segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
haydn no manguebeat
2009 é ano em que haydn completaria 200 anos de morte. na música clássica, aniversários de morte são especialmente celebrados.
a lógica assemelha-se à da igreja católica, onde os santos são lembrados em seu dia de chegada ao céu. para quem dá suas cacetadas em teologia, a proposta faz realmente todo sentido. quem não é do metier acaba achando a coisa meio fantasmagórica. como assim....celebrar a morte? estaríamos no méxico?
fato é que os dois séculos de decomposição (sem trocadilhos) de haydn serão ampalmente comemorados em todo mundo.
achei ótimo saber que, aqui no brasil, as celebrações oficiais pelo genial compositor começarão em recife.
"no recife, a música é o combustível que move todas as celebrações. frevo, maracatu, caboclinho, manguebeat, coco, forró, ciranda, brega e clássico embalam a vida aqui", diz o produtor musical flávio domingues, cônsul-honorário da áustria em pernambuco e idealizador das comemorações.
"semelhante ao recife, mas na dimensão de uma nação de uma longa história, a áustria é reconhecida mundialmente como grande celeiro musical."
"por isso, a decisão da embaixada da áustria de iniciar as celebrações dos 200 anos da morte do compositor franz joseph haydn na capital multicultural do brasil é muito bem vinda e deve ser aproveitada como momento de ampliar uma relação econômica, turística e cultural que poderá proporcionar frutos para ambos os lados", segue o cônsul honorário.
pois inaugura hoje, e vai até 30 de janeiro, no tribunal de justiça de pernambuco, uma exposição dedicada a haydn, com partituras, painéis ilustrativos e gravuras. no dia 31 de março, a orquestra sinfônica do recife faz concerto especial no teatro santa isabel.
o mais interessante e ousado do discurso de flávio domingues é quando ele estabelece o link do pai da sinfonia com a cena manguebeat.
"o recife e pernambuco também têm seus gênios da música comparáveis aos artistas austríacos, guardadas a distância temporal e a experiência cultural de cada lugar", diz o produtor.
"marlos nobre, nelson ferreira e maestro duda, clovis pereira, josé menezes, spok e maestro forró, capiba, chico science, cordel do fogo encantado, alceu valença e luiz gonzaga, antonio nóbrega, lenine, nação zumbi também fizeram a música ficar muito mais rica", completa.
claro que domingues carregou nas tintas. e fez isso de propósito, pois a falas acima foram publicadas em jornal local de grande circulação (diário de pernambuco, 18/01/09).
haydn e chico science são farinhas de sacos diferentes, convenhamos.
mas também convenhamos que há instâncias onde estas farinhas de misturam, sem cerimônia nem parcimônia. a principal delas, e a mais recorrente, é no coração dos ouvintes.
na bagunça do meu coração, por exemplo, o velho franz joseph às vezes erra de veia e se perde de bach, schumann e villa-lobos. quando se dá conta, haydn está ao lado de lirinha, do cordel do fogo encantado. e, ali, eles se entendem bem.
quem tem gosto amplo para música e aprecia a sintonia com o zeitgeist (o espírito de seu tempo), acaba misturando as estações.
de estações, haydn compreende bem.
mas, voltando ao posicionamento de flávio domingues, ao colocar haydn ao lado de artistas locais, ele está fazendo grande favor....a haydn! no sentido mercadológico, quero dizer. ele está dizendo ao leitor que haydn (certamente desconhecido de 95% da população do recife) é tão bom quanto as estrelas da música pernambucana (conhecidas e queridas do povo).
do ponto de vista da divulgação da música clássica, nota dez.
quem acha exagero estabelecer pontes tão claras entre a cena pernambucana regional e a música clássica precisa ouvir a gravação de yo-yo ma e o duo assad para o frevo "vassourinhas". está no último disco de ma. dá um orgulho danado.
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O texto tem a clara conotação de unir as culturas... o gringo não pode vir aqui e achar que vai ensinar... temos muito a oferecer também... como diz o Cônsul: guardadas a história e a cultura de cada lugar.
ResponderExcluirChico Science é gênio mesmo e num encontro lá em cima dele com Haydn deve estar revolucionando o céu.
ResponderExcluirParabólicas fincadas no gelo das montanhas do tirol e captando sinais do universo
ResponderExcluirCara Heloisa, li hoje esse seu comentário sobre algo já acontecido. Muito obrigado. Pra mim... um elogio ao meu artigo. Flávio
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