quarta-feira, 11 de maio de 2011

Cinco pedras no sapato dos clássicos – Ronen Givony comenta



Existe um diretor de programação nos Estados Unidos chamado Ronen Givony, profissional que tem como assinatura pessoal apagar fronteiras entre gêneros musicais e artistas, programando séries que misturam música de câmara com pop alternativo, repertório da idade média com música contemporânea.

Ele inventou uma série de espetáculos chamada Wordless Music, Música sem palavras, que rodou diversos locais de Nova York apresentando essa variedade toda. Givony é diretor do Le Poisson Rouge, uma espécie de cabaré no Greenwich Village novaiorquino que tem, claro, essa cara de misturar gêneros. Uma fórmula de grande sucesso no circuito musical da cidade, que tem servido de inspiração no mundo todo.

Pois esse senhor que observa bem de perto os movimentos do pop e do rock e também está atento ao que de melhor é produzido na música clássica, ele apontou cinco aspectos que causam inflexibilidade nas relações com artistas clássicos e dificultam sua inserção em um circuito mais amplo de música.

Em primeiro lugar, a questão da exclusividade. Ele lembra que é comum realizadores de concerto exigirem exclusividade em uma determinada região e por determinado tempo. O festival de verão de Aspen, nos Estados Unidos, por exemplo, exige que os artistas contratados não se apresentem na região por vários meses. Exclusividade pode ser mesmo um problema, pois dificulta a circulação dos artistas, muitas vezes vindos de outros países e com rara oportunidade de encontrar o público.

Em segundo lugar, Ronen Givony aponta a questão financeira. Cachês de artistas clássicos, especialmente os solistas, são muito altos e têm um valor fixo, não importa a quantidade de público presente. Ele lembra haver solistas que cobram mais de 15 mil dólares por apresentação e isso inviabiliza muitas produções. É mais em conta contratar um artista da música popular, que será mais flexível quanto ao cachê cobrado.

Em terceiro lugar, a questão do timing. O mundo clássico está acostumado a reservar datas na agenda dos músicos com dois ou três anos de antecedência. Isso inviabiliza programações que sejam pensadas com poucos meses de antecedência, que é comum no mundo pop-rock.

Em quarto lugar, Ronen Givony lembra a questão da promoção dos espetáculos. Enquanto os músicos de rock compreendem a extrema importância de divulgar eles mesmos seus espetáculos (seja pela internet ou outros meios), músicos clássicos não assumem esta tarefa, deixando que empresários, divulgares e organizadores de concertos cuidem da divulgação.

Por último, o diretor musical do Poisson Rouge de NovaYork levanta a questão do empreendedorismo. Músicos de rock e pop costumam levantar as mangas e fazer a coisa acontecer, buscar mudanças...o mesmo não costuma aocntecer no mundo dos concertos. Ele cita o caso dos Beatles, dos Sex Pistols.

O discurso de Ronen Givony pode ser um pouco apocalíptico, mas lamentavelmente, tem lá sua razão de ser.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

MEC FM: O amor do Japão pelos clássicos e o programa infantil da NHK




A tragédia sofrida pelo Japão, com terremoto, tsunami e acidente nuclear, é de uma magnitude e uma tristeza únicas. Além das vidas perdidas e ameaçadas, da dor e do luto, da destruição e do medo, acumulam-se prejuízos econômicos, sociais e culturais difíceis de mensurar. O Japão é um dos principais mercados do mundo em termos de consumo de cultura. No que tange à música popular, a brasileira especificamente, os japoneses demonstram uma veneração por João Gilberto & cia que nós mesmos muitas vezes não sentimos. A Bossa Nova é mais tocada e conhecida nos grandes centros urbanos japoneses do que nas rádios de cidades brasileiras.

A música clássica, ponto de interesse de quem, como você ouve a MEC FM, tem no Japão um de seus principais mercados consumidores. Turnês de artistas, montagens de espetáculos, venda de gravações, leitura de revistas especializadas, a presença da música clássica na televisão e no rádio, as animações (chamados de animês ou animes) cuja trama ronda em torno do universo de concertos....japoneses têm uma atitude quase de devoção. É respeito misturado com adoração e reconhecimento, em um tratamento com grande profissionalismo e cuidado. Traços tão marcantes da cultura japonesa presentes também na sua relação com a música clássica. Como o fatídico 11 de março de 2011 atinge o mercado internacional de clássicos? Eis algo que tem sido pouco falado e comentado nos ambientes de discussão de mercado musical, mas certamente o impacto também é grande para o setor.

Neste contexto de perdas e danos japoneses, recebi um DVD enviado pelo ouvinte Luiz Carlos da Silva, da Tijuca. Ele enviou antes do terremoto japonês, mas eu só tive oportunidade de assistir depois da tragédia. O Luiz Carlos já havia me escrito para mencionar que a rede de televisão NHK, do Japão, transmitia um programa interessante de música clássica pra crianças. Pois ele mandou aqui pra rádio um DVD do tal programa, que tem nome em inglês. Chama-se “You gotta quintet”, ou seja, “Você tem um quinteto”. Por não ter legendas e ser falado em japonês, eu não pude compreender exatamente o que se passava. Mas como a música é o personagem principal, deu para perceber a dinâmica da coisa. Os personagens são bonecos tipo marionete, que são manipulados. Cada um toca seu instrumento: tem um violoncelista que é um senhor mais velho, uma violinista tipo trintona que também canta, um clarinetista pela casa dos 40, um trompetista de 20 e poucos que também é percussionista e um pianista, sendo que o pianista é humano, mas tem um boneco igual a ele. Achei incrível a manipulação dos marionetes. O ataque das cordas, o balanço do corpo e da cabeça, é exatamente como um ser humano faria. Quem manipula os bonecos deve tocar instrumentos, a coisa é sincrônica demais. Música clássica é o fundamental do programa, mas também há espaço para música folclórica e tradicional.

Fui pegar informações na internet e fiquei sabendo que o “You gotta quintet”, foi criado em 2004 e foi exibido até março de 2011, tendo lançado vários CDs e DVDs no mercado japonês. Tomara que a descontinuidade do programa não tenha tido qualquer relação com o terremoto.

MEC FM: Festival de Salzurgo desperta para o Brasil e tem muito a oferecer



“O papel da arte é despertar os ouvidos, os olhos, o pensamento humano”. Essa bela frase do compositor italiano Luigi Nonno é uma espécie de lema do Festival de Salzburgo 2011, na Áustria. O evento acontece entre o final de julho e o final de agosto. Realizado na cidade onde Mozart nasceu, é um dos mais tradicionais festivais de música clássica do mundo– quiçá “o” mais tradicional. Sua primeira edição foi lá atrás, em 1870. Sofreu descontinuidades, foi refundado em 1920, teve que ser interrompido nas grandes guerras mundiais e desde 1945 vem sendo apresentado anualmente. Salzburgo traz sempre um mix de óperas – especialmente as de Mozart -, orquestras, recitais e música de câmara. Há também uma programação de teatro.

Quando o programa de Salburgo 2011 chegou pelo correio, veio acompanhado de uma carta assinada por Helga Rabl-Stadler, presidente do festival, e Eva Anzaloni, responsável por desenvolvimento na America Latina. Ao mencionar a frase de Luigi Nonno, a carta acrescentava: “O despertar dos sentidos, a vibração da alma – esta forte e ampla mensagem – é o que dá ao Festival de Salzburgo a força e a energia”. Eu já cheguei a comentar aqui na MEC FM que o festival austríaco estava prestando especial atenção ao Brasil como mercado fornecedor de novos patronos e assinantes. Uma delegação esteve pessoalmente visitando nosso país, no Rio e também em São Paulo. É bom saber que toda a vibração de Salzburgo quer mesmo chegar até aqui. Os organizadores do festival despertaram e querem mais brasileiros que amam a música clássica sentados em suas poltronas assistindo aos espetáculos.

Eu, aqui do meu lado, fico pensando o quanto nós, brasileiros que trabalhamos com clássicos, temos a aprender com a organização de um evento deste tamanho e desta importância. E eu nem me refiro aqui à questão artística e musical, mas sim à questão institucional do papel da música clássica na sociedade e também no estímulo à participação de gente jovem no circuito de concertos. O Festival de Salzburgo tem quatro linhas de ação muito interessantes que poderiam servir de referência para instituições musicais brasileiras.

As assinaturas para jovens – a partir de 2011, o festival disponibiliza assinaturas somente para quem tem menos de 27 anos. São 3 mil ingressos e os descontos chegam a 90% do preço cheio. Programa Jovens amigos do Festival – em Salzburgo, há um programa especial voltado para fidelizar jovens frequentadores. Se o festival tem um forte quadro de apoiadores mais velhos que banca parte de seus gastos, tem também um programa de patronato voltado para os jovens. Colônia de férias musical – essa é uma ótima ideia. Oferecer atividades para crianças entre 9 e 16 anos, todas relacionadas com a produção de uma ópera, sendo que a garotada monta seu próprio espetáculo e ainda assiste a uma montagem do festival. Por último, um programa chamado Juventude, Arte, Ciência, voltado a alunos de faculdades de ciências naturais e música, estimulando a discussão de pontos comuns entre criatividade e inovação na arte, na música e na ciência. Ah, sim, uma ultima coisa sobre o Festival de Salzburgo 2011. Meu coração brasileiro bateu mais forte ao constatar que o programa do recital do violoncelista Yo-Yo Ma tem duas músicas de Egberto Gismonti, em um repertorio que tem também Shostakovich, Schubert e Cesar Franck. É bonito saber que Gismonti será tocado na casa de Mozart.

MEC FM: Como apresentar os clássicos à Geração Y?



Você já ouviu falar na “Geração Y”? É uma faixa geracional que compreende os nascidos entre 1980 e 2003, ou seja, os mais velhos têm cerca de 30 anos e os mais novos nem chegaram ainda à primeira década de vida. O termo “Geração Y” foi cunhado nos Estados Unidos, país que tem uma longa tradição de pesquisas sociais e de comportamento. Mas se aplica também ao Brasil, respeitadas diferenças regionais e culturais. Dentro dessa faixa, , digamos assim, a sub-faixa da Geração Y que tem chamado maior atenção é a de quem está entre os 18 e os 30 anos. São os que estão no mercado de trabalho e, por estarem inseridos de forma ativa na corrente econômica, tendem a eles próprios ditarem os comportamentos e as regras do mercado como um todo. Assim como muitos outros setores da sociedade, a música clássica se beneficiará na medida em que estiver atenta ao perfil de comportamento destes jovens.

Quem são eles e como se comportam? É importante, antes de tudo, considerar ser esta uma geração nascida em famílias não mais presas ao formato padrão pai-mãe-filhos todos juntos. O fato de crescer em famílias de pais separados possibilitou que, pai de um lado e mãe do outro, os filhos acabassem recebendo, no final das contas, atenção maior. Isso gerou jovens para quem o senso de importância individual é muito significativo e cujos pais estão muito presentes, seja financeiramente, seja no aconselhamento. Ao mesmo tempo em que existe um individualismo evidente, a Geração Y apresenta uma profunda consciência social, preocupação com o meio ambiente e os direitos humanos. É uma geração crescida na era digital, nasceu com computador em casa. São mestres em multitarefas, em fazer várias coisas simultâneas. Pesquisa nos EUA comprovou que 40% dos jovens da Geração Y usam a internet e vêem TV ao mesmo tempo. Mas, para eles, a tecnologia é encarada como um facilitador da vida analógica. Os resultados têm que vir rápido e mudanças são sempre bem-vindas.

A que a música clássica deve estar atenta para se relacionar melhor com estes jovens entre 18 e 30 anos distantes da cultura de concertos? Como se posicionar e o que oferecer? Tenho alguns pontos a levantar nesta reflexão. Se estamos pisando no terreno do individual e do customizado, seria bom oferecer possibilidades de contato com a música clássica atendendo necessidades individuais. Se a comunicação digital é algo essencial, é bom haver conteúdo produzido especificamente para os meios digitais, internet, redes sociais, sms, celular. Se eles não estão presos a horários fixos – esta geração gosta, por exemplo, de assistir a seus programas de TV favoritos na internet, no horário que desejarem e não ficam presos ao horário de exibição – se a liberdade de horário é uma questão, é bom considerar isso.

Se é uma geração que valoriza compromisso social, é um bom momento para apresentar a eles os aspectos da música clássica como construtora de cidadania. Se eles valorizam atenção personalizada e feedback, é bom encontrar formas de chamá-los pelo nome, de conhecer suas expectativas e, por exemplo, criar canais de continuar o relacionamento após o concerto ter acontecido. Também é importante ouvi-los antes de criar projetos que sejam só para eles. Engajá-los será sempre relevante. Se os amigos são fator de grande motivação – a Geração Y é capaz de preferir um emprego que deixe mais próximo das amizades – então é bom pensar em oferecer programas em que grupos de amigos possam participar.

Apresentar a música clássica à Geração Y considerando tantos aspectos parece ser complicado, mas pode trazer muitas recompensas. O importante é começar.

MEC FM: Youtube Symphony Orchestra, festa para olhos e ouvidos



Um dos projetos mais diferentes e instigantes dos últimos tempos é a YouTube Symphony Orchestra, ou seja, a Orquestra Sinfônica do YouTube, o famosíssimo site de vídeos da internet. Houve uma primeira edição em 2009 nos EUA e outra em 2011, na Austrália. Se você não assistiu ainda a edição 2011, eu recomendo fortemente que assista. O vídeo está disponível na internet, basta procurar por Orquestra Sinfônica YouTube e carrega uma página em português. Lá está o concerto completo, com duas horas e 20 minutos de duração. Falando “você vai encontrar o concerto completo”, parece se tratar de um concerto de orquestra como outro qualquer. Mas não é bem assim. Logo no início do espetáculo, o maestro americano Michael Tilson Thomas, regente e consultor artístico da YouTube Symphony, avisa que aquilo prestes a começar não é um concerto comum, mas o ápice da colaboração entre os mundos da música clássica e da tecnologia. A música clássica está lá na forma de uma orquestra sinfônica de 101 músicos, com idade variando entre 14 e 49 anos, originários de 33 países (três deles brasileiros, um violinista, um trompista e um guitarrista),. O grupo foi selecionado pela internet, passou uma semana na Austrália para concertos na Opera de Sidney e também para masterclasses. A empreitada contou com o apoio da Filarmônica de Berlim, das sinfônicas de Londres e de Sydney. O projeto teve um compositor residente, o americano Michael Bates que criou uma obra especialmente para ocasião e patrocínio da fabrica de automóveis Hyundai, cujo slogan mundial é “new thinking, new possibilities” – novo jeito de pensar, novas possibilidades. Tudo a ver com a proposta da Orquestra Sinfônica YouTube.

O grande diferencial desse projeto é o uso da tecnologia a serviço dos clássicos, seja na própria sala de concerto (e fora dela), seja na construção e na divulgação de todas as etapas que levaram até o grande evento final. Durante o espetáculo, a sala de concerto esteve quase totalmente vestida por efeitos de luz e projeções. O lado de fora prédio da Ópera de Sidney, o principal cartão postal da Austrália, esteve o tempo todo também vestido por projeções e grafismos. Um trabalho incrível realizado pela empresa Obscura Digital e pelo artista gráfico Android Jones.

Li um artigo muito bom de David Cutler, músico, compositor, professor e escritor, especialista em empreendedorismo musical. Ele observou como algumas novidades da YouTube Symphony podem funcionar como referência para o ambiente sinfônico. O processo de audição dos músicos de orquestra, por exemplo, costuma ser cercado de sigilo, há casos em que usa-se inclusive um biombo para que o mérito musical prevaleça acima de tudo. A YouTube Symphony optou pelo extremo oposto: os concorrentes postavam seus vídeos, uma comissão selecionava uma quantidade maior de vídeos do que vagas disponíveis e a votação se dava aberta ao público pela internet. Ou seja, exigiu-se dos músicos uma mobilização de suas redes de relacionamento para que as pessoas votassem neles.

David Cutler lembra que, por mais críticas que este processo de votação aberta possa receber, toca justamente em um ponto importante da atualidade que é o próprio músico cultivar o seu público – uma atitude que colaboraria para aumentar a relevância da orquestra na comunidade. Outro aspecto que o autor levanta é a questão do concerto final da YouTube Symphony ter mostrado vídeos dos músicos em suas cidades de origem. O músico deixa de ser mais um integrante anônimo das estantes para aparecer como a pessoa que efetivamente é. E, por fim, a ênfase aos visuais. Uma quantidade grande de recursos humanos e financeiros foi investida na parte visual, fazendo uma verdadeira festa para os olhos.

O público mundial gostou: no dia em que gravei este comentário, só o concerto final da YouTube Symphony já havia sido visto por mais de um milhão e trezentas mil pessoas, fora os muitos outros materiais disponíveis no canal da orquestra, todos com audiência na casa dos seis dígitos ou mais.

MEC FM: É bom pra Inglaterra, seria muito bom para o Brasil



O que fazer quando a crise aperta e as verbas para manutenção de instituições artísticas e culturais começam a ser cortadas? Essa é uma situação que vem sendo vivida em diversos países, especialmente após a crise econômica mundial de 2008. Aqui no Brasil, o panorama não é muito diferente. É bem mais comum ver uma instituição cultural com problemas de custeio do que feliz da vida com a vida financeira em dia.

A pergunta sobre o que fazer quando a crise chega e as verbas minguam é difícil de responder. Por isso, chamou minha atenção uma atitude da rádio BBC 3, da Inglaterra, especializada em música clássica. A Grã-Bretanha tem passado por cortes radicais nas verbas de custeio de instituições culturais, orquestras inclusive. Pois neste contexto, a rádio pública inglesa teve uma iniciativa muito importante. Decidiu transmitir em todos os dias úteis concertos das diversas orquestras ativas no país. O mais interessante é que esta transmissão de eventos ao vivo de segunda a sexta era uma velha tradição da BBC, que havia sido abandonada há quatro anos, justamente por corte de custos. Felizmente, agora a rádio voltou atrás e retomou o seu papel de vitrine das orquestras inglesas.

O diretor da BBC 3, Roger Wright, disse com todas as letras a razão da retomada das transmissões ao vivo. Ele falou: “Em um momento de crise, quando as verbas para as artes estão sendo cortadas, voltar a ouvir ao vivo nossas orquestras vai possibilitar refletir sobre o espectro e a qualidade do trabalho sinfônico sendo feito no país”. Achei ótimo esse posicionamento. É realmente uma oportunidade especialíssima para avaliar a importância de atividades, ouvir o público local de cada cidade aplaudindo sua orquestra, mostrando como ela é importante e valorizada por aquela comunidade e, quem sabe assim, pressionar políticos pela manutenção de verbas destinadas ao fomento da cultura.

Muito bom ver uma rádio publica cumprindo seu papel de canalizadora e amplificadora das muitas vozes que fazem uma nação. Claro, a Inglaterra é um país pequeno, menor do que o Ceará. Se por lá é importante a mídia colaborar para o conhecimento da produção cultural nacional, imagina no Brasil. E, além desta questão cívica, política, tem ainda uma certa tendência de comportamento e de marketing no sentido de valorizar eventos ao vivo. Veja o caso de sucesso das óperas do Metropolitan de Nova York que são transmitidas ao vivo para cinemas de todo mundo ou mesmo as transmissões da Filarmônica de Berlim direto de sua sala de concertos para a internet.

Ainda que o Brasil seja um país grande, complexo, repleto de idiossincrasias e carente no que tange à redes de troca entre instituições artísticas, não custa tentar vislumbrar o dia em que será possível ouvir ao vivo no rádio concertos de orquestras tão distintas como a Osesp, a Sinfônica da Bahia, a Filarmônica de Minas Gerais, a Orquestra de Câmara do Theatro São Pedro de Porto Alegre, a Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro de Brasíia, a Sinfônica de Barra Mansa, a Filarmônica de Minas Gerais, a Sinfônica do Recife....será que este dia está tão longe assim? Ou será que falta apenas um peteleco para iniciar um processo que traria tantos benefícios para a atividade sinfônica brasileira? Fica lançada a ideia.

MEC FM: Moët Chandon, Scarlett Johansson e os clássicos



A casa Moët & Chandon, produtora de champanhe, é proprietária de um castelo na cidade de Saran, na França, próximo de sua sede e onde fica parte de seus vinhedos. O castelo foi construído em meados do século 19 e é um símbolo importante da marca que nasceu ainda antes, em 1743. Naquele longínquo ano, o Sr. Claude Moët começou a produzir champanhe para atender os nobres franceses, entre eles ninguém menos que o Rei Luís XV. É neste histórico castelo que a bela atriz americana Scarlett Johansson passa uns dias por ano para cumprir parte dos afazeres de garota propaganda da marca Moët & Chandon. Ela está lá nas celebrações de colheita, em festas e eventos especiais, para fazer fotos de publicidade.

Uma marca europeia cercada de tanta solidez e tradição, com uma história que remonta a mais de 250 anos, tão solidamente fincada no passado, por que será que foi escolher uma celebridade americana com menos de 30 anos para ser a cara de seus produtos? Vamos ver o que Daniel Lalonde, presidente da companhia, tem a dizer a respeito: “Temos 267 anos para olhar para trás, avaliar tudo o que foi feito, nos inspirar no passado e traduzir isso para a sociedade moderna. Devemos equilibrar tradição e modernidade. Scarlett Johansson significa hoje glamour, grandeza e alegria de viver, atributos muito importantes de nossa marca”.

Essa reflexão do presidente da Moët & Chandon me remeteu ao mundo da música clássica, ao compromisso com suas tradições, à importância de seu passado, ao foi conquistado e ao que foi perdido ao longo dos séculos, Me remeteu a toda experiência que vem sendo acumulada de apresentar os clássicos à juventude. Lembrei também daquela frase famosa do escritor Pedro Nava: “A experiência é um carro com os faróis voltados para trás”.

Quem tem séculos de experiência acumulada, como a marca francesa de champanhe e como a música clássica precisa mesmo olhar bem pra trás e tirar as melhores lições do passado. Mas, ao mesmo tempo, precisa garantir relevância no presente, aqui, hoje e agora, precisa fazer parte da vida das pessoas da atualidade. E, claro, precisa estar de olho no futuro, prestando atenção a tendências e \novos comportamentos. Quem lida com tradição e passado, precisa de rostos novos, como o de Scarlett Johansson. Eles conferem uma lufada de ar fresco a produtos e hábitos tão tradicionais como uma garrafa de Moët & Chandon ou uma ida aos concertos. E os rostos nem precisam ser tão bonitos com o da atriz americana. Basta eles serem verdadeiros.

MEC FM: Violinista multi atarefado encontrou um par no século 19



Que vivemos na era da multitarefa, isso a maioria de nós sente na pele. E não importa muito se você trabalha em empresa, é profissional liberal, já está na aposentadoria, é estudante, funcionário público ou dona de casa. Todos temos dado conta de mais tarefas do que nosso horário parece permitir é fácil nos perdemos em assuntos que não nos dizem respeito, mas por alguma maneira capturam nossa atenção e consomem nosso tempo. Há algumas rotinas que sentem os efeitos da multitarefa de forma mais pungente, como quem trabalha diretamente com internet – é preciso estar atento a vários pontos de interesse ao mesmo tempo.

E o músico clássico da segunda década do século 21, como será sua rotina nesses tempos de multitarefa? Esbarrei recentemente em duas entrevistas do violinista britânico Daniel Hope, que fez parte do Trio Beaux Arts, e, em ambas, o músico tecia comentários sobre responsabilidades que empilham-se uma em cima da outra. Eis um dos nossos! E o seu projeto mais recente foi justamente gravar a obra do compositor e violinista húngaro Joseph Joachim, grande amigo de Brahms, Schumann, Dvorák. Pois já no século 19 Joachim era, adivinha o que?....um multiatarefado!

Daniel Hope observa que Joseph Joachim e outros artistas podem funcionar como modelo de artistas que, já no passado, lidavam bem com múltiplos papéis e múltiplas responsabilidades simultâneas. O caso de Mendelssohn, por exemplo, que já não bastasse desempenhar três funções (compositor, regente e pianista), mas também era um organizador de festivais e fazia captação de verbas. E Robert Schumann que também fundou e chegou a ser editor de uma revista de música que existe até hoje.... Daniel Hope lembra que tocar e ter atividades de fomento do meio musical era algo comum até que o século 20 veio a estabelecer o sistema de estrelato dos artistas. Estrelato que o século 21 mostra ser cada vez menos rentável, com a pulverização dos canais de divulgação de música, a vulgarização de equipamentos de gravação e a incrível velocidade da internet. O artista tende a se ver novamente em várias frentes d eação, protagonizando a divulgação de sua arte. O próprio Daniel Hope é um exemplo disso. Ele escreve livros, produz vídeos para a internet, organiza um festival na Alemanha, é um ativista...além, claro, de tocar violino pelos quatro cantos do mundo.

Sabe aquele sentimento de pressão por conta das multitarefas e seus prazos quase sempre estourados? Acho que não somos só eu e você que sentimos. Algo me diz que Daniel Hope também está nessa.

MEC FM: Desbravadores dos clássicos levam concertos para as massas



Tem sido comum eu aproveitar este espaço da MEC FM para comentar a respeito de iniciativas pelo mundo que estão estabelecendo novos lugares para a música clássica, especialmente aproximando-a dos jovens que frequentam o circuito norturno de suas ciadades. Esse é um dos assuntos que mais interessa e por isso fico atenta a novidades na área e me apresso em dividir com você. Já falei aqui de iniciativas na Alemanha, em Londres, em Nova York, falei do projeto Democlássicos que idealizei aqui na nossa terra brasilis mesmo.

Abrindo um pouco o espectro de interesse, ampliando o foco para projetos que levam a música clássica para as massas, para pessoas que jamais tiveram contato com o mundo dos concertos, não importa a idade, há alguns desbravadores muito importantes aqui no Brasil...e não é de hoje. Nos anos 1970. os idealizadores do projeto Aquarius e do programa Concerto para a Juventude, na TV Globo. A aquela altura do campeonato, levar música clássica para a Quinta da Boa Vista, no Rio, e para o mais popular canal de televisão do País era uma atitude desbravadora....e como. O maestro Isaac Karabtchevsky teve um papel fundamental neste contexto.

Avançando no tempo, faz pouco mais de dez anos que o pianista Arthur Moreira Lima teve uma ideia incrível. Transformar um caminhão em um palco, transportando um bom piano de cauda pelas estradas do Brasil e fazendo recitais gratuitos em praça pública no tal caminhão-palco nos mais longínquos rincões do Brasil. Esse projeto do Arthur é sensacional, se chama “Um piano na estrada”. Tem inclusive um livro publicado a respeito, bem interessante.

Mais recentemente, um músico em especial tem feito muito pela divulgação da música clássica para as massas no Brasil. Eu me refiro ao pianista e maestro paulista João Carlos Martins. Depois que teve o problema nãos mãos e teve que suspender sua carreira de recitalista internacional – ele foi muito reconhecido pela crítica mundial, especialmente por suas interpretações do repertório de Bach - , João Carlos voltou de vez para o Brasil e decidiu que ia trabalhar em prol da divulgação da música clássica entre os menos favorecidos da sociedade, seja na formação de instrumentistas, seja na formação de público. No Carnaval 2011 de São Paulo, a escola de samba Vai-vai foi a vencedora com um enredo que contava a história de superação de João Carlos Martins. As imagens que aquele desfile possibilitou, como a bateria vestida com casaca de concerto, uma passista sambando com um violino na mão, fizeram muito para aproximar todo o universo de concertos, que às vezes parece um lugar tão distante do dia a dia, da grande massa de espectadores do Carnaval pela TV. Viva João Carlos Martins, um grande desbravador para a música clássica adentrar a vida de quem não a conhece, mas está prontinho para gostar dela.