domingo, 18 de janeiro de 2009

gelb, ópera e pipoca


peter gelb, o diretor geral do metropolitan opera house de nova york, bem podia ter escolhido outro cenário para a foto, além de um teatro completamente vazio.

a mensagem subliminar é indisfarçável.

mas, como o big shot não dá ponto sem nó, deve ter tido lá suas razões.

e gelb pode se dar ao luxo de dar uma rara bola fora. foi dele a idéia de transmitir as óperas do met para cinemas em todo o mundo. um ovo de colombo.

o formato está previsto para chegar ao brasil nos primeiros dias de fevereiro. teasers já estão sendo exibidos nos cinemas, mas cidades datas, horários e preços ainda não foram divulgados oficialmente. sabe-se que rio de janeiro e são paulo encabeçam o circuito de transmissão digital de seis óperas (a primeira "la rondine", com o casal angela gheorghiu e roberto alagna). a exibição aqui será feita com algumas semanas de atraso. há países em que ela acontece ao vivo, simultaneamente com nova york.
duas semanas atrás publicamos matéria a respeito no site vivamúsica!. títulos e elencos completos da óperas previstas para transmissão estão em http://www.vivamusica.com.br/noticia.php?id=980.

gelb é um sujeito intrinsecamente ligado ao audio-visual.

era de se esperar que, na era da transmissão HD, estando ele a frente da principal casa de ópera do mundo, sendo urgentes novas iniciativas para ampliar o público de clássicos, suas ágeis células cinzentas juntassem lé e cré.

em 1999, quando prestei serviços à sony classical aqui no brasil, senti na pele o que é trabalhar com peter gelb. ele era o presidente mundial da companhia e eu uma mera prestadora de serviços na filial brasileira.

acompanhei, de longe, algumas de suas tacadas de mestre e senti na pele sua determinação em estabelecer fortes vínculos com o circuito exibidor de cinema. o link de então eram os filmes cuja trilha pertencia à sony. uma de minhas responsabilidades semanais era enviar à matriz em nova york as bilheterias de filmes com trilhas sony classical.....mesmo que a trilha não tivesse sido lançada pela filial brasileira. os números eram necessários e pronto.

achei engraçado quando, em julho de 2008, recebi um email do parceiro brasileiro das transmissões do met, a rain digital. atrás do que minha interlocutora estava? números, claro. números de montagens anuais de ópera no brasil, quantidade de público atingido, montantes de patrocínio. a cara de peter gelb.

os números da recessão americana devem estar tirando o sono de gelb, já queda de cabelo não lhe é consequência nova.

anteontem, foram divulgadas as perdas do metropolitan pós-recessão.

a dotação anual de 300 milhões de dólares sofreu perdas de 2/3. as doações encolheram em 10 milhões de dólares. a venda de ingressos para as produções da temporada está abaixo da meta. a equipe senior de gerenciamento do met sofreu decréscimo salarial de 10%. os cantores de maior sucesso - e mais caros - estão recebendo propostas de renegociação de cachê.

e gelb se deixa fotografar em um teatro vazio. pensando bem, talvez seja o cenário ideal para quem precisa rebolar. especialmente sendo americano.

mais que nunca, é preciso que a fómula "ópera com pipoca" emplaque de vez nas 800 salas de cinema em todo mundo que já fazem parte do circuito exibidor do met e, claro, aqui em pindorama.

queremos salas de cinema cheias de gente interessada em música, aproveitando para, finalmente, conseguir tomar seu refrigerante e comer sua pipoca enquanto assiste a puccini, gluck e amigos, sem levar bronca do colega de poltrona.

se as óperas passarem em um cinema perto de você, prestigie e me conte o que achou.

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