domingo, 27 de fevereiro de 2011

E o hip hop passou a ser corpo artístico da Ópera de Lyon

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Dia desses, conversando com João Guilherme Ripper, diretor da Sala Cecília Meireles, ele me contou um episódio incrível que ilustra muito bem os bons frutos que a convivência entre a cultura clássica e a cultura popular pode trazer e ilustra também como um administrador artístico de visão ampla pode transformar as coisas. O episódio aconteceu em 2002, na França.

A Opera National de Lyon havia passado por uma reforma pouco tempo antes, que deixou a construção do século 18 novinha em folha. Uma lateral externa do prédio, na área da rua, passou a ser freqüentada pelo Pokemon Crew, um grupo de breakdance, aquela dança que Michael Jackson tanto popularizou. O chão liso, o lugar com espaço, limpo, transporte público farto era tudo que os garotos precisavam para treinar suas coreografias. Eles estavam se preparando para um campeonato nacional. Acontece que esse tal local era junto do café do teatro e era comum os freqüentadores reclamarem daquela garotada dançando break e perturbando a ordem clássica das coisas. Eles detestavam aquela companhia.

Aí que entra o tal gestor artístico de visão ampla. No caso, o francês Serge Dorny. Quando ele assumiu seu posto na Opera de Lyon, deparou-se com esta questão do enxame dos garotos do break e o conflito com os espectadores da casa. Quando Dorny assumiu a direção artística da casa, ficou intrigado porque o grupo havia escolhido justo o lado de fora da ópera para treinar as coreografias de break e porque ninguém da casa havia ainda ido falar com eles.

Serge Dorny convidou o grupo a entrar no teatro e treinar nas salas de ensaio da ópera durante os meses de verão, quando os artistas da casa estavam de férias e as instalações vazias. Os garotos do Pokemon Crew foram tratados como artistas profissionais, com condições de trabalho profissionais. Isso fez grande diferença na carreira do pessoal do break. No inicio, ambas as partes estavam desconfiadas se a coisa daria certo. Acontece que dois meses depois, o grupo ganhou o cmapeonato francês e são hoje grandes na França. Pouco tempo depois, o Pokemon Crew foi convidado a montar , junto com o balé da Opera de Lyon, os Sete pecados capitais de Kurt Weill e Bertold Brecht. Pessoal de break não estava acostumado com o rigor dos ensaios estruturados. E os bailarinos não estavam acostumados com o jeito indisciplinado do pessoal do break ensaiar. Mas o espetáculo deu cerrto e foi um sucesso. Essa relacao artística levou o Pokemon Crew a ganhar o cameponato mundial de hip hop. A organiacao adquirida com a convivência com os artistas da de Lyon fez toda a diferença. Viva a visão ampla de Serge Dorny!

Ópera em alta nos palcos da Inglaterra e da China

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Se aqui no Rio, já faz um tempinho que a temporada de ópera acostumou-se a uma certa timidez de títulos e as projeções de montagens líricas estrangeiras vem conquistando cada vez mais adeptos, há pelo menos dois países em que a ópera está atravessando um de seus melhores momentos.

Na Inglaterra, por exemplo. Dias desses, li uma reportagem publicada em jornal inglês sobre o bom momento do gênero naquele pais. A matéria citava um número impressionante: foram necessários poucos anos para o número de companhias operísticas pular de 30 e poucas para quase duzentas. Incrível esse número, não? Outro fato destacado no tal artigo era a produção da comédia romântica inspirada na ópera “Cosi fan tutte”, de Mozart. “First Night” é o titulo do filme. A produção já estava finalizada quando eu gravava este comentário e aguardava seu lugar na extensa fila de lançamentos cinematográficos na Europa. A trama? Executivo rico resolve organizar uma montagem particular de “Cosi fan tutte” na sua casa de campo. O produtor, Steven Evans, é o mesmo do filme “Henrique V”, com Kenneth Brannagh no papel principal, fita cujo sucesso inspirou vários outros filmes baseados em peças de Shakespeare. Ou seja, esse produtor é alguém de dedo verde quando se trata de facilitar o acesso a clássicos da cultura mundial. Pelo jeito, deve vir um filme bacana por aí. Tomara que não demore a chegar ao circuito brasileiro.

E na China, acontece um verdadeiro boom em termos de ópera. Crescimento quase tão rápido e ambicioso quanto o crescimento da economia do país. Alguns indícios recentes desse boom? Em Xangai, é esperada a estréia da tetralogia de Wagner, “O anel do nibelungo”. Em Pequim, a abertura do Guangzhou Center for the Performing Arts custou mais de 200 milhões de dólares e a última edição do Festival de Música apresentou três óperas, sendo duas delas de compositores chineses. E ainda o rograma “I Sing Beijing” financiado pelo governo chinês, visa atrair jovens cantores americanos para um treinamento intensivo em chinês como idioma lírico. Novos teatros de ópera, governo rico determinado a ser uma potencia cultural mundial, milhões de jovens talentos saindo dos conservatórios locais, novas platéias ansiosas para conhecer mais sobre ópera. O futuro da ópera e da música clássica passa mesmo pela China.

Música de arrepiar, cientificamente falando

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Você se arrepia quando ouve alguma sinfonia de que gosta especialmente? Sente o mesmo quando toca no rádio uma determinada ária de ópera ou quando está no teatro assistindo a um belo concerto para piano e orquestra? Ou nunca tem este tipo de sensação?

Caiu na frente de meus olhos um estudo publicado no site de notícias científicas ScienceDaily sobre a relação entre ouvir música e sentir arrepios.
Emily Nusbaum e Paul Silvia, da University de North Carolina, nos Estados Unidos, conduziram esse estudo. Os pesquisadores queriam saber porque algumas pessoas se arrepiam ao ouvir música que as emociona e outras nem sabem o que é isso.
A dupla de pesquisadores dividiu o grupo pesquisado de acordo com cinco traços de personalidade: extroversão, consciência, facilidade no trato, neurose e disposição para experimentar. Dessas cinco dimensões, apenas a ultima, disposição para experimentar, apresentou reação arrepiante com música.

Nusbaum e Silvia descobriram que gente aberta a novas experiências se arrepia com mais facilidade ouvindo música.

O interessante é que, entre o grupo super heterogêneo pesquisado pelos americanos, um aspecto se repetiu: todas as pessoas com disposição a novas experiências tinham uma relação especial com a música, seja tocando um instrumento, seja considerando a música um aspecto de grande importância na vida. Essas pessoas mais abertas a experimentar foram classificadas também como as mais criativas e curiosas, com imaginação mais ativa.

Os autores do estudo concluíram que 8% das pessoas analisadas nunca sentia arrepios ao ouvir música, enquanto outras se arrepiavam quase todos os dias.
As pessoas podem ser parecidas em muitos aspectos da vida, mas o tipo de reação orgânica à audição de uma música de que se gosta não é mesmo algo universal. Considere isso na próxima vez em que for conversar sobre música com alguém de gosto distinto do seu. Antes de uma experiência estética, ouvir música é uma experiência orgânica vivenciada de formas distintas por cada um de nós.

La Scala de Milão quer público com menos de 30 anos

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Se o frequentador de música clássica costuma ter alto grau de assiduidade nos espetáculos, o que dizer então dos que compram assinaturas para o ano todo? Estes são os que apresentam maior grau de fidelidade, é um público tido certo nas temporadas das orquestras e nas séries internacionais. Entre os que já conhecem e freqüentam o circuito de clássicos, a compra de assinaturas é uma prática bastante difundida. Mas este tipo de relacionamento de longo prazo entre organizadores e freqüentadores habituais de concertos não se aplica ao público novo, que não tem ainda hábito de assistir a música clássica ao vivo e, por isso, nem pensa em se comprometer ao longo de todo um ano e, ainda por cima, arcar com pagamento adiantado da assinatura. Como se faz então para estimular que novas platéias, especialmente a turma jovem, experimente comprar uma assinatura e inclua uma sala de concertos na sua rotina cultural? Muitas instituições musicais pelo mundo buscam uma resposta pra essa pergunta com jeitão de charada.

Achei ótima a proposta do Teatro alla Scala de Milão, “o” principal templo da ópera e do canto lírico na Europa, que também oferece concertos sinfônicos e balés em sua programação regular. O Scala de Milão agora tem um programa especialmente voltado para o público com menos de 30 anos. O projeto tem um nome em inglês, não entendi bem o porquê, mas....Chama-se La Scala Under 30 – Scala com menos de 30. Sabendo que o público jovem é afeito a uma adrenalina, o slogan do programa é “Não há mais obstáculos entre você e a sua vontade de viver fortes emoções. O mundo do Scala é seu. Viva-o!”. Outra frase usada nos materiais do programa é “o protagonista é você”, que me parece muito em sintonia com a necessidade que os jovens têm cada vez mais de customizar as suas vivências. O Scala disponibiliza um passe só para os menores de 30 anos que dá direito a condições especiais na compra de ingressos e assinaturas, os descontos podem chegar a 80%, além de possinilitar visitas guiadas, happy hour com artistas que se apresentam na casa, ofertas na loja do Scala e alguns brindes.

São tantas as vantagens para seduzir o jovem italiano com menos de 30 anos a freqüentar o Scala de Milão, que o programa tem um rígido controle de uso, pra evitar que os bilhetes sejam comprados por jovens e revendidos a freqüentadores habituais.

Soprano Renée Fleming e a vontade de inovar, a partir de Chicago

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Embora o mundo da música clássica seja muitas vezes associado a um ambiente que foge de mudanças e haja mesmo uma forte inclinação ao tradicionalismo, a inovação tem sido algo cada vez mais valorizado nos clássicos. Me parece natural e até mesmo esperado que seja assim. É a partir de inovações que a indústria cultural dá muitos de seus saltos...e, se formos considerar a arte em estado puro, o que o artista busca, em última instância? Inovar, romper como estabelecido, imprimir sua marca única e pessoal. Sempre penso em o que seria de muitos setores na economia, como as indústrias farmacêutica ou automobilística, sem o investimento em inovação. Esses setores investem pesado em testar novidades.

Já na indústria cultural, as regras do jogo parecem ser outras. No que diz respeito à importância da inovação, o reconhecimento existe, já sabemos. Mas o grau de investimento em inovação é reduzido quando comparado a caminhos conhecidos. É assim no cinema, na literatura, na música pop e na música clássica. Quando há venda de ingressos ou medição de audiência envolvidas, o conhecido costuma sair sempre na frente do novo.

A necessidade da música clássica se recompreender na sociedade anda de mãos dadas com uma atitude de inovação. Seja para ocupar um papel mais amplo na comunidade em que está inserida (não se posicionando apenas uma fornecedora de concertos em teatros para uma parcela pequena da população), seja na busca de novos caminhos para alcançar públicos que ainda não conhecem o universo musical clássico.
Achei interessante saber os motivos que levaram a soprano americana Renée Fleming a aceitar o convite para ser consultora criativa da Ópera Lírica de Chicago. Ela fica nesse cargo até 2016. Convenhamos: sendo uma artista tão requisitada, René Fleming tem agenda de concertos muito cheia e não deve exatamente sobrar tempo para ocupar com tarefas além de cantar. Ela aceitou a posição de consultora criativa porque envolve desafio e....inovação. Ela disse o seguinte quando da sua indicação: “Fiquei encantada com a possibilidade de realmente implementar mudanças no mundo da ópera, começando por Chicago”.

Se Renée Fleming fizer uma consultoria artística à altura da extensão de seu fôlego e da perfeição de sua voz, é bom mesmo começar a prestar atenção especial às inovações que vão começar a aparecer na Ópera Lírica de Chicago. Ainda bem que existe internet pra acompanhar tudo.

Diário do pianista John Blanch: programa criativo e bem-humorado

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A internet é cheia de factóides em video. Volta e meia, alguém comete alguma gafe, vai parar na rede e acumula milhões de acessos. Basta ter uma câmera na mão – não necessariamente acompanhada de uma ideia na cabeça – e um desconhecido pode virar estrela da noite pro dia. E, claro, há os muitos e muitos vídeos que são postados por pessoas em todo mundo e dos quais a gente nem toma conhecimento. A internet parece ser um lugar de luzes e sombras, como é a vida no mundo real. E esse caráter do mundo digital também vale para a música clássica. Tem muita coisa boa na internet ainda a ser vista, podem se passar anos até o momento de assistir. Garimpar iniciativas interessantes é algo que traz muitas boas surpresas.

Tomei conhecimento recentemente de uma iniciativa muito bem feita pelo jovem pianista brasileiro John Blanch. Ele tem 18 anos de idade, nasceu em São Paulo. Seus estudos de música dividem-se entre Europa e Brasil. John foi admitido no Conservatório Nacional Superior de Música de Paris e está por lá dedicado à sua formação. Antes disso, fez parte da prestigiosa Academia da Oseso. Ele seria mais um talentoso músico aperfeiçoando-se hoje na França se não tivesse um talento para a comunicação áudio-visual correndo nas veias. John Blanch é filho de Otávio Mesquita, o apresentador de televisão. Sabendo disso, fica fácil entender de onde John inventou de criar um canal de vídeos no YouTube chamado “Diário de um pianista”. A ideia é mostrar os bastidores da rotina de um jovem músico estudando na Europa. Ele mesmo grava e edita os vídeos, um hobby que tem desde pequeno. No dia em que fiz essa gravação, o Diario de um pianista dispoibilizava dois episódios, ambos muito bem feitos. O primeiro trata dos preparativos para uma audição importante interrompidos pelo machucado de um dedo. O segundo mostra John Blanch se virando para manter a rotina diária de estudos nas férias de Natal na Espanha e como ele conseguiu encontrar um piano para tocar todos os dias.

Chama muita atenção a qualidade desse diário em vídeo do jovem pianista brasileiro. Em menos de dez minutos, cada episódio é um mini-programa de TV. A edição de imagem e de som são muito criativas, apresenta um timing típico de programa de variedades. E, melhor de tudo, John Blanch é bem-humorado na dose certa. Como capta ele mesmo a maior parte das imagens no momento exato em que elas acontecem, vê-se claramente o quanto o rapaz é espontâneo e profissional ao mesmo tempo. A intimidade com a câmera é óbvia. Para conhecer essa interessante iniciativa de internet basta procurar por John Blanch (soletrar) no YouTube.

O tempo da ópera ontem e hoje: adaptação é mesmo necessária?

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Até que ponto uma arte como a ópera, que manteve intacto durante séculos seu modelo de apresentação, consegue se “adaptar” – entre aspas – ao ritmo acelerado dos tempos de hoje? Acho até que cabe uma pergunta anterior: mais do que conseguir se adaptar, será que a ópera precisa se adaptar ao timing do século 21? A utilização do tempo livre das pessoas mudou muito desde o início do século 17, época das primeiras encenações de ópera, até os dias de hoje. E nem é preciso ir tão atrás, basta retroceder até meados dos anos 1950, por exemplo. Naquele tempo, havia menosconcorrência de uso do tempo livre e o próprio tempo disponível das pessoas era bem maior. Em plena correria de 2011, é um luxo conseguir alocar cerca de três horas para assistir a uma ópera em teatro, fora os deslocamentos de ida e vinda. Sem contar o preço do ingresso, muitas vezes equivalentes a várias sessões de cinema, por exemplo. A escolha por um programa de longa duração e menos barato como a ópera requer mais reflexão hoje do que em tempos passados.

Mas o que fazer, então? Adequar a ambientação das óperas aos corridos tempos atuais, de forma a aumentar o link com o espectador e, consequentemente, aumentar seu grau de atenção e o valor da ida à ópera? Bem, isso já vem sendo feito há algum tempo, é bastante comum os diretores atualizarem época da trama e mesmo perfil dos personagens, mas sem mexer na parte musical. Ou que tal diminuir o tempo de duração das óperas, apresentando versões musicalmente condensadas dos grandes títulos líricos? E se a proposta for dupla: atualizar o tempo da trama e diminuir a quantidade de música? Na cidade de Hamburgo, na Alemanha, há uma iniciativa com essa proposta dupla. O Opernloft ocupa parte de um galpão antigo no centro da cidade e lá apresenta versões atualizadas e condensadas de óperas do repertório tradicional. Eles têm um projeto chamado Operabreve, sempre com 90 minutos de duração. A ação da trama é deslocada para dias de hoje e o figurino é moderno, a roupagem é pop. Até as árias das óperas podem ser tratadas por lá como canções pop. O projeto existe há anos e acumula boa repercussão. Achei interessante a fala de uma diretora desse projeto. Ela diz “Hoje as pessoas têm outra dimensão sensorial, com DVD's, playstation, cinema e efeitos especiais. A ópera precisa acompanhar isso". Realmente, a nossa dimensão sensorial mudou muito com a tecnologia, mas até que ponto o que é apresentado pelo pessoal do Operabreve pode ser mesmo chamada de ópera? Seria melhor uma outra palavra que expressasse aquele tipo de espetáculo cênico? Mais que uma questão etimológica ou semântica, temos aí uma questão estética. É bom acompanhar os próximos capítulos.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Clique e ouça nosso samba!

Samba do bloco FEITIÇO DO VILLA

Compositores: Edu Krieger-Edino Krieger
Arranjo: Marcelo Caldi
Violinos: Gustavo Menezes e Éder Paulozzi. Viola: Ivan Zandonade. Violoncelo: Marcus Ribeiro. Flauta: Bebel Nicioli. Oboé: Carlos Prazeres. Trompa: Eduardo Almeida Prado. Clarineta: José Batista Jr. Fagote: Débora Nascimento. Cantor: Edu Krieger. Soprano: Mirna Rubim.

Gravado e mixado por Plínio Profeta.