na bagunça do meu coração, por exemplo, o velho franz joseph às vezes erra de veia e se perde de bach, schumann e villa-lobos. quando se dá conta, haydn está ao lado de lirinha, do cordel do fogo encantado. e, ali, eles se entendem bem.

quem tem gosto amplo para música e aprecia a sintonia com o zeitgeist (o espírito de seu tempo), acaba misturando as estações.

de estações, haydn compreende bem.

mas, voltando ao posicionamento de flávio domingues, ao colocar haydn ao lado de artistas locais, ele está fazendo grande favor....a haydn! no sentido mercadológico, quero dizer. ele está dizendo ao leitor que haydn (certamente desconhecido de 95% da população do recife) é tão bom quanto as estrelas da música pernambucana (conhecidas e queridas do povo).

do ponto de vista da divulgação da música clássica, nota dez.

quem acha exagero estabelecer pontes tão claras entre a cena pernambucana regional e a música clássica precisa ouvir a gravação de yo-yo ma e o duo assad para o frevo "vassourinhas". está no último disco de ma. dá um orgulho danado.