segunda-feira, 2 de maio de 2011

MEC FM: Como apresentar os clássicos à Geração Y?



Você já ouviu falar na “Geração Y”? É uma faixa geracional que compreende os nascidos entre 1980 e 2003, ou seja, os mais velhos têm cerca de 30 anos e os mais novos nem chegaram ainda à primeira década de vida. O termo “Geração Y” foi cunhado nos Estados Unidos, país que tem uma longa tradição de pesquisas sociais e de comportamento. Mas se aplica também ao Brasil, respeitadas diferenças regionais e culturais. Dentro dessa faixa, , digamos assim, a sub-faixa da Geração Y que tem chamado maior atenção é a de quem está entre os 18 e os 30 anos. São os que estão no mercado de trabalho e, por estarem inseridos de forma ativa na corrente econômica, tendem a eles próprios ditarem os comportamentos e as regras do mercado como um todo. Assim como muitos outros setores da sociedade, a música clássica se beneficiará na medida em que estiver atenta ao perfil de comportamento destes jovens.

Quem são eles e como se comportam? É importante, antes de tudo, considerar ser esta uma geração nascida em famílias não mais presas ao formato padrão pai-mãe-filhos todos juntos. O fato de crescer em famílias de pais separados possibilitou que, pai de um lado e mãe do outro, os filhos acabassem recebendo, no final das contas, atenção maior. Isso gerou jovens para quem o senso de importância individual é muito significativo e cujos pais estão muito presentes, seja financeiramente, seja no aconselhamento. Ao mesmo tempo em que existe um individualismo evidente, a Geração Y apresenta uma profunda consciência social, preocupação com o meio ambiente e os direitos humanos. É uma geração crescida na era digital, nasceu com computador em casa. São mestres em multitarefas, em fazer várias coisas simultâneas. Pesquisa nos EUA comprovou que 40% dos jovens da Geração Y usam a internet e vêem TV ao mesmo tempo. Mas, para eles, a tecnologia é encarada como um facilitador da vida analógica. Os resultados têm que vir rápido e mudanças são sempre bem-vindas.

A que a música clássica deve estar atenta para se relacionar melhor com estes jovens entre 18 e 30 anos distantes da cultura de concertos? Como se posicionar e o que oferecer? Tenho alguns pontos a levantar nesta reflexão. Se estamos pisando no terreno do individual e do customizado, seria bom oferecer possibilidades de contato com a música clássica atendendo necessidades individuais. Se a comunicação digital é algo essencial, é bom haver conteúdo produzido especificamente para os meios digitais, internet, redes sociais, sms, celular. Se eles não estão presos a horários fixos – esta geração gosta, por exemplo, de assistir a seus programas de TV favoritos na internet, no horário que desejarem e não ficam presos ao horário de exibição – se a liberdade de horário é uma questão, é bom considerar isso.

Se é uma geração que valoriza compromisso social, é um bom momento para apresentar a eles os aspectos da música clássica como construtora de cidadania. Se eles valorizam atenção personalizada e feedback, é bom encontrar formas de chamá-los pelo nome, de conhecer suas expectativas e, por exemplo, criar canais de continuar o relacionamento após o concerto ter acontecido. Também é importante ouvi-los antes de criar projetos que sejam só para eles. Engajá-los será sempre relevante. Se os amigos são fator de grande motivação – a Geração Y é capaz de preferir um emprego que deixe mais próximo das amizades – então é bom pensar em oferecer programas em que grupos de amigos possam participar.

Apresentar a música clássica à Geração Y considerando tantos aspectos parece ser complicado, mas pode trazer muitas recompensas. O importante é começar.

2 comentários:

  1. Boa reflexão! parece mesmo um grande desafio! penso que se a cultura de consumo de informação apresenta inumeras tendencias e alternativas no periodo da convegência, talvez com os filmes digitais alinhados por um conceito mais lúdico e imagético possa mais facilmente alcançar o contato com esse público. Vou prestar mais atenção na questão
    obrigado
    Marco Lyrio

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  2. Oi Heloisa.

    Li sobre a ópera Lucia di Lammermoor na revista VivaMúsica, no site do Instituto, fui ver a montagem no domingo, 22 de maio, e gostaria de comentar aqui.

    Seguindo o programa, nessa data, Lucia foi interpretada por Rosana Lamosa, Edgardo por César Gutiérrez, e Enrico por Licio Bruno. Junto com o Raimondo do inspirado José Gallisa, todos eles protagonizaram performances soberbas, sendo devidamente ovacionados pelo público após cada ato.

    A trágica Lucia, heroína impulsiva e clamorosa, bem ao gosto literário oitocentista, teve em Lamosa uma intérprete devotada, cujo êxtase atinge o ápice na cena de seu delírio ensanguentado.

    Minha cena preferida, no entanto, é mesmo a da prenunciatória aparição do fantasma, na fonte, acompanhada pela sublime atuação de Carla Odorizzi, como Alisa. Sendo esta, justamente, a minha personagem preferida da trama, por todas as reflexões realistas que faz sobre a condição da mulher ao tempo de Lucia.

    Carla Odorizzi soube dar o exato tom de discrição da personagem, sem, em instante algum, desmerecer a sua profundidade. O momento em que Alisa discorre, totalmente sozinha, sobre o sofrimento de Lucia e a tragédia que se afigura, foi, para mim, o mais tocante de todo o espetáculo.

    Como é corrente nos romances do século XIX, o trágico se afigura desde o início, com o tom soturno persistindo em toda a obra. Para que isso transparecesse plenamente, a coreografia foi fundamental, sendo, para mim, o aspecto mais arrebatador desta montagem.

    Em seus aspectos gráficos, a coreografia formava desenhos límpidos no palco, por obra de uma marcação sempre precisa. Isso se manifesta desde o início, com a sublime cena de abertura. O desenho dessa cena é configurado por uma pesada massa de coro à esquerda, em total contraponto com o filete vertical formado pelo guardião. Este, por sua vez, equilibra sua verticalidade pela levíssima vara que cruza o seu ombro horizontalmente, da qual pende o único elemento iluminado pontualmente no palco, um candeeiro retangular. Totalmente imóvel naquele canto superior, o guardião representa uma consciência alerta. Simplesmente formidável!

    A coreografia arrebata também pelos movimentos corporais de todos em cena, desde as mãos sempre iradas de Enrico, até as levíssimas mãos espalmadas de Alisa, em sua comovente súplica.

    O figurino, predominantemente em preto, cinza e marrom corporifica o caráter sombrio da história e acentua à perfeição os vermelhos e brancos usados por Lucia, sendo ainda favorecido pelo ótimo trabalho do iluminador.

    No conjunto em tudo excelente dessa montagem, o único ponto a desejar, a meu ver, é o tom de cinza aplicado ao cenário.

    Entendo que a opção pelo jogo de volumes cúbicos cria perspectiva e, embora se inicie nos jardins do castelo, prenuncia o desfecho no cemitério, sempre evocando lápides, mesmo antes da inserção das cruzes.

    Penso, no entanto, que o tom de cinza usado lembra, muito mais, a pintura corriqueira de obras de concreto e cimento do que as pedras. A meu ver, essas, sim, seriam condizentes a um cemitério oitocentista escocês.

    No mais, só tenho a agradecer a dica da Revista VivaMúsica, e o este espaço para comentar aqui.

    Um abraço,
    Eliane Lordello.

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