quarta-feira, 11 de maio de 2011

Cinco pedras no sapato dos clássicos – Ronen Givony comenta



Existe um diretor de programação nos Estados Unidos chamado Ronen Givony, profissional que tem como assinatura pessoal apagar fronteiras entre gêneros musicais e artistas, programando séries que misturam música de câmara com pop alternativo, repertório da idade média com música contemporânea.

Ele inventou uma série de espetáculos chamada Wordless Music, Música sem palavras, que rodou diversos locais de Nova York apresentando essa variedade toda. Givony é diretor do Le Poisson Rouge, uma espécie de cabaré no Greenwich Village novaiorquino que tem, claro, essa cara de misturar gêneros. Uma fórmula de grande sucesso no circuito musical da cidade, que tem servido de inspiração no mundo todo.

Pois esse senhor que observa bem de perto os movimentos do pop e do rock e também está atento ao que de melhor é produzido na música clássica, ele apontou cinco aspectos que causam inflexibilidade nas relações com artistas clássicos e dificultam sua inserção em um circuito mais amplo de música.

Em primeiro lugar, a questão da exclusividade. Ele lembra que é comum realizadores de concerto exigirem exclusividade em uma determinada região e por determinado tempo. O festival de verão de Aspen, nos Estados Unidos, por exemplo, exige que os artistas contratados não se apresentem na região por vários meses. Exclusividade pode ser mesmo um problema, pois dificulta a circulação dos artistas, muitas vezes vindos de outros países e com rara oportunidade de encontrar o público.

Em segundo lugar, Ronen Givony aponta a questão financeira. Cachês de artistas clássicos, especialmente os solistas, são muito altos e têm um valor fixo, não importa a quantidade de público presente. Ele lembra haver solistas que cobram mais de 15 mil dólares por apresentação e isso inviabiliza muitas produções. É mais em conta contratar um artista da música popular, que será mais flexível quanto ao cachê cobrado.

Em terceiro lugar, a questão do timing. O mundo clássico está acostumado a reservar datas na agenda dos músicos com dois ou três anos de antecedência. Isso inviabiliza programações que sejam pensadas com poucos meses de antecedência, que é comum no mundo pop-rock.

Em quarto lugar, Ronen Givony lembra a questão da promoção dos espetáculos. Enquanto os músicos de rock compreendem a extrema importância de divulgar eles mesmos seus espetáculos (seja pela internet ou outros meios), músicos clássicos não assumem esta tarefa, deixando que empresários, divulgares e organizadores de concertos cuidem da divulgação.

Por último, o diretor musical do Poisson Rouge de NovaYork levanta a questão do empreendedorismo. Músicos de rock e pop costumam levantar as mangas e fazer a coisa acontecer, buscar mudanças...o mesmo não costuma aocntecer no mundo dos concertos. Ele cita o caso dos Beatles, dos Sex Pistols.

O discurso de Ronen Givony pode ser um pouco apocalíptico, mas lamentavelmente, tem lá sua razão de ser.

Um comentário:

  1. Oi Heloisa,

    Concordo contigo, o discurso soa alarmista, mas procede. Exemplifico com o que assisti, na Páscoa, em Ouro Preto.

    A orquestra da UFOP tem um projeto superbacana que justamente atua tentando "apagar fronteiras entre gêneros musicais" (usando os termos do seu post). Trata-se de um projeto dedicado totalmente às músicas dos Beatles e tem feito enorme sucesso por onde se apresenta.

    Na Páscoa, a orquestra tinha um concerto gratuito marcado para a bela Casa da Ópera. A divulgação anunciou que as senhas seriam distribuídas durante a semana. Eu estava lá três dias antes do espetáculo, procurei o teatro durante todo esse período e a bilheteria nem sequer estava aberta.

    Posteriormente, anunciaram que as senhas seriam distribuídas a partir das 10 horas da manhã do dia do concerto. Não foram.

    Ao meio-dia, informaram que as senhas estavam esgotadas. Diante disso, pessoas que estavam lá desde as 10, protestaram, e até um boletim policial foi registrado. A organização local do evento resolveu, então, passar uma lista de espera, a qual eu assinei.

    Às 16 horas, abriram de novo a bilheteria, desconsideraram totalmente a tal lista de espera, e começaram a distribuir senhas numéricas, para posterior retirada da senha de entrada.

    Para encurtar: todos que estávamos na fila durante esse tempo conseguimos a senha em cima da hora de entrar no concerto, sempre sob a sombra do alarmismo da organização, que dizia que não podia garantir que conseguiríamos os ingressos.

    O concerto foi ótimo, o maestro se desculpou pelos transtornos, mas, em substância, tudo o que aconteceu antes do concerto reverbera as questões de timing, agenda, promoção e divulgação contidas nos alertas de Ronen Givony.

    Uma boa semana para você!
    Eliane.

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