sábado, 31 de janeiro de 2009

osb e osesp abrem seu íntimo

anteontem, a orquestra sinfônica brasileira lançou sua temporada 2009. encontro com a imprensa no hotel copacabana palace, o mar quase entrava janelões adentro.

um (literal) círculo de conversa com o maestro roberto minczuk, luiz benedini e ricardo levisky - estes últimos diretores executivo e de marketing da osb -, além da administradora artística rosana martins.

ontem, a orquestra sinfônica do estado de são paulo reviu sua temporada 2009, a primeira sem neschling.

selecionou alguns jornalistas para entrevistas reservadas com o primeiro escalão da fundação que a administra - fernando henrique cardoso, pedro moreira salles, luiz schwarz e darin milling. o cenário? sala camargo guarnieri, no próprio edificio-sede, a imponente sala são paulo.

em 24 horas, as duas principais orquestras do país disponibilizaram-se para mostrar seu íntimo a poucos escolhidos. coincidência ou sincronicidade?

a hora é essa. façam-se as perguntas.

fiz as minhas e fiquei satisfeita com as respostas. publiquei quase todos os pontos que juntei da osb e da osesp .

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

o ás do baralho sinfônico


até que ponto, na atividade sinfônica, prepondera a decisão artística?

a gestão de uma orquestra - talvez, no brasil, possa se dizer da cultura como um todo - tangencia em inúmeros e profundos aspectos a esfera política.

a voz dos músicos costuma rondar a esfera decisória com menor proximidade do que o grupo desejaria.

outro ponto valorizado na tomada de decisões é o marketing.

e, claro, há que se considerar o cidadão a quem tudo aquilo se dirige, mas muitas vezes relegado a uma importância mirim.

se o circuito orquestral fosse uma mesa de carteado, quem seria o ás do baralho? arte, política, marketing ou público?

em um possível royal flush sinfônico, eu arriscaria a seguinte sequência: política (ás), arte (rei), marketing (valete), músicos (dama) e público (10).

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

cobertura do met em cinemas


neste domingo, 1 de fevereiro, estreia no brasil o projeto de levar óperas do metropolitan a salas de cinema.

o rio de janeiro terá o privilégio da sessão inaugural. será às 17h, no cine odeon petrobras.

encabeçando o elenco, a bonitona da foto acima, angela gheorghiu, e seu marido, roberto alagna. samuel ramey participa da montagem.

fui hoje de manhã assistir à projeção para a imprensa. é uma experiência realmente diferente. compreende-se o sucesso no mundo todo.

vivamúsica! fará uma cobertura on-line, no espaço deste blog.

a partir de 15h30, de 15 em 15 minutos, uma postagem contará o que acontece no cine odeon.

depoimento de espectadores, fotos e etc. você vai poder sentir o pulso da coisa. santa internet.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

cidadania musical via 0800



a charge acima, feita pelo cartunista laerte para a orquestra sinfônica do estado de são paulo (a famosa osesp), coloca um ponto importante nas relações da música clássica com a sociedade.

com humor, laerte abordou a qualidade da prestação de serviços artísticos e a importância do feedback dos consumidores.

mesmo em tom de brincadeira, a coisa é séria.

se os consumidores de transporte público, por exemplo, têm um telefone 0800 a disposição para criticar e sugerir melhorias, por que não os consumidores de música clássica? a consolidação de canais de expressão voltados para o público de clássicos é algo cada vez mais necessário.

o slogan da própria osesp frisa: "pode aplaudir que a orquestra é sua".

é mesmo sua, minha, nossa. a verba que viabiliza temporadas vem de recursos próprios do governo do estado de são paulo ou por renúncia fiscal via leis de incentivo cultural, que, em última análise, é dinheiro público.

o tal 0800, o telefone para sugestões da charge de laerte, o bom e velho SAC (serviço de atendimento ao consumidor) conhecido das embalagens de leite, conservas, congelados e afins...todos estes canais atualmente pouco utilizados pelo povo dos clássicos remetem ao melhor exercício de cidadania musical.

a recente demissão do maestro neschling tem provocado uma enxurrada de manifestações do público consumidor da osesp.

o caso, como era de se esperar, tomou grande dimensão e mexeu com os brios de diversos tipos de consumidores de clássicos em busca do exercício de sua cidadania musical.

do assinante da orquestra ao crítico do jornal francês "le monde", passando pelo paulistano que paga impostos e nem frequenta os concertos, mas aprecia a existência do projeto de excelência artística como expressão de força da cultura local. todos se manifestaram pela imprensa.

se a osesp já era o que os marqueteiros chamam de "case", pelo seu enorme sucesso e posicionamento referencial dentro da indústria cultural, o episódio da demissão de neschling comprova que o mundo orquestral tem algo a acrescentar em termos de feedback de consumidores.


domingo, 25 de janeiro de 2009

clássicos clubber


a sala são paulo, na capital paulista, já viu de tudo em seus quase dez anos de existência.

grandes maestros, solistas da vez, estréia de obras brasileiras, novatos e entendidos de música clássica, programas de televisão gravados ao vivo, premiações, festas de empresas.

no próximo 9 de maio, exatos dois meses antes de completar a primeira década, o principal hall sinfônico da américa do sul vai receber o dj anderson noise para tocar com a orquestra bachiana filarmônica do maestro joão carlos martins.

na primeira parte do programa, a quinta de mahler, comme il faut.

pós-intervalo, o dj entra no palco para interferir em obras de mozart, bach e brahms. a orquestra troca o traje formal por camiseta.

a tendência de trazer a cena clubber para a música clássica é isso, uma tendência mundial. está acontecendo em são paulo, rio de janeiro, finlândia, alemanha, londres - por sinal, os londrinos têm o dj gabriel prokofiev, neto do dito cujo.

ainda é cedo para auferir resultados concretos, mas a iniciativa é válida por si, independentemente de criar ou não uma nova platéia para os clássicos.

a simples aproximação destes dois mundos no mesmo espaço de convivência é excelente começo.

no rio de janeiro, desde novembro de 2008, a festa lounge c promove o encontro dos sons eletrônicos com um quarteto de cordas. tem dado bastante certo. faço parte da equipe do projeto e bem sei o tanto que se caminhou para chegar ao formato atual, que ainda não é o final. cada qual faz seu set, dj e músicos clássicos intercalam-se no bar 00, no planetário da gávea.

por falar em planetário, é justamento no planetário de hamburgo, na alemanha, que o dj raphael marionneau promove o evento "le voyage abstrait" toda primeira quarta-feira do mês. um show de planetário estilo multimídia, com trilha sonora que vai do clássico à ambient music e à música eletrônica. são dois sets de 70 minutos cada. é um sucesso desde 2002.

deve-se a marionneau, um francês radicado no país de beethoven, a primeira fusão conhecida e divulgada de música clássica com a cena clubber. em 1996, ele começou uma festa chamada "le cafe abstrait" no club mojo, em hamburgo, juntando chillout e clássicos. criou um conceito, que segue bemsucedido.

cinco anos depois, em fevereiro de 2001, foi dada a largada da festa yellow lounge, promovida pelo tradicional selo alemão deutsche grammophon. adivinha onde a festa da dg começou? em hamburgo. salve, marionneau!

tendo por trás uma grande gravadora, a maior do mundo em termos de música clássica, o yellow lounge se consolida ano a ano, em eventos ao vivo e em discos-mp3s. rufus wainwright foi um dos artistas que já abraçou o projeto de levar clássicos ao público dos clubes noturnos e lançou a sua coletânea de clássicos (que inclui duas faixas compostas por ele, executadas por quarteto).

o século 21, o do pulverizar das barreiras e do destruir dos preconceitos, é também o da aproximação de antigos extremos.

bendito ipod, que aumentou a fome de música. bendida música eletrônica, que acostumou milhões de ouvidos a temas instrumentais de longa duração e com variações.

se a garotada clubber vai ter empatida com mozart em uma sala de concertos, não sei. mas acho que quem experimentar levar música contemporânea para a balada eletrônica pode ter boas surpresas.


sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

neschling em 1997, síntese do sonho


o registro fotográfico acima faz parte do acervo de imagens de vivamúsica!.

a foto foi tirada em1997, no dia do concerto histórico da então "nova" osesp no canteiro de obras que viria a ser sua sede: a estação julio prestes.

suado, john neschling cumprimenta o governador mário covas, grande financiador do sonho de uma orquestra brasileira de nível internacional. o spalla claudio cruz observa. um batalhão de fotógrafos e cinegrafistas documenta.

aí temos alguns elementos que sintetizam o que viria ser a osesp sonhada por neschling.

suor, dinheiro, política, músicos, mídia, canteiro de obras.

ou melhor, muito suor, muito dinheiro, muita vontade política, muitos bons músicos, muito investimento em cobertura de mídia e muito investimento na obra que gerou o hall sinfônico perfeito.

em suma, foi isso que fez a osesp chegar onde chegou.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

neschling nas manchetes












para quem acompanha o mercado, não foi surpresa a demissão do maestro john neschling. a crônica de sua demissão estava anunciada há alguns meses.

com uma língua visivelmente inquieta, neschling morreu pela boca.

o regente foi várias vezes à imprensa paulista no ano passado para externar mágoas e raiva com a sucessão que ele mesmo precipitou na orquestra cuja história reescreveu.

"a manifestação pública de vossa senhoria deixa poucas dúvidas quanto à possibilidade (...) de uma convivência harmoniosa (...), evidenciando conduta indesejável e inconciliável com o desempenho de suas atribuições", diz a carta de demissão assinada por fhc, o ex do brasil e presidente da fundação osesp. a íntegra do texto está ém http://www.osesp.art.br/noticias/detalheNoticias.aspx?codConteudo=313

se neschling foi superlativo em idealizar um projeto sinfônico sem precedentes na america latina (“meu projeto é tão ambicioso em termos artísticos e estruturais que é preciso encontrar a fórmula legal e financeira para realizá-lo”, dizia-me ele em entrevista para a antiga revista vivamúsica!, em março de 1997, dois anos antes da sala são paulo ser inaugurada), superlativa foi a repercussão de sua demissão.

quando, nos últimos dez anos, uma demissão de maestro foi notícia de primeira página nos principais meios de comunicação brasileiros?

assinalei de amarelo nas imagens acima o destaque que o pai de pedro e marido de patricia teve no noticiário on-line desta noite de mudança.

um processo sucessório orquestral ocupar todas as manchetes de noticário nacional é indicativo que a sociedade brasileira quer e precisa acompanhar o setor de música clássica.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

um lopes para os clássicos


o senhor sorridente na foto arredondada é lopes, o homem do vinho.

talvez você já tenha assistido a alguns de seus programas na rede tv e tenha uma opinião sobre ele. eu também tenho a minha, mas não é isso que vem ao caso agora.

por mais que ele legisle em causa própria - promovendo os vinhos que vende em suas lojas -, por mais que seu programa seja pra lá de cru (não confundir com grand cru), lopes tem um papel importante no fortalecimento do mercado do vinho no brasil.

o da vulgarização, no melhor sentido do termo.

o papel de explicar com palavras que o espectador médio - o bart simpson para quem william bonner edita o jornal nacional- consiga compreender.

para vender vinho, ele fala mais da reunião familiar em torno da garrafa do que das varietais. ressalta a emoção de abrir uma garrafa, insiste no caráter congregador da bebida. a boa nota de robert parker, pela qual milhares de vinicultores cortam os pulsos, é o de menos aqui.

em resumo, lopes embrulha o mundo do vinho de um jeito aparentemente simples. por ser ele mesmo alguém tão simples a ponto de tropeçar no português, consegue aproximar aquele produto fruto de uma cultura secular e sofisticada do mais desavisado telespectador.

o mundo dos concertos se beneficiaria se existisse uma espécie de lopes, o homem dos clássicos, falando a linguagem do povo, com capacidade de investimento para comprar horário em tv aberta nacional e, claro, com um produto para vender.

o vinho e os clássicos têm lá suas similaridades. ambos vêm da europa, parecem (e são) extremamente complicados à primeira vista, usam muitos termos estrangeiros e precisam de explicação. correm o risco de fazer vítimas, a exemplo dos "fashion victims" da moda. quem aguenta um enochato na mesa ao lado, exercitando olfato e paladar? e aquele frequentador de concertos que desmerece o novato do aplauso na hora errada?

vinho e clássicos também estão ligados por dois aspectos incomuns: a capacidade invejável de fidelização de seu público e a transmissão de um raro sentimento de felicidade. só mesmo provando para sentir.


segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

haydn no manguebeat


2009 é ano em que haydn completaria 200 anos de morte. na música clássica, aniversários de morte são especialmente celebrados.


a lógica assemelha-se à da igreja católica, onde os santos são lembrados em seu dia de chegada ao céu. para quem dá suas cacetadas em teologia, a proposta faz realmente todo sentido. quem não é do metier acaba achando a coisa meio fantasmagórica. como assim....celebrar a morte? estaríamos no méxico?

fato é que os dois séculos de decomposição (sem trocadilhos) de haydn serão ampalmente comemorados em todo mundo.

achei ótimo saber que, aqui no brasil, as celebrações oficiais pelo genial compositor começarão em recife.

"no recife, a música é o combustível que move todas as celebrações. frevo, maracatu, caboclinho, manguebeat, coco, forró, ciranda, brega e clássico embalam a vida aqui", diz o produtor musical flávio domingues, cônsul-honorário da áustria em pernambuco e idealizador das comemorações.

"semelhante ao recife, mas na dimensão de uma nação de uma longa história, a áustria é reconhecida mundialmente como grande celeiro musical."

"por isso, a decisão da embaixada da áustria de iniciar as celebrações dos 200 anos da morte do compositor franz joseph haydn na capital multicultural do brasil é muito bem vinda e deve ser aproveitada como momento de ampliar uma relação econômica, turística e cultural que poderá proporcionar frutos para ambos os lados", segue o cônsul honorário.

pois inaugura hoje, e vai até 30 de janeiro, no tribunal de justiça de pernambuco, uma exposição dedicada a haydn, com partituras, painéis ilustrativos e gravuras. no dia 31 de março, a orquestra sinfônica do recife faz concerto especial no teatro santa isabel.

o mais interessante e ousado do discurso de flávio domingues é quando ele estabelece o link do pai da sinfonia com a cena manguebeat.

"o recife e pernambuco também têm seus gênios da música comparáveis aos artistas austríacos, guardadas a distância temporal e a experiência cultural de cada lugar", diz o produtor.

"marlos nobre, nelson ferreira e maestro duda, clovis pereira, josé menezes, spok e maestro forró, capiba, chico science, cordel do fogo encantado, alceu valença e luiz gonzaga, antonio nóbrega, lenine, nação zumbi também fizeram a música ficar muito mais rica", completa.

claro que domingues carregou nas tintas. e fez isso de propósito, pois a falas acima foram publicadas em jornal local de grande circulação (diário de pernambuco, 18/01/09).

haydn e chico science são farinhas de sacos diferentes, convenhamos.

mas também convenhamos que há instâncias onde estas farinhas de misturam, sem cerimônia nem parcimônia. a principal delas, e a mais recorrente, é no coração dos ouvintes.

na bagunça do meu coração, por exemplo, o velho franz joseph às vezes erra de veia e se perde de bach, schumann e villa-lobos. quando se dá conta, haydn está ao lado de lirinha, do cordel do fogo encantado. e, ali, eles se entendem bem.

quem tem gosto amplo para música e aprecia a sintonia com o zeitgeist (o espírito de seu tempo), acaba misturando as estações.

de estações, haydn compreende bem.

mas, voltando ao posicionamento de flávio domingues, ao colocar haydn ao lado de artistas locais, ele está fazendo grande favor....a haydn! no sentido mercadológico, quero dizer. ele está dizendo ao leitor que haydn (certamente desconhecido de 95% da população do recife) é tão bom quanto as estrelas da música pernambucana (conhecidas e queridas do povo).

do ponto de vista da divulgação da música clássica, nota dez.

quem acha exagero estabelecer pontes tão claras entre a cena pernambucana regional e a música clássica precisa ouvir a gravação de yo-yo ma e o duo assad para o frevo "vassourinhas". está no último disco de ma. dá um orgulho danado.

domingo, 18 de janeiro de 2009

gelb, ópera e pipoca


peter gelb, o diretor geral do metropolitan opera house de nova york, bem podia ter escolhido outro cenário para a foto, além de um teatro completamente vazio.

a mensagem subliminar é indisfarçável.

mas, como o big shot não dá ponto sem nó, deve ter tido lá suas razões.

e gelb pode se dar ao luxo de dar uma rara bola fora. foi dele a idéia de transmitir as óperas do met para cinemas em todo o mundo. um ovo de colombo.

o formato está previsto para chegar ao brasil nos primeiros dias de fevereiro. teasers já estão sendo exibidos nos cinemas, mas cidades datas, horários e preços ainda não foram divulgados oficialmente. sabe-se que rio de janeiro e são paulo encabeçam o circuito de transmissão digital de seis óperas (a primeira "la rondine", com o casal angela gheorghiu e roberto alagna). a exibição aqui será feita com algumas semanas de atraso. há países em que ela acontece ao vivo, simultaneamente com nova york.
duas semanas atrás publicamos matéria a respeito no site vivamúsica!. títulos e elencos completos da óperas previstas para transmissão estão em http://www.vivamusica.com.br/noticia.php?id=980.

gelb é um sujeito intrinsecamente ligado ao audio-visual.

era de se esperar que, na era da transmissão HD, estando ele a frente da principal casa de ópera do mundo, sendo urgentes novas iniciativas para ampliar o público de clássicos, suas ágeis células cinzentas juntassem lé e cré.

em 1999, quando prestei serviços à sony classical aqui no brasil, senti na pele o que é trabalhar com peter gelb. ele era o presidente mundial da companhia e eu uma mera prestadora de serviços na filial brasileira.

acompanhei, de longe, algumas de suas tacadas de mestre e senti na pele sua determinação em estabelecer fortes vínculos com o circuito exibidor de cinema. o link de então eram os filmes cuja trilha pertencia à sony. uma de minhas responsabilidades semanais era enviar à matriz em nova york as bilheterias de filmes com trilhas sony classical.....mesmo que a trilha não tivesse sido lançada pela filial brasileira. os números eram necessários e pronto.

achei engraçado quando, em julho de 2008, recebi um email do parceiro brasileiro das transmissões do met, a rain digital. atrás do que minha interlocutora estava? números, claro. números de montagens anuais de ópera no brasil, quantidade de público atingido, montantes de patrocínio. a cara de peter gelb.

os números da recessão americana devem estar tirando o sono de gelb, já queda de cabelo não lhe é consequência nova.

anteontem, foram divulgadas as perdas do metropolitan pós-recessão.

a dotação anual de 300 milhões de dólares sofreu perdas de 2/3. as doações encolheram em 10 milhões de dólares. a venda de ingressos para as produções da temporada está abaixo da meta. a equipe senior de gerenciamento do met sofreu decréscimo salarial de 10%. os cantores de maior sucesso - e mais caros - estão recebendo propostas de renegociação de cachê.

e gelb se deixa fotografar em um teatro vazio. pensando bem, talvez seja o cenário ideal para quem precisa rebolar. especialmente sendo americano.

mais que nunca, é preciso que a fómula "ópera com pipoca" emplaque de vez nas 800 salas de cinema em todo mundo que já fazem parte do circuito exibidor do met e, claro, aqui em pindorama.

queremos salas de cinema cheias de gente interessada em música, aproveitando para, finalmente, conseguir tomar seu refrigerante e comer sua pipoca enquanto assiste a puccini, gluck e amigos, sem levar bronca do colega de poltrona.

se as óperas passarem em um cinema perto de você, prestigie e me conte o que achou.

música brasileira, kd vc?


tenho pensado mais do que costume na música clássica composta no brasil, por conta de uma reportagem especial para o anuário vivamúsica! 2009.

o resultado de tanto pensamento é muito bom e muito angustiante.

é ótimo dar-se conta da enormidade da produção musical de nosso passado (desde o final do século 18 produz-se música clássica de boa qualidade por estas bandas) e da quantidade de compositores criando música nos dias de hoje. faz bem pra auto-estima.

mas é angustiante contabilizar a pífia presença da música brasileira no repertório de orquestras e nas transmissões de rádio.

"é criminoso o que o brasil faz com seus compositores clássicos", disse-me dia desses, em entrevista, o maestro john neschling. "fazemos pouquíssimo", reiterava ele na conversa.
e sua orquestra, a osesp, é quem mais faz pela execução de música brasileira.

seria exagero pensar em uma reserva de mercado para os compositores clássicos?

aqui do meu lado, a contabilidade me parece positiva.

faz bastante tempo que fiz uma "opção preferencial pelos brasileiros" e deixo isso claro por onde passo.

seja em conteúdos próprios de vivamúsica!, seja em parcerias, como na rádio cbn e no canal de bordo da tam, procuro deixar um rastro de brasil o mais nítido possível. tem dado certo.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

lula decreta "dia nacional da música clássica"




após o post anterior a respeito da música clássica na agenda de barack obama (no dia da posse, pelo menos), eis que nosso guia dá uma de suas melhores canetadas dos últimos tempos.

o decreto presidencial de 13 de janeiro de 2009 instituiu o dia nacional da música clássica, comemorado na data de nascimento de villa-lobos.a partir de agora, celebrações clássicas no 5 de março são oficiais em todo o brasil.

a notícia me tira o sono, pelo melhor dos motivos.

quatro anos atrás, meu sócio luiz alfredo moraes teve uma de suas ótimas sacadas.

"existe um dia consagrado ao samba, outro ao frevo, outro ao choro.... já existe uma data para comemorar a música clássica?", perguntou ele.

à minha resposta negativa, seguiu-se outra pergunta dele: "e o que falta para ter?".

foi assim que resolvemos fazer uma enquete nacional com músicos e profissionais ligados à música clássica em todo brasil, sugerindo que fosse escolhida uma data para celebrar os clássicos.
nossas propostas foram os aniversários dos compositores villa-lobos, carlos gomes e josé maurício nunes garcia - este último, por sugestão do compositor edino krieger.
minha idéia inicial era que o terceiro nome fosse um compositor do século 20. estávamos em dúvida entre claudio santoro, camargo guarnieri e guerra-peixe. consultei a opinião de edino e ele me sugeriu substituir o século 20 pelo 19 e indicar josé maurício nunes garcia.
fechados os três concorrentes, a votação foi convocada pela edição 2005 do anuário vivamúsica!.

aquela mesma edição trazia entrevista com a consultora americana de marketing artístico joanne scheff bernstein.

ao receber o exemplar do anuário e ver a convocação para a escolha do dia da música clássica, joanne me mandou um email animadíssima, dando parabéns pela ideia e dizendo que ia dar a dica a seus clientes americanos, dando o devido crédito à vivamúsica!. se deu mesmo, não sei.
ao longo de 2005, a rádio mec fm se juntou à campanha pelo dia da música clássica, veiculando chamadas ao longo da programação e convidando seus ouvintes a votarem por telefone.uma urna foi colocada na sala cecília meireles, no rio de janeiro, para que frequentadores pudessem depositar seus votos.
deu villa-lobos na cabeça, ainda que, por algumas semanas, josé maurício nunes garcia tenha estado na pole position. houve até uma espécie de torcida organizada por josé maurício, encabeçada pela associação de canto coral, que nos enviada listagens e listagens de abaixo-assinados defendendo o compositor padre e mulato.
definido o resultado, em meados de dezembro, o repórter eduardo fradkin, do jornal o globo, escreveu matéria sobre a escolha da data e consultou o prefeito césar maia a respeito da possibilidade de oficializar a data.
ao tomar ciência que a escolha havia caído sobre villa-lobos, o alcaide carioca apressou-se em publicar decreto tornando a data oficial.
naquele 5 de março de 2006, uma série de concertos organizados pela prefeitura e por realizadores particulares movimentou a cidade.
ainda em 2006, procurei antonio grassi, então presidente da funarte, e, por sugestão dele, foram iniciados os trâmites burocráticos para um decreto de lula inserindo a data no calendário oficial do país. flávio silva, da coordenação de música da funarte, se encarregou, à época, de providenciar os embasamentos técnicos para a defesa da proposta.
nem 2007, procurei o deputado que elegi na assembléia legislativa, alessandro molon (pt-rj), e sugeri que ele encaminhasse um projeto de lei tornando a data oficial no estado do rio. molon foi ágil no encaminhamento e o governador sergio cabral gostou tanto da idéia de um dia estadual da música clássica que foi pessoalmente sancionar a lei em cerimônia solene no palácio tiradentes, com concerto do quinteto villa-lobos. além da cerimônia na alerj no próprio 5 de março, uma série de eventos ao longo da semana comemoraram a data, por iniciativa de entidades públicas e privadas.
o ano de 2008 fez ver que a data "pegou" de vez. o sucesso das comemorações no interior do estado do rio, em cidades como paraíba do sul, piraí e paty do alferes, além da capital, comprovaram a força do 5 de março. repercussão de mídia e de público foram excelentes.
neste começo de 2009, a excelente notícia que o decreto do presidente lula saiu.
se o ano já prometia por conta do cinquentenário de morte de villa-lobos, o decreto presidencial instituindo o dia nacional da música clássica confere um status diferencial a todo o setor.
fiquei tão movida e tão sem sono que enviei mensagem ao presidente lula.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

clássicos & obama


na posse de barack obama, terça-feira que vem, a música clássica vai ocupar lugar especial.

imediatamente antes do juramento do novo presidente, um quarteto fantástico vai estrear obra de john williams composta especialmente para a ocasião.

itzhak perlman, violino; yo-to ma, violoncelo; gabriela montero, piano; e anthony mcgill, clarinete, vão fazer uma cama musical para o momento-chave da posse.

é inspirador ver música clássica estrategicamente associada a tempos de mudança.
clássicos repaginados e atualizados: a mudança pode (e deve) acontecer.


segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

pedidos de bis por celular


outro ótimo exemplo de uso civilizado de telefone celular em concertos está nesta mesma edição novembro-dezembro 2008 da revista "symphony", editada pela liga das orquestras americanas.

a orquestra filarmônica de nova york tem recebido pedidos de músicas para o bis de seus concertos ao ar livre no central park por mensagem de texto.

em 24 de junho de 2008, por exemplo, as músicas mais pedidas eram "purple haze", de jimi hendrix (!) e "o vôo do besouro", de rimsky-korsakov.

hendrix recebeu o maior número de votos por sms. um bom sinal de gente jovem na platéia.
bem que a osesp ou a orquestra sinfônica brasileira - ou qualquer outra orquestra brasileira - poderia valer-se de semelhante expediente em seus próximos concertos ao ar livre.


domingo, 11 de janeiro de 2009

sms no intervalo


uma das mais instigantes leituras em papel sobre o mercado da música clássica é a revista "symphony", editada pela liga das orquestras americanas (league of american orchestras).

a liga fornece um mundo de informações valiosíssimas sobre cultura sinfônica, obviamente focada nos estados unidos.

mas, aqui também, vale aplicar a máxima "o que é bom para os eua é bom para o brasil".

expande horizontes ler um exemplar da "symphony".

a edição novembro-dezembro, a mais recente que recebi, traz relato interessante de uso de mensagem de texto de celulares.
logo eles, os celulares, tão execrados quando soam nos teatros. finalmente um uso positivo!

eis a tradução da breve notícia publicada:

"telefones celulares estão proporcionando novas maneiras de orquestras interagirem com espectadores em concertos ao ar livre.

a orquestra sinfônica de atlanta estreou seus concertos de verão transmitidos ao vivo, convidando o público a enviar perguntas por sms.

a idéia era o espectador mandar a pergunta que gostaria de ver sendo feita nas entrevistas que acontecem no intervalo do concerto."

touché!

uma maneira incrivelmente simples de colocar a música clássica na rotina diária das pessoas.

se eu mando mensagens de texto para pessoas queridas e-ou necessárias, por que não mandar para minha orquestra querida-necessária?