Quem diz isso é a matéria de capa do Segundo Caderno do Jornal O Globo de hoje. Com o título "Uma nova era do rádio", a reportagem de Leonardo Lichote traça uma boa panorâmica do dial atual, especialmente no Rio de Janeiro.
Uma lista chamada "Dez boas razões para correr o dial" aponta no item "Música séria, linguagem leve" meu programa diário na rádio MEC FM, cujos roteiros tenho reproduzido aqui no blog.
A imagem abaixo traz a versão on-line da reportagem. Sou citada nas últimas linhas.
domingo, 9 de janeiro de 2011
terça-feira, 4 de janeiro de 2011
Meus boletins na MEC FM do Rio/ julho 2010
Estou publicando aqui no blog os textos dos comentários que faço diariamente na rádio MEC FM do Rio de Janeiro (98.9 ou www.radiomec.com.br/fm/). Eles vão ao ar sempre às 13h, no boletim "VivaMúsica! e o mundo dos clássicos, com Heloisa Fischer".
São crônicas curtas, sempre em torno de algum tema ligado à música clássica.
Como muitos ouvintes têm pedido pra receber os textos dos comentários, vou passar a publicar mensalmente aqui no blog. Mas, primeiro, é preciso recuperar o tempo perdido.
Eis os demais daquele mês de estreia (já publiquei outros em posts anteriores).
Ah, sim, meu espaço na MEC existe desde 2004, mas foi somente em 2010 que ganhou este formato de crônicas clássicas.
==================
Sentar-se no mesmo lugar & a novidade
Todo segmento cultural tem seus personagens anônimos, e o setor de música clássica não seria diferente.
Aqui no Rio de Janeiro, por exemplo, temos uma figura muito conhecida do público que frenquenta concertos. Um senhor que se chama Mariano Gonçalves e tem por habito, no final dos concertos, em vez de gritar "Bravo!", gritar "Maravilha!".
É indefectivel: terminou a musica, la vem o "Maravilha!' do Mariano. Daí, muitos o conhecerem como Mariano Maravilha.
Frequentador dos mais assiduos, Mariano Maravilha está em todas. Ele gosta de sentar na mesma cadeira na plateia do Theatro Municipal e fica amuado quando nao consegue assistir ao concerto de sua tradicional poltrona.
Interessante e estranho este hábito de se sentar sempre no mesmo lugar, seja em restaurante, sala de concertos, em uma igreja para participar da missa, em salas de cinema. Há quem procure marcar assentos em vôos sempre nas mesmas poltronas.
Temporadas de assinaturas têm muitos assinantes que há décadas sentam sempre na mesma poltrona.
A sensação de pisar em terreno conhecido é confortável, claro, faz nos sentirmos em casa. Mas essa postura também pode indicar conservadorismo, fechamento ao novo, indisposição para o inusitado.
Sabemos o quanto as plateias de música clássica tendem ao conservadorismo, em todo mundo.
No momento em que o público se abre para "sentar em outros lugares", no sentido abstrato da expressão, se abre para ouvir todo potencial de novidade que uma composição novissima ou mesmo antiga tem a oferecer a seus ouvidos.
==================
Volume ao vivo e volume gravado
Ouvir música clássica ao vivo é uma experiencia bem diferente de ouvir música clássica gravada, seja em CD, DVD ou mesmo pelo rádio.
A questão do volume, por exemplo.
O volume da música gravada pode ser aumentado ou diminuído à vontade do ouvinte. Um som mais grave ou mais agudo depende apenas de girar ou pressionar alguns botões. Os equipamentos periféricos de última geração, acoplados a um sistema de som ou a um home theatre, oferecem uma verdadeira avalanche sonora.
E o que dizer dos tocadores de mp3 em geral e de iPods em particular?
O compositor Livio Tragtemberg escreveu uma vez artigo que levantava justo esta questão do volume estrondoso que estas maquinetas possibilitam e os danos que causam não apenas ao aparelho auditivo, mas tambem à escuta de forma mais ampla.
Interessam aqui não os danos, mas as mudanças na escuta do concerto ao vivo.
Os novos ouvintes que se aproximarem da música clássica pelas gravações ou mesmo os novos ouvintes que não têm qualquer relação com clássicos e estão acostumados a ouvir música pop em alto e bom som demoram a se daptar à acústica de uma sala de concertos.
Dia desses, um desses neófitos nos clássicos mas amante de música eletrônica omentou comigo ter achado estranho ouvir a Orquestra Sinfônica Brasileira no Municipal do Rio. Era sua primeira vez em um concerto. Ele adorou, mas queria ter ouvido mais alto.
Um ponto estranho esse do som, mas relevante quando se considera a ampliação de plateias.
==================
Cadeia produtiva da música clássica
Todos nós que trabalhamos com música clássica desejamos a ampliação de público frequentador de concertos, comprador de música gravada, livros e dvds sobre o assunto. Quanto mais gente interessada - e minimamente informada, claro - melhor.
Melhor para músicos, organizadores de eventos, técnicos, produtores, bilheteiros, jornalistas, radialistas. E também para pipoqueiros, vendedores de bala, lanchonetes, administradores de estacionamento...
Sim, por que quem vai ao concerto (em sala fechada ou ao ar livre), quem vai a uma loja escolher um disco, um livro ou um dvd acaba também consomindo outros produtos e serviços.
O economista Luiz Carlos Prestes Filho realizou um estudo amplo, alguns anos atrás,
sobre a cadeira produtiva da música. Ele levantou números importantes para posicionar a atividade além da realização artística e colaborar para a percepção de suas diversas engrenagens econômicas, seu peso na geração de empregos e renda.
Quando Prestes realizava seus estudos, tive a oportunidade de disponibilizar para ele parte dos dados compilados por VivaMúsica!, que há mais de 15 anos vem acompanhando de perto o setor de clássicos no Brasil.
A música clássica ficou representada de alguma forma no estudo de Prestes, mas ela merece um estudo à parte de sua cadeia produtiva.
Nós que trabalhamos para oferecer a você, ouvinte, uma boa oferta de música clássica, nós precisamos ter nossos números, nos entender como um setor da economia que contribui não apenas para ampliar horizonte cultural do cidadão, mas também tem sua parcela de colaboração para o PIB do país.
Da próxima vez que você for assistir a um concerto ou a uma ópera, lembre-se que seus aplausos devem ir não apenas para os artistas no palco mas também para a multidão de gente que trabalhou para colocar aquele espetáculo de pé e também para quem colaborou que você soubesse que o concerto iria acontecer.
==================
Propaganda e emoção
Um profissional de propaganda me procurou em busca de informações sobre o segmento de música clássica. Sua agência tinha a conta de um realizador de concertos e cabia a ele definir as linhas de comunicação e a compra de publicitadade em mídia.
Este publicitário "novato" no mundo da música clássica estava boquiaberto em perceber que a maioria dos anúncios de concerto não estão ligados a um conceito de comportamento nem buscam estabelecer algum link emocional com consumidores.
"Propaganda é emoção", dizia ele. "Por que os anúncios de concerto são apenas informativos e não têm qualquer carga emotiva?", perguntava.
O publicitário tem razão, salvo raras execções os anúncios de música clássica respondem às perguntas onde? quando? quem? quanto?. Não são como propaganda, que busca colocar emoção o ato de comprar de um produto, no caso, ingresso um evento musical.
Isso não quer dizer que música clássica não desperte emoções...Muito pelo contrário, talvez seja um dos maiores provocadores de fortes emoções entre todas as mainifestações artísticas. Mas isso só sabe quem entra na sala de concerto: umas poucas centenas de pessoas.
E os milhares, quiça milhões, que estão do lado de fora? É a elas que propaganda deve se dirigir.
==================
MEC FM e o Caveirão
Os ouvintes que costumam passar muitas horas do dia sobre quatro rodas sabem bem como fica melhor dirigir quando se ouve música clássica.
Não quero aqui reduzir toda a complexidade da linguagem musical a uma simples trilha sonora calmante para o caos no trânsito. Mas, com música clássica, dirigir fica mesmo outra coisa.
Motoristas de taxi são personagens importantes para ampliar essa exposição à musica clássica no carro.
Descobri um motorista aqui no Rio chamado Wagner que sempre puxa conversa sobre música com os passageiros, ao som da MEC FM. Se o passageiro demonstra interesse, ele entrega um exemplar da Agenda VivaMúsica!, que pega na bilheteria do Municipal.
O Wagner tem esse nome por que os pais dele adoram o compositor alemão Richard Wagner.
Mas eu ja tive uma vivência em táxi não tão lúdica quanto a que o Wagner proporciona. Quando entrei, pedi que o motorista sintonizasse a MEC FM. De imediato, ele perguntou se aquilo era música clássica e se a emissora sempre tocava músicas assim.
Ao término da corrida, me contou que era policial militar e tinha dois empregos.
Além, do táxi, ele dirige o Caveirão, o carro blindado da polícia que causa terror nas favelas cariocas. Contou que passará a ouvir música clássica no caminho de volta pra casa, ao término das jornadas ao volante do caveirão, sempre tensas e pavorosas.
Pelo jeito, a música clássica entrou na vida daquele motorista e vai ajudar a torná-lo alguém mais humano. Se isso acontecer, nós que trabnalhsmos pela divulgacao dos clássicos podemos no ssentir com a missão cumprida.
==================
Clássicos & funk
O historiador Rubem César Fernandes, diretor executivo da ONG Viva Rio, já sugeriu promover o encontro do mundo do funk carioca com a música clássica. Ele foi mais especifico: sugeriu que o DJ Marlboro fosse, de alguma maneira, introduzido ao universo dos clássicos.
Marlboro foi precursor do movimento funk aqui no Rio e, desde o início, é protagonista do segmento. Tem programas, selo de discos, website, continua fazendo bailes funk pelo Rio, mas tambem está presente em clubes noturnos e toca em grandes festivais de música pop, no Brasil e no exterior.
Marlboro sabe da sua força de comunicação e a usa em eventos beneficentes. Já organizou "Baile do Material Escolar"; "Baile do Agasalho" e "Baile do Brinquedo".
É ótima a idéia de estabelecer pontes entre universos sonoros que, aparentemente, são tão bicudos que não se beijam. Em especial aqui no Rio de Janeiro, região do Brasil em que os extremos sociais convivem com impressionante facilidade.
O grau de complexidade de escuta do funk e da música clássica são muito distintos. Mas isso não quer dizer que quem ouve funk, que tem uma estrutura formal muito simples, esteja de antemao fechado para a música clássica ou para a ópera.
Apresentar ao DJ Marlboro a grande experiência que é ouvir uma sinfonia de Beethoven executada ao vivo, em sala de concerto, pode não dar em nada...mas também pode dar em algo novo.
Um "rap do Beethoven" não é exatamente o produto final desejável na aproximaçào entre o funk e os clássicos. Mas, quem sabe, se a Associação das Equipes de Som, que reúne os principais organizadores de bailes funk no Rio, tiver disponibilidade de oferecer a seus associados alguns ingressos para o Theatro Municipal, um novo universo sonoro se abra a esses decisores de segmento, que mobiliza milhões de jovens cariocas?
==================
Jargao musical & rabeta bat tail
Muito por acaso, certa vez caiu em minhas mãos um exemplar de uma revista de surf.
Me chamou atenção a enorme quantidade de textos com uma linguagem quase cifrada para quem não vivencia aquele universo. O estranhamento remeteu imediatamente ao nosso universo musical.
Será que, aos olhos e ouvidos de quem não está familiarizado com os clássicos, a maneira de falar sobre música clássica pode soar como jargão incompreensível?
Veja o caso da revista de surf. Legenda para a foto de uma praia aqui do Rio: "Leblon, tipo shorebreak de Waimea". Que patavinas quer dizer shorebreak?
Outro exemplo: um anúncio que me parecia ser de pranchas dizia: "Quadrilhas com quilhas de encaixe, rabeta bat tail". Rabeta o que??
Boiei mais que os surfistas a espera da melhor onda.
O editor daquela revista deve imaginar que todos seus leitores pegam onda desde criancinhas. Assim como muitas vezes me parece que quem comunica música clássica
imagina que a totalidade de seu público ouve Scriabin desde o berço e está bem familiarizado com o jargão musical.
Para quem ouve clássicos com frequência a expressão "vibrato desnecessário" é óbvia. Mas quem disse que o grande público sabe o que é vibrato? Certamente quem está comecando a ouvir música clássica não sabe bem do que se trata.
Se queremos mais gente ouvindo música clássica temos que simplificar o discurso. O desafio é esse, simplificar sem banalizar nem perder a essência.
Ah, sim, rabeta é a parte de trás da prancha e bat tail é o formato em asa de morcego.
==================
Números & assentos
Um dos problemas que ronda a música clássica no Brasil é a falta de números.
Já o cinema, por exemplo, faz muito bem feito o acompanhamento de seus negócios. Basta um filme estrear e logo na segunda-feira seguinte já está disponivel - e divulgado - o total de publico do final de semana somando todas as cidades de exibição.
O cinema trabalha muito bem os seus números. Na música clássica não é assim. Nas artes plásticas, no teatro, na MPB também não. Mas, os clássicos são nosso foco e nos interessam de forma especial.
Sempre me chamou a atenção a falta de números da música clássica, até por que os principais recursos de incentivo cultural no Brasil estào nas mãos de empresas patrocinadoras.
Se é o mercado que de certa forma dá as cartas, então há que se ter as ferramentas de negociação e de persuasão que o mercado compreende: números.
Se algum dia for feito um levantamento específico de cadeia produtiva da música clássica, imagino que se vá chegar a números supreendentes que demonstrarão a importância quantitativa dos clássicos na insústria cultural brasileria.
Acabei de fazer um levantamento númérico da oferta de música clássica aqui no Rio de janeiro a maio de 2010. Considerei todos os eventos musicais, a lotação de cada lugar onde o eventoocorreu e cheguei a um total de assentos disponiveis para ocupação.
Sabe qual o total de lugares? 118 mil.
Ou seja, de janeiro a maio de 2010, o Rio clássico disponibilizou 118 mil ingressos ao público. Quantos destes assentos estão ocupados? Isso só fazendo um estudo específico.
Uma oferta impressionante para quem insiste em acreditar que o Brasil é apenas o país do samba.
==================
Orquestra útil para sociedade
Nós que gostamos de música e muitas vezes frequentamos concertos, ouvimos rádio, estamos de alguma maneira sintonizados nesse universo, talvez tenhamos plena consciência do valor e da importância dos clássicos na rotina de uma pessoa.
Mas, e os milhões de moradores do Rio de Janeiro que não se envolvem diretamente com o circuito de concertos... será que este enorme grupo consegue reconhecer valor de se ter boa atividade sinfônica na cidade?
E para que serve mesmo uma orquestra? Para fazer concertos frequentados por quem
gosta... e... o que mais? Para muita coisa mais. Só que o tanto de coisa que uma orquestra pode fazer fica eclipsada pela temporada de concertos.
É dificil a sociedade ter uma percepção mais ampla se a própria orquestra se concentra na sua programação de eventos. E é natural que se concentre, mas as necessidades de interação com a sociedade sao bem mais amplas do que apresentar uma temporada de concertos.
Em que pode ser útil a música clássica na vida das pessoas? Esta mesma pergunta poderia se aplicar ao teatro ou ao cinema. Para que serve o teatro? Para que serve o cinema? Eles são úteis? Útil vem de utilizável, usado....se voce usa alguma coisa ela é útil.
Existe nos Estados Unidos uma entidade chamada Liga das Orquestras Amercianas, em atividade há mais de 60 anos. Uma das finalidades da Liga é ajudar as orquestras a reafirmarem seu papel de importância na sociedade. Eles estão muito avançados neste aspecto...até porque as próprias orquestras americanas buscam presença fora da sala de concertos.
Aqui no Brasil, ainda temos muito a fazer. Pensando positivo, que bom, pois se a atividade orquestral do país hoje passa por um período otimista, imagine o que pode acontecer quando a relação com a sociedade se ampliar. Há muita coisa boa por vir.
São crônicas curtas, sempre em torno de algum tema ligado à música clássica.
Como muitos ouvintes têm pedido pra receber os textos dos comentários, vou passar a publicar mensalmente aqui no blog. Mas, primeiro, é preciso recuperar o tempo perdido.
Eis os demais daquele mês de estreia (já publiquei outros em posts anteriores).
Ah, sim, meu espaço na MEC existe desde 2004, mas foi somente em 2010 que ganhou este formato de crônicas clássicas.
==================
Sentar-se no mesmo lugar & a novidade
Todo segmento cultural tem seus personagens anônimos, e o setor de música clássica não seria diferente.
Aqui no Rio de Janeiro, por exemplo, temos uma figura muito conhecida do público que frenquenta concertos. Um senhor que se chama Mariano Gonçalves e tem por habito, no final dos concertos, em vez de gritar "Bravo!", gritar "Maravilha!".
É indefectivel: terminou a musica, la vem o "Maravilha!' do Mariano. Daí, muitos o conhecerem como Mariano Maravilha.
Frequentador dos mais assiduos, Mariano Maravilha está em todas. Ele gosta de sentar na mesma cadeira na plateia do Theatro Municipal e fica amuado quando nao consegue assistir ao concerto de sua tradicional poltrona.
Interessante e estranho este hábito de se sentar sempre no mesmo lugar, seja em restaurante, sala de concertos, em uma igreja para participar da missa, em salas de cinema. Há quem procure marcar assentos em vôos sempre nas mesmas poltronas.
Temporadas de assinaturas têm muitos assinantes que há décadas sentam sempre na mesma poltrona.
A sensação de pisar em terreno conhecido é confortável, claro, faz nos sentirmos em casa. Mas essa postura também pode indicar conservadorismo, fechamento ao novo, indisposição para o inusitado.
Sabemos o quanto as plateias de música clássica tendem ao conservadorismo, em todo mundo.
No momento em que o público se abre para "sentar em outros lugares", no sentido abstrato da expressão, se abre para ouvir todo potencial de novidade que uma composição novissima ou mesmo antiga tem a oferecer a seus ouvidos.
==================
Volume ao vivo e volume gravado
Ouvir música clássica ao vivo é uma experiencia bem diferente de ouvir música clássica gravada, seja em CD, DVD ou mesmo pelo rádio.
A questão do volume, por exemplo.
O volume da música gravada pode ser aumentado ou diminuído à vontade do ouvinte. Um som mais grave ou mais agudo depende apenas de girar ou pressionar alguns botões. Os equipamentos periféricos de última geração, acoplados a um sistema de som ou a um home theatre, oferecem uma verdadeira avalanche sonora.
E o que dizer dos tocadores de mp3 em geral e de iPods em particular?
O compositor Livio Tragtemberg escreveu uma vez artigo que levantava justo esta questão do volume estrondoso que estas maquinetas possibilitam e os danos que causam não apenas ao aparelho auditivo, mas tambem à escuta de forma mais ampla.
Interessam aqui não os danos, mas as mudanças na escuta do concerto ao vivo.
Os novos ouvintes que se aproximarem da música clássica pelas gravações ou mesmo os novos ouvintes que não têm qualquer relação com clássicos e estão acostumados a ouvir música pop em alto e bom som demoram a se daptar à acústica de uma sala de concertos.
Dia desses, um desses neófitos nos clássicos mas amante de música eletrônica omentou comigo ter achado estranho ouvir a Orquestra Sinfônica Brasileira no Municipal do Rio. Era sua primeira vez em um concerto. Ele adorou, mas queria ter ouvido mais alto.
Um ponto estranho esse do som, mas relevante quando se considera a ampliação de plateias.
==================
Cadeia produtiva da música clássica
Todos nós que trabalhamos com música clássica desejamos a ampliação de público frequentador de concertos, comprador de música gravada, livros e dvds sobre o assunto. Quanto mais gente interessada - e minimamente informada, claro - melhor.
Melhor para músicos, organizadores de eventos, técnicos, produtores, bilheteiros, jornalistas, radialistas. E também para pipoqueiros, vendedores de bala, lanchonetes, administradores de estacionamento...
Sim, por que quem vai ao concerto (em sala fechada ou ao ar livre), quem vai a uma loja escolher um disco, um livro ou um dvd acaba também consomindo outros produtos e serviços.
O economista Luiz Carlos Prestes Filho realizou um estudo amplo, alguns anos atrás,
sobre a cadeira produtiva da música. Ele levantou números importantes para posicionar a atividade além da realização artística e colaborar para a percepção de suas diversas engrenagens econômicas, seu peso na geração de empregos e renda.
Quando Prestes realizava seus estudos, tive a oportunidade de disponibilizar para ele parte dos dados compilados por VivaMúsica!, que há mais de 15 anos vem acompanhando de perto o setor de clássicos no Brasil.
A música clássica ficou representada de alguma forma no estudo de Prestes, mas ela merece um estudo à parte de sua cadeia produtiva.
Nós que trabalhamos para oferecer a você, ouvinte, uma boa oferta de música clássica, nós precisamos ter nossos números, nos entender como um setor da economia que contribui não apenas para ampliar horizonte cultural do cidadão, mas também tem sua parcela de colaboração para o PIB do país.
Da próxima vez que você for assistir a um concerto ou a uma ópera, lembre-se que seus aplausos devem ir não apenas para os artistas no palco mas também para a multidão de gente que trabalhou para colocar aquele espetáculo de pé e também para quem colaborou que você soubesse que o concerto iria acontecer.
==================
Propaganda e emoção
Um profissional de propaganda me procurou em busca de informações sobre o segmento de música clássica. Sua agência tinha a conta de um realizador de concertos e cabia a ele definir as linhas de comunicação e a compra de publicitadade em mídia.
Este publicitário "novato" no mundo da música clássica estava boquiaberto em perceber que a maioria dos anúncios de concerto não estão ligados a um conceito de comportamento nem buscam estabelecer algum link emocional com consumidores.
"Propaganda é emoção", dizia ele. "Por que os anúncios de concerto são apenas informativos e não têm qualquer carga emotiva?", perguntava.
O publicitário tem razão, salvo raras execções os anúncios de música clássica respondem às perguntas onde? quando? quem? quanto?. Não são como propaganda, que busca colocar emoção o ato de comprar de um produto, no caso, ingresso um evento musical.
Isso não quer dizer que música clássica não desperte emoções...Muito pelo contrário, talvez seja um dos maiores provocadores de fortes emoções entre todas as mainifestações artísticas. Mas isso só sabe quem entra na sala de concerto: umas poucas centenas de pessoas.
E os milhares, quiça milhões, que estão do lado de fora? É a elas que propaganda deve se dirigir.
==================
MEC FM e o Caveirão
Os ouvintes que costumam passar muitas horas do dia sobre quatro rodas sabem bem como fica melhor dirigir quando se ouve música clássica.
Não quero aqui reduzir toda a complexidade da linguagem musical a uma simples trilha sonora calmante para o caos no trânsito. Mas, com música clássica, dirigir fica mesmo outra coisa.
Motoristas de taxi são personagens importantes para ampliar essa exposição à musica clássica no carro.
Descobri um motorista aqui no Rio chamado Wagner que sempre puxa conversa sobre música com os passageiros, ao som da MEC FM. Se o passageiro demonstra interesse, ele entrega um exemplar da Agenda VivaMúsica!, que pega na bilheteria do Municipal.
O Wagner tem esse nome por que os pais dele adoram o compositor alemão Richard Wagner.
Mas eu ja tive uma vivência em táxi não tão lúdica quanto a que o Wagner proporciona. Quando entrei, pedi que o motorista sintonizasse a MEC FM. De imediato, ele perguntou se aquilo era música clássica e se a emissora sempre tocava músicas assim.
Ao término da corrida, me contou que era policial militar e tinha dois empregos.
Além, do táxi, ele dirige o Caveirão, o carro blindado da polícia que causa terror nas favelas cariocas. Contou que passará a ouvir música clássica no caminho de volta pra casa, ao término das jornadas ao volante do caveirão, sempre tensas e pavorosas.
Pelo jeito, a música clássica entrou na vida daquele motorista e vai ajudar a torná-lo alguém mais humano. Se isso acontecer, nós que trabnalhsmos pela divulgacao dos clássicos podemos no ssentir com a missão cumprida.
==================
Clássicos & funk
O historiador Rubem César Fernandes, diretor executivo da ONG Viva Rio, já sugeriu promover o encontro do mundo do funk carioca com a música clássica. Ele foi mais especifico: sugeriu que o DJ Marlboro fosse, de alguma maneira, introduzido ao universo dos clássicos.
Marlboro foi precursor do movimento funk aqui no Rio e, desde o início, é protagonista do segmento. Tem programas, selo de discos, website, continua fazendo bailes funk pelo Rio, mas tambem está presente em clubes noturnos e toca em grandes festivais de música pop, no Brasil e no exterior.
Marlboro sabe da sua força de comunicação e a usa em eventos beneficentes. Já organizou "Baile do Material Escolar"; "Baile do Agasalho" e "Baile do Brinquedo".
É ótima a idéia de estabelecer pontes entre universos sonoros que, aparentemente, são tão bicudos que não se beijam. Em especial aqui no Rio de Janeiro, região do Brasil em que os extremos sociais convivem com impressionante facilidade.
O grau de complexidade de escuta do funk e da música clássica são muito distintos. Mas isso não quer dizer que quem ouve funk, que tem uma estrutura formal muito simples, esteja de antemao fechado para a música clássica ou para a ópera.
Apresentar ao DJ Marlboro a grande experiência que é ouvir uma sinfonia de Beethoven executada ao vivo, em sala de concerto, pode não dar em nada...mas também pode dar em algo novo.
Um "rap do Beethoven" não é exatamente o produto final desejável na aproximaçào entre o funk e os clássicos. Mas, quem sabe, se a Associação das Equipes de Som, que reúne os principais organizadores de bailes funk no Rio, tiver disponibilidade de oferecer a seus associados alguns ingressos para o Theatro Municipal, um novo universo sonoro se abra a esses decisores de segmento, que mobiliza milhões de jovens cariocas?
==================
Jargao musical & rabeta bat tail
Muito por acaso, certa vez caiu em minhas mãos um exemplar de uma revista de surf.
Me chamou atenção a enorme quantidade de textos com uma linguagem quase cifrada para quem não vivencia aquele universo. O estranhamento remeteu imediatamente ao nosso universo musical.
Será que, aos olhos e ouvidos de quem não está familiarizado com os clássicos, a maneira de falar sobre música clássica pode soar como jargão incompreensível?
Veja o caso da revista de surf. Legenda para a foto de uma praia aqui do Rio: "Leblon, tipo shorebreak de Waimea". Que patavinas quer dizer shorebreak?
Outro exemplo: um anúncio que me parecia ser de pranchas dizia: "Quadrilhas com quilhas de encaixe, rabeta bat tail". Rabeta o que??
Boiei mais que os surfistas a espera da melhor onda.
O editor daquela revista deve imaginar que todos seus leitores pegam onda desde criancinhas. Assim como muitas vezes me parece que quem comunica música clássica
imagina que a totalidade de seu público ouve Scriabin desde o berço e está bem familiarizado com o jargão musical.
Para quem ouve clássicos com frequência a expressão "vibrato desnecessário" é óbvia. Mas quem disse que o grande público sabe o que é vibrato? Certamente quem está comecando a ouvir música clássica não sabe bem do que se trata.
Se queremos mais gente ouvindo música clássica temos que simplificar o discurso. O desafio é esse, simplificar sem banalizar nem perder a essência.
Ah, sim, rabeta é a parte de trás da prancha e bat tail é o formato em asa de morcego.
==================
Números & assentos
Um dos problemas que ronda a música clássica no Brasil é a falta de números.
Já o cinema, por exemplo, faz muito bem feito o acompanhamento de seus negócios. Basta um filme estrear e logo na segunda-feira seguinte já está disponivel - e divulgado - o total de publico do final de semana somando todas as cidades de exibição.
O cinema trabalha muito bem os seus números. Na música clássica não é assim. Nas artes plásticas, no teatro, na MPB também não. Mas, os clássicos são nosso foco e nos interessam de forma especial.
Sempre me chamou a atenção a falta de números da música clássica, até por que os principais recursos de incentivo cultural no Brasil estào nas mãos de empresas patrocinadoras.
Se é o mercado que de certa forma dá as cartas, então há que se ter as ferramentas de negociação e de persuasão que o mercado compreende: números.
Se algum dia for feito um levantamento específico de cadeia produtiva da música clássica, imagino que se vá chegar a números supreendentes que demonstrarão a importância quantitativa dos clássicos na insústria cultural brasileria.
Acabei de fazer um levantamento númérico da oferta de música clássica aqui no Rio de janeiro a maio de 2010. Considerei todos os eventos musicais, a lotação de cada lugar onde o eventoocorreu e cheguei a um total de assentos disponiveis para ocupação.
Sabe qual o total de lugares? 118 mil.
Ou seja, de janeiro a maio de 2010, o Rio clássico disponibilizou 118 mil ingressos ao público. Quantos destes assentos estão ocupados? Isso só fazendo um estudo específico.
Uma oferta impressionante para quem insiste em acreditar que o Brasil é apenas o país do samba.
==================
Orquestra útil para sociedade
Nós que gostamos de música e muitas vezes frequentamos concertos, ouvimos rádio, estamos de alguma maneira sintonizados nesse universo, talvez tenhamos plena consciência do valor e da importância dos clássicos na rotina de uma pessoa.
Mas, e os milhões de moradores do Rio de Janeiro que não se envolvem diretamente com o circuito de concertos... será que este enorme grupo consegue reconhecer valor de se ter boa atividade sinfônica na cidade?
E para que serve mesmo uma orquestra? Para fazer concertos frequentados por quem
gosta... e... o que mais? Para muita coisa mais. Só que o tanto de coisa que uma orquestra pode fazer fica eclipsada pela temporada de concertos.
É dificil a sociedade ter uma percepção mais ampla se a própria orquestra se concentra na sua programação de eventos. E é natural que se concentre, mas as necessidades de interação com a sociedade sao bem mais amplas do que apresentar uma temporada de concertos.
Em que pode ser útil a música clássica na vida das pessoas? Esta mesma pergunta poderia se aplicar ao teatro ou ao cinema. Para que serve o teatro? Para que serve o cinema? Eles são úteis? Útil vem de utilizável, usado....se voce usa alguma coisa ela é útil.
Existe nos Estados Unidos uma entidade chamada Liga das Orquestras Amercianas, em atividade há mais de 60 anos. Uma das finalidades da Liga é ajudar as orquestras a reafirmarem seu papel de importância na sociedade. Eles estão muito avançados neste aspecto...até porque as próprias orquestras americanas buscam presença fora da sala de concertos.
Aqui no Brasil, ainda temos muito a fazer. Pensando positivo, que bom, pois se a atividade orquestral do país hoje passa por um período otimista, imagine o que pode acontecer quando a relação com a sociedade se ampliar. Há muita coisa boa por vir.
Assinar:
Postagens (Atom)