sábado, 31 de janeiro de 2009
osb e osesp abrem seu íntimo
um (literal) círculo de conversa com o maestro roberto minczuk, luiz benedini e ricardo levisky - estes últimos diretores executivo e de marketing da osb -, além da administradora artística rosana martins.
ontem, a orquestra sinfônica do estado de são paulo reviu sua temporada 2009, a primeira sem neschling.
selecionou alguns jornalistas para entrevistas reservadas com o primeiro escalão da fundação que a administra - fernando henrique cardoso, pedro moreira salles, luiz schwarz e darin milling. o cenário? sala camargo guarnieri, no próprio edificio-sede, a imponente sala são paulo.
em 24 horas, as duas principais orquestras do país disponibilizaram-se para mostrar seu íntimo a poucos escolhidos. coincidência ou sincronicidade?
a hora é essa. façam-se as perguntas.
fiz as minhas e fiquei satisfeita com as respostas. publiquei quase todos os pontos que juntei da osb e da osesp .
quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
o ás do baralho sinfônico
a gestão de uma orquestra - talvez, no brasil, possa se dizer da cultura como um todo - tangencia em inúmeros e profundos aspectos a esfera política.
a voz dos músicos costuma rondar a esfera decisória com menor proximidade do que o grupo desejaria.
outro ponto valorizado na tomada de decisões é o marketing.
e, claro, há que se considerar o cidadão a quem tudo aquilo se dirige, mas muitas vezes relegado a uma importância mirim.
se o circuito orquestral fosse uma mesa de carteado, quem seria o ás do baralho? arte, política, marketing ou público?
em um possível royal flush sinfônico, eu arriscaria a seguinte sequência: política (ás), arte (rei), marketing (valete), músicos (dama) e público (10).
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
cobertura do met em cinemas
terça-feira, 27 de janeiro de 2009
cidadania musical via 0800
a charge acima, feita pelo cartunista laerte para a orquestra sinfônica do estado de são paulo (a famosa osesp), coloca um ponto importante nas relações da música clássica com a sociedade.
com humor, laerte abordou a qualidade da prestação de serviços artísticos e a importância do feedback dos consumidores.
mesmo em tom de brincadeira, a coisa é séria.
se os consumidores de transporte público, por exemplo, têm um telefone 0800 a disposição para criticar e sugerir melhorias, por que não os consumidores de música clássica? a consolidação de canais de expressão voltados para o público de clássicos é algo cada vez mais necessário.
o slogan da própria osesp frisa: "pode aplaudir que a orquestra é sua".
é mesmo sua, minha, nossa. a verba que viabiliza temporadas vem de recursos próprios do governo do estado de são paulo ou por renúncia fiscal via leis de incentivo cultural, que, em última análise, é dinheiro público.
o tal 0800, o telefone para sugestões da charge de laerte, o bom e velho SAC (serviço de atendimento ao consumidor) conhecido das embalagens de leite, conservas, congelados e afins...todos estes canais atualmente pouco utilizados pelo povo dos clássicos remetem ao melhor exercício de cidadania musical.
a recente demissão do maestro neschling tem provocado uma enxurrada de manifestações do público consumidor da osesp.
o caso, como era de se esperar, tomou grande dimensão e mexeu com os brios de diversos tipos de consumidores de clássicos em busca do exercício de sua cidadania musical.
do assinante da orquestra ao crítico do jornal francês "le monde", passando pelo paulistano que paga impostos e nem frequenta os concertos, mas aprecia a existência do projeto de excelência artística como expressão de força da cultura local. todos se manifestaram pela imprensa.
se a osesp já era o que os marqueteiros chamam de "case", pelo seu enorme sucesso e posicionamento referencial dentro da indústria cultural, o episódio da demissão de neschling comprova que o mundo orquestral tem algo a acrescentar em termos de feedback de consumidores.
domingo, 25 de janeiro de 2009
clássicos clubber
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
neschling em 1997, síntese do sonho
o registro fotográfico acima faz parte do acervo de imagens de vivamúsica!.
a foto foi tirada em1997, no dia do concerto histórico da então "nova" osesp no canteiro de obras que viria a ser sua sede: a estação julio prestes.
suado, john neschling cumprimenta o governador mário covas, grande financiador do sonho de uma orquestra brasileira de nível internacional. o spalla claudio cruz observa. um batalhão de fotógrafos e cinegrafistas documenta.
aí temos alguns elementos que sintetizam o que viria ser a osesp sonhada por neschling.
suor, dinheiro, política, músicos, mídia, canteiro de obras.
ou melhor, muito suor, muito dinheiro, muita vontade política, muitos bons músicos, muito investimento em cobertura de mídia e muito investimento na obra que gerou o hall sinfônico perfeito.
em suma, foi isso que fez a osesp chegar onde chegou.
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
neschling nas manchetes
terça-feira, 20 de janeiro de 2009
um lopes para os clássicos
segunda-feira, 19 de janeiro de 2009
haydn no manguebeat
2009 é ano em que haydn completaria 200 anos de morte. na música clássica, aniversários de morte são especialmente celebrados.
a lógica assemelha-se à da igreja católica, onde os santos são lembrados em seu dia de chegada ao céu. para quem dá suas cacetadas em teologia, a proposta faz realmente todo sentido. quem não é do metier acaba achando a coisa meio fantasmagórica. como assim....celebrar a morte? estaríamos no méxico?
fato é que os dois séculos de decomposição (sem trocadilhos) de haydn serão ampalmente comemorados em todo mundo.
achei ótimo saber que, aqui no brasil, as celebrações oficiais pelo genial compositor começarão em recife.
"no recife, a música é o combustível que move todas as celebrações. frevo, maracatu, caboclinho, manguebeat, coco, forró, ciranda, brega e clássico embalam a vida aqui", diz o produtor musical flávio domingues, cônsul-honorário da áustria em pernambuco e idealizador das comemorações.
"semelhante ao recife, mas na dimensão de uma nação de uma longa história, a áustria é reconhecida mundialmente como grande celeiro musical."
"por isso, a decisão da embaixada da áustria de iniciar as celebrações dos 200 anos da morte do compositor franz joseph haydn na capital multicultural do brasil é muito bem vinda e deve ser aproveitada como momento de ampliar uma relação econômica, turística e cultural que poderá proporcionar frutos para ambos os lados", segue o cônsul honorário.
pois inaugura hoje, e vai até 30 de janeiro, no tribunal de justiça de pernambuco, uma exposição dedicada a haydn, com partituras, painéis ilustrativos e gravuras. no dia 31 de março, a orquestra sinfônica do recife faz concerto especial no teatro santa isabel.
o mais interessante e ousado do discurso de flávio domingues é quando ele estabelece o link do pai da sinfonia com a cena manguebeat.
"o recife e pernambuco também têm seus gênios da música comparáveis aos artistas austríacos, guardadas a distância temporal e a experiência cultural de cada lugar", diz o produtor.
"marlos nobre, nelson ferreira e maestro duda, clovis pereira, josé menezes, spok e maestro forró, capiba, chico science, cordel do fogo encantado, alceu valença e luiz gonzaga, antonio nóbrega, lenine, nação zumbi também fizeram a música ficar muito mais rica", completa.
claro que domingues carregou nas tintas. e fez isso de propósito, pois a falas acima foram publicadas em jornal local de grande circulação (diário de pernambuco, 18/01/09).
haydn e chico science são farinhas de sacos diferentes, convenhamos.
mas também convenhamos que há instâncias onde estas farinhas de misturam, sem cerimônia nem parcimônia. a principal delas, e a mais recorrente, é no coração dos ouvintes.
na bagunça do meu coração, por exemplo, o velho franz joseph às vezes erra de veia e se perde de bach, schumann e villa-lobos. quando se dá conta, haydn está ao lado de lirinha, do cordel do fogo encantado. e, ali, eles se entendem bem.
quem tem gosto amplo para música e aprecia a sintonia com o zeitgeist (o espírito de seu tempo), acaba misturando as estações.
de estações, haydn compreende bem.
mas, voltando ao posicionamento de flávio domingues, ao colocar haydn ao lado de artistas locais, ele está fazendo grande favor....a haydn! no sentido mercadológico, quero dizer. ele está dizendo ao leitor que haydn (certamente desconhecido de 95% da população do recife) é tão bom quanto as estrelas da música pernambucana (conhecidas e queridas do povo).
do ponto de vista da divulgação da música clássica, nota dez.
quem acha exagero estabelecer pontes tão claras entre a cena pernambucana regional e a música clássica precisa ouvir a gravação de yo-yo ma e o duo assad para o frevo "vassourinhas". está no último disco de ma. dá um orgulho danado.
domingo, 18 de janeiro de 2009
gelb, ópera e pipoca
e gelb pode se dar ao luxo de dar uma rara bola fora. foi dele a idéia de transmitir as óperas do met para cinemas em todo o mundo. um ovo de colombo.
o formato está previsto para chegar ao brasil nos primeiros dias de fevereiro. teasers já estão sendo exibidos nos cinemas, mas cidades datas, horários e preços ainda não foram divulgados oficialmente. sabe-se que rio de janeiro e são paulo encabeçam o circuito de transmissão digital de seis óperas (a primeira "la rondine", com o casal angela gheorghiu e roberto alagna). a exibição aqui será feita com algumas semanas de atraso. há países em que ela acontece ao vivo, simultaneamente com nova york.
mais que nunca, é preciso que a fómula "ópera com pipoca" emplaque de vez nas 800 salas de cinema em todo mundo que já fazem parte do circuito exibidor do met e, claro, aqui em pindorama.
música brasileira, kd vc?
o resultado de tanto pensamento é muito bom e muito angustiante.
é ótimo dar-se conta da enormidade da produção musical de nosso passado (desde o final do século 18 produz-se música clássica de boa qualidade por estas bandas) e da quantidade de compositores criando música nos dias de hoje. faz bem pra auto-estima.
mas é angustiante contabilizar a pífia presença da música brasileira no repertório de orquestras e nas transmissões de rádio.
"é criminoso o que o brasil faz com seus compositores clássicos", disse-me dia desses, em entrevista, o maestro john neschling. "fazemos pouquíssimo", reiterava ele na conversa.
seria exagero pensar em uma reserva de mercado para os compositores clássicos?
aqui do meu lado, a contabilidade me parece positiva.
sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
lula decreta "dia nacional da música clássica"
o decreto presidencial de 13 de janeiro de 2009 instituiu o dia nacional da música clássica, comemorado na data de nascimento de villa-lobos.a partir de agora, celebrações clássicas no 5 de março são oficiais em todo o brasil.
a notícia me tira o sono, pelo melhor dos motivos.
quatro anos atrás, meu sócio luiz alfredo moraes teve uma de suas ótimas sacadas.
"existe um dia consagrado ao samba, outro ao frevo, outro ao choro.... já existe uma data para comemorar a música clássica?", perguntou ele.
à minha resposta negativa, seguiu-se outra pergunta dele: "e o que falta para ter?".
foi assim que resolvemos fazer uma enquete nacional com músicos e profissionais ligados à música clássica em todo brasil, sugerindo que fosse escolhida uma data para celebrar os clássicos.
nossas propostas foram os aniversários dos compositores villa-lobos, carlos gomes e josé maurício nunes garcia - este último, por sugestão do compositor edino krieger.
aquela mesma edição trazia entrevista com a consultora americana de marketing artístico joanne scheff bernstein.
ao receber o exemplar do anuário e ver a convocação para a escolha do dia da música clássica, joanne me mandou um email animadíssima, dando parabéns pela ideia e dizendo que ia dar a dica a seus clientes americanos, dando o devido crédito à vivamúsica!. se deu mesmo, não sei.
ao longo de 2005, a rádio mec fm se juntou à campanha pelo dia da música clássica, veiculando chamadas ao longo da programação e convidando seus ouvintes a votarem por telefone.uma urna foi colocada na sala cecília meireles, no rio de janeiro, para que frequentadores pudessem depositar seus votos.
deu villa-lobos na cabeça, ainda que, por algumas semanas, josé maurício nunes garcia tenha estado na pole position. houve até uma espécie de torcida organizada por josé maurício, encabeçada pela associação de canto coral, que nos enviada listagens e listagens de abaixo-assinados defendendo o compositor padre e mulato.
definido o resultado, em meados de dezembro, o repórter eduardo fradkin, do jornal o globo, escreveu matéria sobre a escolha da data e consultou o prefeito césar maia a respeito da possibilidade de oficializar a data.
ao tomar ciência que a escolha havia caído sobre villa-lobos, o alcaide carioca apressou-se em publicar decreto tornando a data oficial.
naquele 5 de março de 2006, uma série de concertos organizados pela prefeitura e por realizadores particulares movimentou a cidade.
ainda em 2006, procurei antonio grassi, então presidente da funarte, e, por sugestão dele, foram iniciados os trâmites burocráticos para um decreto de lula inserindo a data no calendário oficial do país. flávio silva, da coordenação de música da funarte, se encarregou, à época, de providenciar os embasamentos técnicos para a defesa da proposta.
nem 2007, procurei o deputado que elegi na assembléia legislativa, alessandro molon (pt-rj), e sugeri que ele encaminhasse um projeto de lei tornando a data oficial no estado do rio. molon foi ágil no encaminhamento e o governador sergio cabral gostou tanto da idéia de um dia estadual da música clássica que foi pessoalmente sancionar a lei em cerimônia solene no palácio tiradentes, com concerto do quinteto villa-lobos. além da cerimônia na alerj no próprio 5 de março, uma série de eventos ao longo da semana comemoraram a data, por iniciativa de entidades públicas e privadas.
o ano de 2008 fez ver que a data "pegou" de vez. o sucesso das comemorações no interior do estado do rio, em cidades como paraíba do sul, piraí e paty do alferes, além da capital, comprovaram a força do 5 de março. repercussão de mídia e de público foram excelentes.
neste começo de 2009, a excelente notícia que o decreto do presidente lula saiu.
se o ano já prometia por conta do cinquentenário de morte de villa-lobos, o decreto presidencial instituindo o dia nacional da música clássica confere um status diferencial a todo o setor.
fiquei tão movida e tão sem sono que enviei mensagem ao presidente lula.