Áudio e texto de comentário veiculado na rádio MEC FM do Rio de Janeiro, em março/abril de 2011.
Em dezembro de 2010, o jornal O Globo publicou uma entrevista bem interessante com o escritor americano Nicholas Carr, também professor do conceituado MIT (Massachusetts Institute of Technology), sobre como a internet tem nos tornado pessoas distraídas e o que pode e não pode ser feito a este respeito. Quem conversou com o americano foi o jornalista Gilberto Scofield Jr. A tese central de Nicholas Carr é a seguinte: a plataforma multimídia que é a internet favorece mais à distração do que ao conhecimento, limitando seriamente nossa capacidade de atenção e foco. Óbvio que um cenário assim não favorece o aprendizado de jeito maneira. O último livro dele não havia sido lançado no Brasil quando eu gravei este comentário. Em português, o título seria algo como “Os superficiais, o que a internet tem feito com nossos cérebros”.
Na entrevista ao Globo, Nicholas Carr foi bem direto ao ponto. Disse: “Multimidia requer que a pessoa mude o tempo todo seu foco e, com isso,a habilidade de aprender se reduz. Ainternet não é desenhada por experts em educação, daí as constantes mudanças de foco. O modelo básico de das redes sociais, como o Facebook, não é feito com a ideia de otimizar a compreensao e o entendimento. É feito com a ideia de manter a visão grudada na tela em focos de conteúdos constantemente variados e atualizados.” E mais um naco do pensamento do americano Nicholas Carr: “Os aspectos básicos da tecnologia são esses: links, mecanismos de buscas, alertas, interrupções, multitarefas, multifuncionamento. Este sistema não nos encoraja nem nos da oportunidade para fazer coisas que necessitem de atenção mais profunda. Se você é constantemente interrompido, nunca consegue exercitar formas de pensamento mais focadas e atentas. Quando a mente presta atenção, pensa profundamente sobre algo, foca e se concentra....são ativados processos cognitivos como pensamento critico, memoria e algumas formas de criatividade.”
Li essa entrevista na época em que foi publicada e, desde então, fico cada vez mais convencida de que a música clássica tem um papel bem importante a cumprir nesses tempos de distração provocada pela internet. Nem precisar ser na forma do aprendizado formal de um instrumento, pois a gente já sabe há décadas que o aprendizado de música treina o cérebro para formas muito relevantes de raciocínio. Eu me refiro aqui à escuta pura e simples. Os clássicos requerem um tipo de concentração especial de escuta. Mesmo que você ouça fazendo outras coisas, como dirigindo, lendo, trabalhando ou mesmo arrumando a casa, você está conectado com a música de uma forma consciente e constante, com menos interrupções do que o frenético ir e vir dos hipertextos que tanto preocupam Nicholas Carr. E se ele estiver mesmo certo e o ato de prestar atenção e focar em algo efetivamente ativar processos como criatividade, então, viva a música clássica!
quinta-feira, 31 de março de 2011
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Boa noite, Heloisa,
ResponderExcluirEu concordo com a tese do professor do MIT.
Em um livro belíssimo, de teoria e crítica literária, chamado Nenhuma Paixão Desperdiçada (2001)George Steiner já alertava para o fato de que a atualidade, sobretudo virtual, é um universo de "trivialidades estridentes".
Segundo Steiner, esse universo concorre fortemente para deslocar a atenção. Em especial, ele contribui para minar a compreensão da literatura, e, até, o interesse por ela.
Não participo do Twitter, tampouco de redes sociais, e nem sequer tenho MSN. (Detesto pop ups estourando na minha tela, alertas sonoros e quetais.)
Entendo que um noticiário instântaneo, renovável em 140 caracteres; ou em pop ups, só pode ser útil como chamada de atenção para algo urgente. No mais, são meramente dispersivos.
Concordo com você também: a música clássica, e, a meu ver, a literatura igualmente, são antídotos poderosos para a dispersão que marca a atualidade.
Ouvir clássicos, assim como ler um livro, exige entrega, atenção.
Acho, porém, que as duas coisas juntas são perfeitamente compatíveis. Eu mesma estudo, leio e escrevo ouvindo música clássica, inclusive, pelas rádios online.
No filme Farinelli há uma personagem, uma mulher da nobreza, que ia à ópera, invariavelmente, levando um livro. Ela o lia durante todo o evento, debruçada no balcão de seu camarote.
A primeira vez que essa mulher desvia o olhar do livro, é quando, pela primeira vez, ouve Farinelli cantar. Acho essa a cena mais linda do filme.
Eu não levaria um livro para uma ópera, ou concerto, porque essas experiências, para mim, são também muito visuais. Mas compreendo a relação, feita no filme, entre as duas paixões, a musical e a literária.
Boa semana para você!
Eliane
Nossa muito interessante, como o o professor diz...o intuito´do face, twitter é deixar o usuario grudado com o foco, resumido.
ResponderExcluirVanessa Santos
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