quinta-feira, 31 de março de 2011

MEC FM: O crescimento da classe C e a demanda por clássicos

Áudio e texto de comentário veiculado na rádio MEC FM do Rio de Janeiro, em março/abril de 2011.



Uma das boas notícias econômicas e sociais dos últimos tempos aqui no Brasil foi o crescimento da classe C. Nosso país vive um momento especialmente bom e está prestes a atingir o menor nível de desigualdade de renda desde que os registros foram iniciados. Entre 2003 e 2009, cerca de 30 milhões de pessoas ingressaram na classe C, a chamada “nova classe média”. O total de brasileiros nesta faixa é hoje de 95 milhões, o que significa 50,5% da população. Ou seja, a maioria absoluta de nossos compatriotas compõem a classe C. Muito do olhar sobre a classe C vem do interesse em seu poder de compra, em sua possibilidade de decisão eleitoral.

No que diz respeito a poder de compra, claro que empresas de diversos setores querem e precisam se comunicar com a classe C. A agência de propaganda WMacCann, do publicitário Washington Olivetto, fez um estudo profundo para poder identificar os melhores caminhos para seus clientes apresentarem produtos para a classe C. Os números deste estudo em profundidade são quase tão impressionantes quanto ao tamanho dessa nova classe média. A pesquisa da agência de Washington Olivetto somou 5 mil horas convivência em familia, fez 4 mil horas de videos registrando o cotidiano delas, realizou 3 mil e setecentas entrevistas em profundidade, conversou com 163 especialistas e observadores de mudanças. Um estudo realmente de grande vulto. Li uma frase citada em artigo do economista Marcelo Neri, da Fundação Getúlio Vargas, ótima, que diz o seguinte: “É preciso não só dar os pobres aos mercados, mas dar o mercado aos pobres”.

Se os principais atores do cenário econômico estão prestando MUITA atenção a esta dita nova classe média, o que nós do setor cultural e mais especificamente da música clássica estamos fazendo neste sentido? Se o acesso da classe C ao crédito, aos produtos, à casa própria, à educação está na ordem do dia, como ficaria o correspondente acesso desse novo público recém-chegado ao mercado consumidor no circuito de concertos, por exemplo?

Será que algum gestor de orquestra pensa em desenvolver espetáculo para quem até ontem mal tinha condições de garantir o básico de sua existência mas agora tem condições de promover para si próprio e para a sua familia acesso a bens de consumo, inclusive culturais? E o que dizer de produtos como fascículos em bancas de jornal, por exemplo.Já pensou que interessante seria uma coleção de música clássica pensada exclusivamente para a classe C? Ou um canal de transmissão de músicas clássicas no rádio voltado para este novo público que chega sem qualquer conhecimento prévio e também sem qualquer preconceito? As possibilidades estão no ar, tomara que alguém se disponha logo a fazer.

Um comentário:

  1. Sem falar que a internet também está cada vez mais popular; e ela oferece inúmeras possibilidades para a popularização da música clássica.

    Agora mesmo, estou ouvindo, direto do Metropolitan Opera, a transmissão de Il Trovatore.

    Ouvi o primeiro ato pela Long Island University Radio; depois, migrei para a WQXR. Ambas com entradas da reportagem no local e comentaristas especializados. Uma beleza.

    Aqui no Brasil, temos a rádio MEC online, que me permite ouvir os seus comentários ao vivo, mesmo não morando no Rio.

    Bom final de semana, Heloisa.
    Abraço,
    Eliane

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