terça-feira, 13 de julho de 2010

a revista facebook e a morte de radegundis

já se vão quase 15 dias e ainda não aplacou em mim o choque da primeira morte próxima da qual tomei conhecimento pelo facebook.

choque pela morte em si, a perda artística e humana que ela representou e também - talvez principalmente - pelo por um certo "jeito facebook de ser e de reagir", que se tornou estranhamente claro a partir do episódio.

me refiro ao falecimento do trombonista radegundis feitosa, da paraíba, em um trágico acidente de carro no primeiro dia deste mês de julho.

estava lendo facebook, quando vi o primeiro aviso da morte. depois outro aviso, mais outro. um comentário, outro comentário, mais um comentário. muitos avisos e muitos comentários.

naquelas três ou quatro telas, só se falava do desaparecimento de radegundis.

até aí, era a comunidade artística manifestando sua dor.

mas e o intercalar de posts, comentados ou não, sobre os mais diversos assuntos? claro, nem todos meus amigos de FB são do meio musical clássico ou, mesmo os que são, quiseram externar seus sentimentos a partir da notícia da morte.

eu mesma preferi calar. dizer o que, diante do tamanho da brutalidade daquela perda?

o facebook é uma espécie de revista, com várias editorias. cada um de nós, ao escolher, aceitar e ocultar amigos, compõe o conteúdo de sua revista e, consequentemente, seleciona editorias & assuntos que vai ler.

se, naquele dia fatídico, na minha editoria "música clássica" (= os amigos que são desta área) havia um sentimento generalizado de perda, nas demais editorias da grande revista FB customizada para heloisa fischer a vida seguia normal.

um amigo que externava seu pesar com o falecimento era ladeado por alguém que avisava estar agora solteiro e por outro com uma piada engraçada sobre a copa do mundo. banalidades.

a variedade de momentos (interessantes ou não) compilados em uma única tela é das principais atrações do FB. gosto disso e já me acostumei a isso.

mas acostumar com a maneira rasa e rala que o ambiente facebook contagia assuntos de real profundidade e consistência....humm, com isso espero jamais me acostumar.