quinta-feira, 18 de junho de 2009

hoje, amanhã e depois

hoje foi dia de fechamento editorial da revista agenda vivamúsica! de julho e também dia de fazer rádio cbn ao vivo. ontem, além da produção editorial da revista, foi dia de produção-gravação do programa da tam, que irá ao ar em setembro e outubro.

trabalhar com comunicação às vezes tem dessas coisas, lida-se com o hoje, o amanhã e o depois de amanhã ao mesmo tempo.

por conta da revista, o mês que ainda leva 12 dias para chegar já é dado como findo. agosto está na mira.

por conta da cbn, onde procuro linkar o tema que comento com o noticiário, o que interessa é o impacto do agora ou do ainda há pouco. hoje mostrei uma orquestra do irã.

por conta da tam, já comecei a pensar na próxima seleção musical, que vai embalar os passageiros que voarão próximos às festas de fim de ano.

imediatista do jeito que o meio musical brasileiro é - em especial o carioca -, com suas pendências de informação e mudanças, trabalhar com antecedência torna-se desafio cotidiano.

paulínia 1 x 0 rio de janeiro

a partir de julho, começa em paulínia (sp) um circuito de música clássica pra lá de animado.

até novembro, serão oito concertos internacionais no novíssimo theatro municipal da cidade, além de recitais semanais de música de câmara. zubin mehta vai reger sua filarmônica de israel em dois concertos lá.

há a série "o theatro vai à escola", de concertos didáticos na rede municipal de ensino.

algo me diz que o placar do título não vai ficar só nisso.

terça-feira, 16 de junho de 2009

a rica holanda e o pobre rio de janeiro

a fala da diretora artística do contergebouw de amsterdam no congresso da ispa em são paulo, semana passada, tocou em um ponto de extrema relevância, lá, cá e em qualquer lugar.

ela comentava sobre o aumento da oferta de assentos de música clássica na holanda. em determinado período de tempo, a oferta aumentou em cerca de 10.000 assentos, devido à construção de novas salas e halls de concerto.

isso gerou uma concorrência para a qual o concertgebouw não havia se planejado. a população holandesa que se interessa por concertos agora tem que se dividir entre uma opção maior de clássicos do que há uma década.

o concertgebouw começou a enfrentar a questão de cadeiras vazias no teatro e precisou se movimentar.

fiquei pensando sobre a realidade em são paulo e no rio de janeiro, nos últimos dez anos, com relação a equipamentos culturais disponíveis para receber música clássica e como eles mudam a biosfera musical.

sem contar espaços menores, são paulo viu, nos últimos dez ou quinze anos, a construção da sala são paulo, do teatro alfa, do auditório ibirapuera e reforma do theatro são pedro.

isso estimulou a entrada de novos players no mercado, aumentou a oferta de programação clássica e, consequente, aumentou o patamar de cachês e remunerações pagos.

no pobre rio de janeiro, o que ocorreu de novo no mesmo período?

algum local para concertos foi construído? negativo. muitos foram remodelados? hum, não exatamanente. houve os que fecharam ou diminuiram sua oferta de programação clássica? sim, sim!

uma sala de concertos reestrutura o cenário cultural da cidade onde se localiza. não à toa o projeto da osesp sempre esteve atavicamente associado ao hall sinfônico que a abriga desde 1999.

enquanto isso, a cidade da música apodrece na maresia da barra da tijuca.

o que a diretora do concertbegouw teria a dizer a este respeito?

domingo, 14 de junho de 2009

cai reserva clássica em campos do jordão

o jornal "estado de s. paulo" publicou anteontem notícia sobre a volta de shows populares na temporada de inverno na cidade de campos do jordão, especialmente em julho.

nos últimos quatro anos, a gestão de joão paulo ismael (pmdb) na prefeitura preservou a cidade de shows de grande apelo popular. axé, sertanejo, forró e mesmo mpb ficavam de fora da pauta cultural de campos do jordão, somente no inverno.

o veto objetivava minorar os já tradicionais congestionamentos de trânsito nos dias mais frios do ano e também previnir problemas de segurança na cidade.

convenhamos: grandes shows populares atraem grandes massas de gente. o inverno fica a um peteleco de virar inferno.

e também, claro, havia a questão de deixar a música clássica brilhar sozinha, já que, há quatro décadas, campos do jordão abriga em julho o mais importante festival clássico do brasil, atraindo professores e estudantes de todo mundo.

a foto abaixo registra um ensaio da orquestra acadêmica formada por alunos e professores em campos do jordão, em 2005. o emperdigado maestro é roberto minczuk, claro.



pois a nova prefeita, ana cristina machado cesar (pps), reviu a proibição de seu antecessor.

no feriado de corpus christi, já houve show de ivete sangalo. "tem espaço em campos do jordão para agradar todos os gostos", disse a mandatária ao "estadão".

esta reserva de mercado para a música clássica em campos de jordão tinha lá sua razão de ser, mercadologica e socialmente falando.

já pensou se, durante o carnaval de parintins, o prefeito decide contratar zezé de camargo e luciano ou claudia leite para shows gratuitos? o que aconteceria com a festa carnavalesca do amazonense? esvaziaria, claro.

por que esvaziar o impacto da música clássica na cidade que, graças a tanto esforço, talento e dinheiro (não necessariamente nesta ordem), se transformou em sinônimo de clássicos? quem ganha com isso? quem perde com isso? êta assunto que rende.

sábado, 13 de junho de 2009

garrett dialoga com o rock



pouco convencional a pose acima, em se tratando de um violinista clássico.

mas, sendo o bonitão david garrett, com seu jeito rock star de ser, eis que o look faz todo sentido. trata-se de material de divulgação do novo disco "encore", totalmente rock'n'roll, no corpo e na alma.

veja a capa do dito cujo.



a fumaça de fundo e o tênis cuidadosamente desamarrado entregam o objetivo de garrett: dialogar com sua geração, usando a atitude rock'n'roll que ela tão bem conhece.

o alemão fez um disco em que o violino assume seu lado guitarra. não à toa o album foi gravado no estúdio electric lady, de jimi hendrix - que gostava mais de um fogo do que de fumaça, mas também se ajoelhava em tributo a instrumento (elétrico) de cordas.




no repertório, músicas das bandas metallica e queen, de michael jackson, outras compostas por ele mesmo, e uma leve pitada de música clássica, como as "quatro estações", de vivaldi.

aos 27 anos, david garrett guarda evidente semelhança física com kurt cobain, lider do nirvana morto com a idade que o violinista tem agora.







garrett esteve duas vezes no rio de janeiro, em 2005 (quando foi capa da revista agenda vivamúsica!) e em 2007. da primeira vez, eu o entrevistei rapidamente por telefone. e, claro, nas duas ocasiões ele foi parar nas páginas de moda dos jornais. o passado como modelo deixou o porte longilíneo e um certo charme canastrão. as groupies devem adorar.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

kuat, chevrolet e os clássicos

quando dois comerciais com mensagens iguais estão no mesmo break comercial em horário nobre da tv globo, é bom parar de zapear e prestar atenção à mensagem. o inconsciente coletivo está gritando algo.

primeiro foi "chevrolet: reiventar é preciso".

uns 30 ou 45 segundos depois, veio "kuat: é natural se renovar".

reinvenção e renovação são mesmo palavras de ordem destes tempos, sem dúvida frutos da barackiana "change we need" e da barata-voa provocada pela crise econômica.

até que ponto a música clássica entende como natural se renovar? será que os clássicos compreendem a reinvenção tão assertivamente como os executivos da chevrolet?

a crise mundial que atinge o setor de música clássica nos últimos anos tem sido tão devastadora quanto a retração de economias tidas até então firmes como o pão de açúcar.

hoje, no congresso da ispa em são paulo, achei curioso a diretora artistica do concertgebouw de amsterdam dizer que programas educativos e de participação são uma novidadade por lá. historicamente a casa sempre esteve cheia e os lugares vazios só começaram a aparecer recentemente. a necessidade de renovação entrou sem tocar a campainha.

acho que vou passar a servir kuat no qg da vivamúsica!. é o inconsciente coletivo gritando.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

o caminho é a organização

hoje foi o primeiro dia do congresso da ispa em são paulo.

em tempo: ispa (international society for the performing arts) é uma sociedade internacional voltada para as artes do espetáculo - música, dança e teatro - ativa há muitas décadas nos estados unidos e internacionalmente. são realizados dois congressos anuais. o principal acontece em nova york. no meio do ano, há outro menor que roda pelo mundo.

é a primeira vez que um congresso de meio de ano acontece na américa do sul.

em dezembro de 2000, quando 11 de setembro ainda era apenas uma data qualquer no calendário, participei do congresso anual de nova york.

naquela época e agora, os pensamentos que um congresso destes desperta guardam semelhança.

em 2000, lembro de ter voltado ao brasil certa que o caminho para o aperfeiçoamento do mercado de música clássica no nosso país passava pelo que os gringos, há muito, já vivenciam, que é a organização do setor com vistas a interesses comuns.

em 2009, a certeza só faz aumentar.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

silvio barbato, adeus

os músicos cariocas, os cariocas, o brasil e o mundo estamos estarrecidos com a tragédia aérea de 31 de maio que ceifou tantas vidas.

uma delas foi a do regente silvio barbato.

em meados dos anos 1990, quando vivamúsica! começava, conheci silvio. ele fazia uma especialização em chicago e, volta e meia, trocávamos email.

em 1996, ele foi capa da revista vivamúsica! ao lado de john neschling, que, na época, nem sonhava em assumir a osesp.



os anos se passaram, silvio voltou para o rio, assumiu o posto de regente-titular da orquestra sinfônica do theatro municipal. depois, assumiu a direção da orquestra sinfônica do teatro nacional em brasília.

ele era um homem movido a grandes ambições. lembro de um dia, quando voltávamos de um almoço na cinelândia, recém-indicado para o posto no municipal, ele apontou para a águia de ferro que abre as asas no teto do teatro e disse: "me sinto maior que ela".

em abril 2006, foi capa da revista "agenda vivamúsica!" com o diretor andré heller-lopes, quando fizeram a ópera "idomeneo".



após desligar-se das orquestras do rio e de brasília, ele esteve envolvido com
projetos especiais, como a ópera "o cientista", baseada na vida de oswaldo cruz; programas para o sesc e o ccbb em brasília; concertos na embaixada do brasil em roma; e, recentemente, um projeto chamado "trampa sinfônica", com banda de rock do distrito federal.

meses atrás, quando eu compilava dados para publicar os aniversário musicais do brasil em 2009 no anúário vivamúsica!, vi que silvio completaria 50 anos este ano. tentei algumas vezes falar com ele com vistas a checar a data para publicação. não consegui e publiquei a informação sem indicar o dia de nascimento. o do desaparecimento, nenhum de nós esquecerá.